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Política

Psol elege dois prefeitos e mira 2016 'sem fazer concessões'

31 out 2012 - 08h00
(atualizado às 08h07)
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Henrique Medeiros
Ricardo Santos
Direto de São Paulo

Fundado em 2004 por ex-petistas insatisfeitos com o governo Lula, o Psol obteve resultados relevantes e inéditos nesta eleição. Ao lado do PSD, pela primeira vez a legenda socialista conseguiu eleger candidatos para cargos majoritários, nas prefeituras de Itaocara (RJ) e Macapá (AP) - reflexo das atuações do deputado estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ), candidato derrotado à prefeitura do Rio de Janeiro, e do apoio do senador Randofe Rodrigues (Psol-AP) ao prefeito eleito na capital amapaense, Clécio Luís (Psol).

Clécio Luiz será o primeiro prefeito do Psol em uma capital
Clécio Luiz será o primeiro prefeito do Psol em uma capital
Foto: Emerson Renon / Especial para Terra

O Psol ainda conseguiu eleger 49 vereadores, 21 deles em capitais. Em outras localidades, a sigla obteve resultados relevantes, como o desempenho de Freixo no Rio, que conquistou 28,5% dos votos válidos no primeiro turno, e a votação expressiva do vereador Pedro Ruas em Porto Alegre (RS), reeleito com 14.610 votos, a maior votação da capital gaúcha.

No último congresso do partido, conta o senador Randolfe Rodrigues, foram definidas três prioridades: Rio de Janeiro, Belém e Macapá. Apesar de ter conseguido apenas uma delas, o parlamentar considera o resultado geral positivo. "A campanha de Marcelo (Freixo, no Rio) recuperou a vontade e a graça de fazer política. Mobilizou um contingente de milhares de jovens para participar da política, uma coisa que renova, oxigena a política. Quanto às outras capitais, conquistamos somente Macapá, mas acho que a meta foi mais que alcançada", afirmou ele.

Para o presidente nacional do Psol, deputado federal Ivan Valente, o desempenho da legenda nas urnas é reflexo do desejo de mudança da população e o partido se firma aos poucos como uma opção aos partidos de esquerda. "É um partido jovem, com pouco tempo de televisão e que defende o fim do financiamento (de empresas a campanhas eleitorais). Eu diria que o Psol tem hoje grande espaço na esquerda, deixado por partidos que fazem parte da base governista. O Psol está credenciado para capitalizar e criar volume", afirmou o deputado.

Crescimento e concessões

Comparado com a primeira eleição do PT em 1982, Valente rechaça a ideia que o partido cresça aos mesmos moldes que a sigla criada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E cita dois eventos para o crescimento petista ao longo da década de 80: o governo militar (e o desejo popular de mudança) e o lulismo.

Já para Marcelo Freixo, que embora tenha obtido 28% dos votos cariocas não conseguiu ir ao segundo turno, a eleição deste ano ainda é um pequeno passo para o partido. Ele visualiza que o grande momento do Psol será em 2016 e diz não crer na possibilidade de o partido conseguir eleger algum governador em 2014.

"O partido tem que se organizar para essa disputa. Não é provável que o Psol ganhe governo de Estado. É importante que o Psol dê um passo de cada vez. O grande passo é 2016. Para isso, precisamos ampliar as bancadas estaduais e federais em 2014", enfatizou Freixo.

O senador Randolfe Rodrigues, por sua vez, projeta um cenário mais otimista, e crê que o acúmulo de 2012 vá se refletir no futuro próximo. "Chegaremos em 2015 com uma bancada maior na Câmara dos Deputados e eu espero ter companheiros aqui no Senado", afirmou.

Com o aumento da participação política da sigla, crescem também a necessidade de alianças e de entendimentos com outros partidos - o que se traduz muitas vezes em concessões programáticas. Por pertencerem a um partido ainda pequeno, os candidatos do Psol costumam atacar os adversários por falta de "fidelidade" a um programa de governo ou à própria ideologia do partido. O crescimento do Psol e as alianças decorrentes, garante o senador, não atrapalharão sua "vocação".

"A vocação do Psol é ser um partido de esquerda, democrático, socialista e de massa. Aliança é da natureza da política. Eu sigo a máxima de que tem que ter firmeza de princípios e flexibilidade na prática. O Psol tem muito claro onde quer chegar, e está cumprindo o que se propôs", afirmou ele. "Diziam quando eu fui eleito senador que eu ia fazer concessões. Eu não curvei coluna um milímetro diferente do perfil programático que estabelecemos. É perfeitamente possível ganhar, ter alianças, mas ter fidelidade programática."

Macapá x Belém

A vitória do Psol em Macapá pegou muitos de surpresa. Em especial, pelo partido disputar contra o atual prefeito da cidade, Roberto Góes (PDT). Contudo, o deputado Freixo afirmou que o partido tinha boas expectativas sobre a vitória de Clécio Luís, que foi eleito com 50,5% dos votos. "Existia uma expectativa muito boa em Macapá. O Clécio não tinha a experiência, mas teve o apoio do Randolfe".

Do outro lado da balança, está a derrota em Belém, pelo ex-prefeito (então no PT) Edmilson Rodrigues. Com real chance de voltar ao cargo, Rodrigues foi derrotado por Zenaldo Coutinho (PSDB) pelo placar percentual de 56,6% a 43,39%. "A gente sabia desde o início a necessidade de Belém. Tinha uma máquina pública a favor do Coutinho. Edmilson já foi prefeito em Belém duas vezes, a população gosta dele, mas a diferença na estrutura da campanha era muito grande".

Mesmo com as derrotas, Valente resumiu a participação do Psol como um credenciamento do partido ante à polarização partidária nacional entre PT e PSDB. E citou as votações, ainda que derrotadas, de Marcelo Freixo e Elson Pereira, em Florianópolis, como bons exemplos nas urnas, o que credencia o partido a crescer como alternativa política de esquerda.

Boas gestões dos prefeitos socialistas, diz Randolfe Rodrigues, podem diminuir o "preconceito" que têm eleitores que acham o partido muito radical ou inexperiente. Além disso, o aumento da presença do Psol pode trazer muitos políticos insatisfeitos de outros partidos. Essa foi a estratégia do PSD, que hoje tem a quarta maior bancada na Câmara dos Deputados - embora o senador abomine a comparação. "Nosso perfil é completamente antagônico", diz ele.

Fonte: Terra
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