'Desafio do apagão': vídeos de brincadeira perigosa em escola de MG viralizam nas redes sociais
CASO OCORREU ENTRE ADOLESCENTES DE COLÉGIO MINEIRO E NÃO FOI REGISTRADO EM OUTROS LOCAIS DO ESTADO ATÉ O MOMENTO; MÉDICOS ALERTAM QUE MANOBRA NO AMBIENTE ESCOLAR PODE CAUSAR PROBLEMAS SÉRIOS
Circulam nas redes sociais vídeos de crianças e adolescentes induzindo o desmaio em colegas em uma brincadeira que ficou conhecida como "Blackout Challenge", ou "desafio do apagão". As filmagens que viralizaram nos últimos dias mostram estudantes fazendo uma manobra de sufocamento em outros alunos. Médicos consultados pelo Verifica alertam que o jogo é perigoso, podendo levar a problemas graves e até mesmo fatais.
Usuários e páginas na internet compartilharam vídeos de alunos de uma escola na cidade de Araxá, em Minas Gerais, apertando o tórax de colegas, que logo depois caem no chão como se estivessem desmaiando. Os conteúdos somam centenas de visualizações nas plataformas - as postagens afirmam que se trata de uma "nova onda" que está se espalhando no País, assustando pais e responsáveis com os riscos da prática.
Procurada pela reportagem, a Rede Salesianos, responsável pelo colégio dos estudantes que aparecem nas gravações, informou que os casos ocorreram em 26 de maio e no mesmo dia foram tomadas medidas disciplinares para interrompê-los. Segundo a instituição, os vídeos tiveram divulgação massiva, agravando o sofrimento das famílias e dos próprios jovens.
O Verifica também consultou a Secretaria de Educação de Minas Gerais, que informou que o episódio ocorreu na rede privada e que não houve registro semelhante em escolas da rede estadual. A Polícia Civil do Estado disse que, até o momento, não foram localizadas ocorrências relacionadas.
A Secretaria de Educação de São Paulo também não registrou casos ou eventos generalizados do desafio neste ano nas instituições escolares. Já a Secretaria de Segurança Pública do Estado informou que não tem levantamento sobre esse tipo de situação.
O desafio circula há anos na internet e gerou processos nos Estados Unidos contra empresas de tecnologia, devido ao sufocamento de jovens após o consumo de vídeos que ensinam o jogo. Em 2023, uma menina de 12 anos faleceu na Argentina por um autossufocamento supostamente relacionado ao desafio.
Devido à repercussão do problema, o TikTok precisou inserir uma mensagem de prevenção contra desafios nocivos na busca por "Blackout Challenge" em sua rede social.
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Médicos alertam para os perigos do desafio
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) avaliou os vídeos virais e afirmou que a aplicação de uma pressão no tórax intencionalmente e de maneira prolongada em pessoas conscientes é extremamente perigosa e pode desencadear eventos fatais. Ao Verifica, a instituição enfatizou que "casos de desmaio não devem ser banalizados nem tratados como entretenimento".
O professor Charles Simão Filho, cardiologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, apontou que se trata de uma "brincadeira estúpida" que pode levar a problemas sérios, como traumas, fraturas, quedas e casos mais graves de sequelas em órgãos. Segundo ele, o desafio pode ser muito perigoso, principalmente para crianças mais frágeis ou que tenham uma doença prévia, como arritmia cardíaca.
O cardiologista William Nazima, especialista da SBC, frisou que as manobras feitas por crianças e adolescentes podem levar à perda da consciência, ou desmaio, devido à diminuição do fluxo sanguíneo ao cérebro. Além disso, a pressão no tórax também pode gerar um estímulo exagerado ao nervo vago, que regula funções no corpo como a frequência cardíaca e a pressão arterial.
"A manipulação torácica, especialmente em pessoas predispostas, pode estimular arritmias graves, como taquicardias ou fibrilações, que podem não se reverter espontaneamente", disse William. O médico frisou que, em situações extremas, a manobra pode provocar uma parada cardíaca, quadro potencialmente fatal caso o indivíduo não receba atendimento médico imediato.
A nota da SBC orienta que tais brincadeiras devem ser abolidas do ambiente escolar e que "pais, responsáveis e escolas promovam conversas educativas sobre os riscos, incentivando a denúncia e prevenção desse tipo de conduta".
