Skinheads são condenados por atacar judeus no RS
Grupo agrediu vítimas com socos, pontapés e facadas durante lembrança dos 60 anos do Holocausto, em 2005, em Porto Alegre
Três acusados de atacar um grupo de judeus na região central de Porto Alegre, em 2005, foram condenados nesta quarta-feira, 19. Thiago Araújo da Silva e Laureano Vieira Toscani receberam pena de 13 anos de prisão em regime fechado. Já Fábio Roberto Sturm terá de cumprir 12 anos e 8 meses de detenção. O crime aconteceu em frente a um bar no bairro boêmio Cidade Baixa. Silva e Sturm poderão recorrer da decisão em liberdade.
O julgamento teve início na manhã da terça-feira, 18, no Foro Central de Porto Alegre, e durou cerca de 22 horas. A sentença foi expedida por volta das 21h30 desta quarta pela juíza Cristiane Busatto Zardo.
O crime acontceu em 8 de maio de 2005 na movimentada Rua Lima e Silva, em frente a um bar do bairro Cidade Baixa. Na data, eram lembrados os 60 anos do Holocausto, o extermínio de milhões de judeus em campos de concentração espalhados pela Alemanha, pela Polônia e por outros países da Europa.
Na ação, as vítimas, identificadas como Rodrigo Fontella Matheus, Edson Nieves Santanna e Alan Floyd Gipsztejn, usavam quipás (espécie de boina que os homens judeus usam para cobrir a cabeça) quando foram brutalmente agredidos com socos, pontapés e facadas por um grupo de skinheads que estava dentro do bar.
Julgamento
O material apreendido durante as investigações policiais foi exposto em frente ao júri. Entre os pertences estavam facas, livros, CDs e bandeiras de apologia neonazista.
"Se isto aqui não é nazismo, eu não sei mais o que dizer. Tenho até nojo de segurar isso", dizia a promotora Andrea de Almeida Machado enquanto mostrava em uma das mãos o livro Minha Luta, escrito por Adolf Hitler, aos jurados.
A obra serviu para inspirar a ideologia nazista espalhada pela Europa e vendeu mais de 21 milhões de exemplares em 1925. Atualmente, o livro é proibido em muitos países.
O depoimento das vítimas ocorreu ainda na terça, a portas fechadas e sem presença da imprensa, do público e dos réus. Essa teria sido uma das exigências dos jovens agredidos, com o objetivo de evitar a exposição em frente aos acusados, com medo de represálias. Testemunhas do crime também relataram os fatos para os jurados na terça.
Thiago Araújo da Silva, Fábio Roberto Sturm e Laureano Vieira Toscani foram julgados por tentativa de homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe (discriminação racial), meio cruel e sem chance de defesa por parte das vítimas. O trio prestou depoimento durante toda esta terça e negou as acusações.
"O Fábio Sturm, meu cliente, mora em Passo Fundo e até ontem à noite (segunda-feira, 17) não havia sido intimado. Ele veio espontaneamente para ser julgado. Ele tem tanta convicção da inocência dele, que ele veio para ser julgado sem sequer ser intimado", afirmou a defensora pública Tatiana Kosby Boeira. "Ele sempre negou que tivesse participado das agressões. Ele estava dentro do bar junto com a namorada pagando a conta, quando aconteceu essa ação lá fora."
Já o defensor público de Thiago Araújo da Silva, Álvaro Fernandes, afirmou ao Estado que leu o processo várias vezes e que não existem provas de que Silva "tenha contribuído com o fato". O advogado de defesa de Laureano Vieira Toscani preferiu não se manifestar durante a audiência.
Nazismo e antissemitismo
De acordo com denúncia do Ministério Público (MP), os réus fariam parte de um grupo denominado Carecas do Brasil, que faz apologia ao nazismo e ao antissemitismo. Além dos três sentenciados, outros dez acusados aguardam julgamento previsto para ocorrer em 22 de novembro.
A demora de se fazer justiça foi uma das queixas do representante da comunidade judaica no Estado. "Como é que o sistema judiciário demora tanto tempo (13 anos) para chegar até este momento? Toda semana há manifestações nazistas e antissemitas e o discurso de ódio não tem nenhum sentido", lamentou Zalmir Chwartzmann, da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS).