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Nova crise provocada por Olavo de Carvalho escancara irritação de militares

6 mai 2019 - 19h45
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Em mais uma crise no governo provocada pelo escritor Olavo de Carvalho, a resposta mais dura veio do general da reserva Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, que classificou o escritor de "Trótsky de direita", sem "princípios básicos de educação e respeito" e como alguém que age para "acentuar as divergências nacionais".

General Eduardo Villas Boas durante cerimônia em Brasília
19/04/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
General Eduardo Villas Boas durante cerimônia em Brasília 19/04/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Um dos nomes mais respeitados nas Forças Armadas, o general, hoje assessor especial do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general da reserva Augusto Heleno, deu pela redes sociais o recado que os militares querem passar: Olavo de Carvalho precisa "deixar o governo".

A análise foi feita à Reuters por uma fonte palaciana que acompanha de perto as crises que têm sido causadas pelos ataques do escritor aos militares --e que tem sido respaldadas pelos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o vereador no Rio de Janeiro Carlos e o deputado federal Eduardo (PSL-SP).

"Mais uma vez o senhor Olavo de Carvalho, a partir de seu vazio existencial, derrama seus ataques aos militares e às Forças Armadas demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia", escreveu Villas Bôas.

O general, com seis quase 600 mil seguidores no Twitter --bem mais do que Olavo de Carvalho, com seus 133 mil-- foi a voz da insatisfação dos militares no governo.

A mais nova disputa entre a ala militar e os chamados "olavistas" do governo foi escancarada mais uma vez na onda de ataques ao ministro da Secretaria de Governo, general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz. Incomodado, o próprio ministro foi na noite de domingo conversar com Bolsonaro. Disse que estava sendo vítima de um ataque orquestrado que envolviam os filhos do presidente.

"Eles têm intimidade o suficiente para o ministro chegar e reclamar do que está acontecendo", disse uma fonte palaciana.

Depois de criar polêmica atacando o vice-presidente Hamilton Mourão, o escritor voltou suas baterias a Santos Cruz. Em uma série de tuítes no final de semana chamou o ministro de fofoqueiro e outros adjetivos. A sessão de ataques se manteve nesta segunda.

A crise foi aumentada quando o humorista Danilo Gentili publicou nas redes sociais uma entrevista do ministro dada à rádio Jovem Pan no início de abril. Em sua fala, Santos Cruz diz que "as distorções e os grupos radicais, sejam eles de uma ponta ou de outra, da ponta leste ou da ponta oeste, isso aí tem que ser tomado muito cuidado, tem que ser disciplinado. A própria legislação tem de ser melhorada".

O ministro virou alvo, além de Olavo, dos filhos do presidente e um ataque coletivo nas redes, e o próprio Bolsonaro usou o Twitter para dizer que não haveria controle das redes.

"Em meu governo, a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluída as sociais. Quem achar o contrário recomendo um estágio na Coreia do Norte ou Cuba", escreveu.

Ao ter desautorizado publicamente seu ministro, Bolsonaro terminou por ampliar a margem para os ataques a Santos Cruz. No entanto, nesta segunda, ao ser perguntado se o ministro ainda tinha seu respaldo, Bolsonaro foi enfático: "Completamente".

Apesar da crise, Santos Cruz se mantém forte no governo não apenas pela relação de amizade com Bolsonaro, mas porque representa e tem liderança no grupo de militares que é considerado um dos pilares de sustentação do governo.

"Para demitir Santos Cruz vai ter que demitir muita gente antes", disse a fonte palaciana.

A ordem agora é tentar, mais uma vez, ignorar os ataques de Olavo de Carvalho. O próprio presidente afirmou, mais cedo, que, de acordo com a origem do problema, a melhor resposta é "ficar quieto, porque temos muitas coisas mais importantes para discutir no Brasil".

Mourão reforçou. "Esses ataques são totalmente sem nexo. Se nós ignorarmos, será muito melhor para todo mundo."

(Edição de Eduardo Simões)

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