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Jornalistas usam gifs e memes para desburocratizar política

MemeNews surgiu em 2018 como um esforço para "combater a desinformação, sem ser de uma maneira chata e burocrática".

12 nov 2018 - 09h00
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Uma newsletter que trata de temas políticos e jurídicos de forma leve, para atrair a atenção de leitores que não consumem tais assuntos normalmente. Essa é a proposta do MemeNews, projeto lançado em 2018 por um grupo de jornalistas que utiliza gifs, memes e gírias da internet para facilitar o entendimento do juridiquês burocrático para leigos.

Além disso, a newsletter também disponibiliza os canais de contato direto dos envolvidos nas notícias para que os leitores se engajem, se quiserem. Por exemplo, a discussão sobre o aumento do salário dos ministros do STF foi apresentada dessa maneira na edição de quinta-feira (8):

Nas mãos do Michel

Foto: MemeNews

Por 41 votos a 16 (com uma abstenção), o Senado aprovou o aumento do salário dos ministros do STF. Os magistrados, que hoje ganham módicos R$ 33,7 mil, vão passar a ganhar R$ 39,2 mil, um aumento de 16%. Para dar uma ideia, o valor do aumento é maior que a renda de 90% da população. O aumento gera um efeito cascata, porque o salário dos ministros do STF serve de parâmetro para o teto do funcionalismo público. Resultado: previsão de R$ 4 bilhões a mais em despesas públicas. Agora o aumento depende apenas da sanção do presidente, que parece apoiar a ideia. Mas como estamos passando por uma grave crise fiscal, fica aqui o nosso apelo. Veta, Temer!

Quer mandar seu apelo para o presidente?

https://www.facebook.com/MichelTemer/

https://twitter.com/MichelTemer

Foto: MemeNews

De acordo com um dos fundadores do MemeNews, Afonso Cappellaro, que também é roteirista do Greg News, da HBO, um dos objetivos da newsletter é “educar e dar o ferramental para as pessoas desenvolverem uma cultura de checagem e balanços própria”.

As eleições de 2018 concretizaram a tendência dos políticos de utilizarem as redes sociais para se comunicarem diretamente com os eleitores, além de uma descredibilização da imprensa tradicional.

Cappellaro, que atua como editor de memes da newsletter, acredita que “a reflexão e produção jornalística seja essencial nesse momento, não só para fiscalizar e cobrar os poderes (como sempre foi o papel essencial do jornalismo) mas também para combater a desinformação”.

Mas de onde surgiu a ideia de utilizar os memes para tratar de assuntos políticos sérios? Os idealizadores se reuniram em um evento que discutia projetos que unissem humor e mudança social.

“Queríamos achar uma maneira mais palatável de tratar assuntos políticos e jurídicos, que muitas vezes ficam soterrados embaixo de uma linguagem oficial, burocrática, que afasta as pessoas. Como estudiosos, amantes e usuários de memes achamos que esse era uma ferramenta promissora”, conta Cappellaro.

Os integrantes do MemeNews, que hoje são seis jornalistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília que contam com o apoio da ONG Conectas Direitos Humanos, separam pautas que consideram interessantes no início do dia e produzem as notas para a newsletter a partir disso, variando a forma do material também nas redes sociais.

“Fazemos uma newsletter que mistura ativismo e jornalismo. Se o Banco Central sobe a taxa de juros, isso não necessariamente nos interessa. Mas se o Senado aprova um aumento para os ministros do STF - como ocorreu hoje, do nada, podendo provocar um custo extra de 6 bilhões de reais para o próximo ano -, isso nos interessa”, resume Cappellaro.

“Procuramos escolher pautas que representem lutas de minorias, ou que possam resultar em algum tipo de pressão pública (tentamos noticiar sempre a votação de projetos de lei controversos, colocando emails dos deputados, para que o leitor possa fazer sua parte)”, diz Cappellaro.

O projeto, que funcionou entre março e agosto por meio de um financiamento da Open Society Foundations, volta ao ar em novembro com a mesma proposta e mantendo o tom, após o período eleitoral oficial.

Para o editor de memes, a primeira fase do projeto pode ser considerada um sucesso, com um bom feedback dos assinantes. “Houve uma recepção positiva ao fato de darmos muitas vezes os caminhos de engajamento para determinados assuntos (seja os emails de deputados, senadores e quaisquer outros representantes, caminhos para se assinar petições ou outras ações), o que tira uma sensação de impotência perante os fatos reportados”, finaliza.

Fonte: Redação Terra
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