COLUNA | Ao acenar para Lula, Trump deixa a direita do Brasil sem pai
No momento, o sentimento predominante entre bolsonaristas é de incredulidade e até traição
O cenário político vive um momento curioso. Ao acenar publicamente para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Donald Trump parece iniciar um movimento de distanciamento do bolsonarismo, que por anos foi sua principal referência de afinidade política no país. Nos últimos dias, sinais de aproximação entre os dois líderes passaram a circular com força, inclusive a declaração de Lula de que a retirada da aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, teria sido resultado de uma conversa direta com o presidente norte-americano.
Nos bastidores, a leitura é de que "pintou uma química" entre Trump e Lula, algo que pode indicar uma maior aproximação entre os dois países por meio de seus presidentes. Não se trata, ao menos por ora, de uma aliança consolidada, mas de gestos que quebram a expectativa de antagonismo automático entre Trump e o atual governo brasileiro. Como toda movimentação diplomática, o alcance real desse aceno só poderá ser compreendido com o passar do tempo.
Enquanto isso, quem parece ter sido pega de surpresa é a direita bolsonarista. Para esse grupo, Trump era visto quase como uma extensão de Jair Bolsonaro no cenário internacional (ou então Bolsonaro seria o "Trump brasileiro"). A recente postura do presidente norte-americano, no entanto, deixa cada vez mais evidente que Trump é Trump, e Bolsonaro é Bolsonaro. Mesmo com afinidades ideológicas, ambos nunca estiveram exatamente no mesmo projeto político.
Esse momento pode representar uma virada de chave para parte da base bolsonarista. Embora a maioria deva seguir fiel ao clã Bolsonaro, independentemente do contexto, há uma parcela que pode interpretar a aproximação com Lula como um sinal de desgaste com Trump para com Bolsonaro. Em outras palavras, a base bolsonarista fiel deve seguir fiel, mas outra parcela pode ver a situação como sinal para se afastar do Clã Bolsonaro. No momento, o sentimento predominante entre bolsonaristas é de incredulidade e até traição. O que surgirá desse abalo interno na direita brasileira, no entanto, é algo que apenas o tempo será capaz de revelar.