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Política

PR: associação exalta general que apoiou intervenção militar

Entidade é a mesma que propôs, em 2014, que beneficiários do Bolsa Família perdessem o direito ao voto

10 out 2017 - 12h57
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Um grupo de 25 entidades empresariais do Paraná, capitaneadas pela Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (ACIPG), município a quase cem quilômetros de Curitiba, publicou um anúncio em um jornal local exaltando a atitude do general do Exército da ativa Antonio Hamilton Martins Mourão, que ficou conhecido nas últimas semanas por apoiar publicamente a intervenção militar no Brasil. Em palestra na Loja Maçônica Grande Oriente, em Brasília, o oficial disse que, se as instituições não conseguirem resolver o “problema político referente à corrupção”, o melhor seria o Exército “impor uma solução”.

“A política nacional chegou ao nível máximo de tolerância, e exigimos que o Poder Judiciário cumpra com sua função de afastar da vida pública essas pessoas que estão acabando com as riquezas do País. Não podemos mais aceitar que negociatas políticas permitam que as mesmas pessoas continuem a levar o Brasil à ruína”, diz trecho do documento. “Há conforto em saber que existem brasileiros como ele [Mourão], que ainda se preocupam com a nação e se disponibilizam a lutar pelo futuro. Assim, parabenizamos o general pelas suas palavras e reiteremos o nosso apoio”, completam os signatários.

Além da ACIPG, assinam a carta a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), a Sociedade Rural, conselhos empresariais e comunitários e diversos sindicatos patronais. O anúncio levou parlamentares da região, os Campos Gerais, a se manifestarem publicamente. “A Ditadura não é remédio para a corrupção. Muito pelo contrário. A concentração de poder é ambiente propício para o uso do poder em benefício próprio. O sistema democrático de pesos e contrapesos é a única garantia de um sistema institucional de combate à corrupção. Mas nos conforta saber que Ponta Grossa não é isso (…) Não será uma atitude reacionária e condenável que a fará perder a sua alma lutadora e esperançosa”, escreveu o deputado federal Aliel Machado (Rede-PR).

Anúncio publicado pela associação
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Foto: Reprodução

Na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o assunto gerou debate nessa segunda-feira (9). Ex-prefeito da cidade, de 334 mil habitantes, Péricles de Mello (PT) emitiu uma nota de repúdio, assinada por membros da oposição e também da base aliada ao governador Beto Richa (PSDB) na Casa. “Tal apoio significa um incentivo ao fim do regime democrático e a implantação de uma ditadura militar, experiência que, 32 anos depois, os brasileiros não querem passar novamente. Jamais podemos esquecer que a ditadura foi marcada pelo autoritarismo, cassação dos direitos políticos, violação das liberdades individuais, censura e ataque à imprensa, concentração de renda, inflação desmedida, violações aos direitos humanos, controle do poder judiciário, entre outros fatores”, destacaram os deputados.

O líder da situação na Alep, Luiz Cláudio Romanelli (PSB), fez coro ao manifesto. “Defender a democracia é pressuposto de quem participa do processo político. A mim parece que, felizmente, no nosso País o Exército é dirigido por patriotas que não se deixam embalar pelas viúvas que rondam os quarteis (…) Essa Casa de Leis é um Parlamento que representa o povo. Eu me somo publicamente a esse protesto. A democracia é o bem maior da sociedade brasileira e eu, que no final da década de 1970 lutei para o fim da Ditadura, não vou aqui aguentar essa insensatez”, discursou.

Já o ponta-grossense Plauto Miró (DEM) saiu em defesa das entidades. “Tem de se respeitar os segmentos que representam o setor produtivo. Eles têm a opinião deles e eu a minha. Não acredito que cabe ao Brasil [uma intervenção]; as eleições estão aí. Mas o País está numa situação econômica muito difícil, porque os governantes anteriores assim o deixaram. Espero que nosso País possa retomar o caminho do desenvolvimento, da riqueza e da geração do emprego. Concordo em quase tudo o que foi colocado pelas entidades representativas dos Campos Gerais”, disse. O político do DEM foi vaiado por servidores públicos estaduais, que acompanhavam a sessão.

Bolsa Família

Essa não foi a primeira vez que a ACIPG gerou polêmica com seus posicionamentos. Em 2014, a associação ganhou destaque no cenário nacional ao propor a suspensão do direito de voto a beneficiários de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. A alegação, ainda que não destacada, era de que, com isso, Dilma Rousseff (PT) perderia apoios. Na época, pesquisas mostravam a petista mais bem cotada entre quem recebia o auxílio, na comparação com os demais eleitores do País.

O documento com as ideias da entidade foi apresentado aos postulantes ao Legislativo e, na sequência, seria encaminhado aos candidatos à Presidência da República. O presidente da ACIPG, Nilton Fior, chegou a argumentar que não se tratava de uma solicitação de comprometimento dos políticos. "Simplesmente apresentamos a eles. Nós nos colocamos à disposição para discutir, com maior profundidade, cada uma das propostas", justificou-se.

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Fonte: Especial para Terra
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