Deputado aliado de Hugo Motta é alvo da Polícia Federal em operação sobre desvios
A apuração ocorre no âmbito da Operação Fames-19, que mira fraudes em contratos relacionados à compra e distribuição de cestas básicas e frangos congelados durante o período da pandemia de Covid-19.
A Polícia Federal investiga o deputado federal Ricardo Ayres (Republicanos-TO) por suposto envolvimento em um esquema de desvio de recursos públicos no estado do Tocantins.
A apuração ocorre no âmbito da Operação Fames-19, que mira fraudes em contratos relacionados à compra e distribuição de cestas básicas e frangos congelados durante o período da pandemia de Covid-19. O parlamentar é aliado direto do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A investigação identificou indícios de irregularidades envolvendo repasses milionários feitos por Ayres enquanto exercia o cargo de deputado estadual. Segundo a PF, os pagamentos totalizam R$ 1.665.000,00 para a empresa Médio Norte Varejista Ltda, além de R$ 1.199.952,00 destinados à empresa Mercado das Carnes Eireli.
Nome de Ayres aparece em notas fiscais e planilhas de controle
Durante as diligências, os agentes da Polícia Federal localizaram o nome de Ricardo Ayres manuscrito em notas fiscais emitidas pela Médio Norte Varejista Ltda, empresa apontada como peça central no esquema. Segundo os investigadores, a empresa teria sido utilizada para formalizar contratos de fornecimento de cestas básicas que, de fato, nunca existiram.
O documento também liga a empresa a Taciano Darcles Santana, assessor especial do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), e a Paulo César Lustosa Limeira, identificado como intermediário nas negociações.
Além disso, os agentes localizaram planilhas de controle de pagamentos que indicam os repasses feitos por Ayres, reforçando os indícios da participação dele na articulação dos contratos.
PF cumpre mandado de busca e apreensão em apartamento funcional
Com autorização do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a PF cumpriu mandado de busca e apreensão no apartamento funcional do parlamentar em Brasília. Os agentes recolheram o celular do deputado para análise do conteúdo. A ação ocorreu no mesmo dia em que a operação teve sua nova fase deflagrada, com a mobilização de mais de 200 agentes federais em diferentes cidades do Tocantins e do Distrito Federal.
A Fames-19 mira o desvio de recursos públicos destinados à assistência social em meio à pandemia. As verbas investigadas têm origem em fontes diversas, incluindo emendas parlamentares. A PF estima que o prejuízo aos cofres públicos ultrapasse R$ 73 milhões. Ao todo, foram pagos mais de R$ 97 milhões em contratos para aquisição de cestas e frangos congelados.
Governador afastado e primeira-dama sob investigação
Além do deputado Ricardo Ayres, a operação também alcança o governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, afastado do cargo por decisão do STJ por 180 dias. A Polícia Federal aponta que ele e a primeira-dama, Karynne Sotero, tiveram papel ativo no suposto esquema. Segundo a investigação, fotos falsas foram utilizadas para simular entregas de alimentos à população, e a atuação da primeira-dama teria tido "papel de destaque".
Wanderlei Barbosa afirma que considera a decisão precipitada e promete acionar a Justiça para tentar retomar o cargo. Em nota, disse estar à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos.
Defesa de Ayres diz que repasse foi institucional
O deputado federal Ricardo Ayres divulgou nota em que afirma ter recebido "com serenidade" a notícia da operação. Ele destaca que sua citação ocorre por ter exercido o mandato de deputado estadual na época dos fatos apurados. A defesa do parlamentar argumenta que, após o repasse da emenda, a responsabilidade sobre a contratação das empresas e a entrega das cestas era exclusivamente do governo do Tocantins.
"Ressalto que não tenho qualquer relação com os atos apurados e que minha citação decorre apenas da condição de parlamentar naquele período", afirma Ayres na nota, acrescentando que está à disposição para colaborar com as investigações e que respeita as instituições envolvidas no processo.
Segundo a PF, os valores desviados teriam sido ocultados por meio de compras de gado, construção de imóveis de alto padrão e pagamento de despesas pessoais. Os contratos suspeitos ocorreram entre 2020 e 2021, período em que o estado enfrentava o pico da crise sanitária provocada pela Covid-19. A operação segue sob sigilo e tramita no Superior Tribunal de Justiça.