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Lava Jato

Procurador está "conosco", diz delator da J&F sobre Miller

5 set 2017 - 19h04
(atualizado às 19h21)
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Empresário Joesley Batista, dono da JBS, deixa a sede da Superintendência da Polícia Federal após prestar depoimento
Empresário Joesley Batista, dono da JBS, deixa a sede da Superintendência da Polícia Federal após prestar depoimento
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O diretor da J&F Ricardo Saud demonstrou ao dono da holding Joesley Batista --no áudio de quatro horas de conversa cuja existência foi revelada na segunda-feira-- confiança na relação que havia construído com o procurador Marcelo Miller, integrante do grupo da Lava Jato da Procuradoria-Geral da República, hoje sob suspeita de ter vazado informações do órgão para os executivos do grupo.

Em uma das passagens, Joesley Batista contou a Saud que Miller havia mandado uma "mensagem cumprida" para o então diretor jurídico do grupo, Francisco de Assis e Silva, tentando justificar a atuação do Ministério Público Federal na operação Carne Fraca, que envolveu a JBS --uma das empresas da controladora e alvo da ação. A gravação teria sido realizada em 17 de março, dia que a operação fora deflagrada.

"Eu sei que vocês hoje devem estar decepcionados e tal porque vocês sabem que o Ministério Público a gente não controla tudo", relatou Joesley na conversa repassada por Francisco de Assis. "Ele (o procurador) está conosco", respondeu Ricardo Saud, segundo áudio divulgado pelo site do jornal O Globo.

Na segunda-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot anunciou que pediu a instauração de um procedimento de revisão da delação premiada dos três executivos da J&F por terem omitido crimes da colaboração premiada. Os benefícios concedidos a eles --a imunidade penal-- poderão ser anulados.

Os três e Miller terão de depor nesse procedimento. Miller agora também é alvo de uma investigação na Procuradoria da República no Distrito Federal.

O áudio constava da documentação apresentada por executivos da J&F na quinta-feira passada, que era o prazo final original concedido para complementar as delações premiadas --naquele mesmo dia, houve uma extensão em dois meses para esse acréscimo. A conversa foi encontrada por uma procuradora que atua no gabinete de Janot no domingo --quando a equipe fazia a revisão da nova papelada-- em meio ao anexo da delação que citava o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).

Na conversa, Ricardo Saud afirmou que um "amigo comum" entre Miller e Janot era quem informava de assuntos de interesse da empresa. O então procurador da República só deixaria oficialmente a carreira em abril, no mês seguinte ao diálogo, e logo em seguida tornou-se sócio de um escritório de advocacia que discutiu os termos da leniência da J&F com o Ministério Público Federal (MPF).

Em várias ocasiões, Joesley Batista menciona uma peculiaridade, a de que Miller supostamente iria para o "banheiro" a fim de repassar informações confidenciais da PGR para executivos do grupo. O acordo de delação só foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em maio.

Em um momento, Saud disse que Miller iria participar de um escritório de advocacia e que, quando Janot deixasse o comando do MPF, iria se aposentar e se juntar a ele numa banca de um "tal de Cristian" --ele seria o "amigo em comum".

Por meio da assessoria da PGR, Janot esclareceu que jamais aceitou convite para integrar qualquer escritório de advocacia. Ao deixar a chefia do Ministério Público da União, Janot manterá o cargo de subprocurador-geral da República. Depois que se aposentar e cumprir três anos de quarentena, pretende atuar na iniciativa privada, especialmente na área de combate à corrupção em compliance, e publicar livros sobre sua experiência na PGR.

Mais cedo, em sua despedida no comando da reunião do Conselho Superior do MPF, o procurador-geral disse que não agiu por "coragem", mas sim por "medo" de decepcionar a instituição.

Presos

A conversa entre os Saud e Joesley cita a presidente do STF, Cármen Lúcia, e os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, nenhum deles sendo alvo de comentário indicativo de qualquer atitude suspeita. Há ainda uma menção em que eles pretendiam envolver ministros do Supremo na colaboração, a partir de um contato com o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, do PT.

Em tom descontraído na maior parte do tempo, tendo menções até a prostituição, Joesley garantiu a Saud que ninguém iria para a cadeia ao final do processo de delação.

"Primeira coisa, eu não vou ser preso, diretor não vai ser preso. Ninguém vai ser preso", disse Joesley, que pede para Saud passar esse recado para Marcelo Miller.

Ao chefe, Saud chegou a comparar que a colaboração da J&F seria a maior de todas. "A nossa delação é a maior da história, não tem nada de Odebrecht", disse.

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