Lula pode se beneficiar da anistia a Bolsonaro em disputa eleitoral; saiba motivo
Agora, sem conseguir embalar seu terceiro mandato com entregas expressivas ou projetos de forte apelo popular, Lula vê na anistia a Jair Bolsonaro um caminho para reativar o sentimento de urgência que mobilizou o eleitorado progressista dois anos atrás.
Em um cenário político instável e marcado por baixa aprovação popular, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta reorganizar sua base e reconstruir uma narrativa eleitoral para 2026. Publicamente, ele afirma ser contrário à anistia a Jair Bolsonaro, mas, politicamente, essa pode ser justamente a peça que faltava para reviver sua campanha.
Durante visita à comunidade Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, nesta quinta-feira (5), Lula voltou a criticar a possível anistia ao ex-presidente. Em tom de alerta à militância, declarou:
"Outra coisa que nós temos que saber, se for votar no Congresso, nós corremos o risco da anistia. O Congresso, vocês sabem, não é um Congresso eleito pela periferia (...). A extrema-direita tem muita força ainda. É uma batalha que tem que ser feita também pelo povo."
Apesar da contundência no discurso, analistas políticos ouvidos por veículos como Crusoé e O Antagonista avaliam que, nos bastidores, o governo enxerga a anistia a Jair Bolsonaro como uma oportunidade estratégica. Com a volta do adversário ao jogo, Lula retoma seu maior trunfo eleitoral: a polarização.
Polarização: o campo onde Lula se sente em casa
Desde a redemocratização, Lula se especializou em construir campanhas em torno de antagonistas claros. Foi assim com Collor, Fernando Henrique, Serra, Alckmin e, nos últimos ciclos, com o próprio Bolsonaro. Nas eleições de 2022, esse embate direto com a figura do ex-presidente permitiu ao petista vencer por margem estreita, apostando em um discurso de "salvador da democracia".
Agora, sem conseguir embalar seu terceiro mandato com entregas expressivas ou projetos de forte apelo popular, Lula vê na anistia a Jair Bolsonaro um caminho para reativar o sentimento de urgência que mobilizou o eleitorado progressista dois anos atrás.
"Com Bolsonaro de volta ao páreo, Lula reencontra um inimigo conhecido e tem a chance de repetir a fórmula que o levou ao Planalto em 2022: o medo do autoritarismo versus a defesa da democracia", avalia o cientista político Maurício Santoro.
Governo sem marca, popularidade em queda
Mesmo com políticas como o programa Pé-de-Meia e a distribuição massiva de botijões de gás, o governo Lula tem patinado para construir uma identidade própria neste terceiro mandato. A avaliação negativa do governo cresceu nas últimas pesquisas, enquanto a aprovação segue estagnada.
Além disso, erros de comunicação, embates institucionais e o desgaste de aliados — como o caso das sanções americanas ao ministro Alexandre de Moraes — colocaram o governo sob pressão. Nesse cenário, a figura de Bolsonaro livre para concorrer em 2026 pode funcionar como o fator externo capaz de reconfigurar o debate eleitoral e unir novamente os eleitores de centro e esquerda em torno de Lula.
A anistia que pode salvar os dois lados
Embora Lula siga dizendo ser contrário à medida, a anistia a Jair Bolsonaro tem crescido no Congresso Nacional. O presidente sabe que, se o ex-capitão for anistiado, sua volta ao jogo obrigará o Brasil a reeditar o velho confronto eleitoral de extremos. E isso pode ser tudo que Lula precisa para reavivar sua base.
Para o eleitor, a equação será a mesma: entre um governo com problemas, mas democrático, e a volta de um líder associado a discursos golpistas, qual será a escolha?
É essa dúvida que pode, ironicamente, transformar a anistia a Jair Bolsonaro em uma das principais apostas de Lula para 2026 — mesmo que ele jamais a admita publicamente.