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Hacker chama Moro de 'criminoso' na CPMI do 8/1 e senador rebate

Walter Delgatti entrou em embate com Sérgio Moro durante depoimento à CPMI do 8 de Janeiro

17 ago 2023 - 12h49
(atualizado às 18h34)
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CPMI: hacker chama Moro de 'criminoso contumaz', e senador rebate: 'O senhor é inocente como Lula?':

O hacker Walter Delgatti Neto, conhecido por ter acessado diálogos de membros da operação Lava Jato, teve momentos de embate com o senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) nesta quinta-feira, 17, durante seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. Delgatti chegou a chamar o parlamentar e ex-juiz titular da força tarefa em Curitiba de "criminoso contumaz".

"Eu fui vítima de uma perseguição em Araraquara, inclusive comparável à perseguição que o senhor fez com o presidente Lula e o PT. Ressaltando que eu li as conversas de vossa excelência, li a parte privada, e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz. Cometeu diversas irregularidades e crimes", disse Delgatti.

Moro retrucou: "O bandido aqui, que foi preso, é o senhor. O senhor é inocente como o presidente Lula, então?". "Nós temos um depoente que é acusado e processado por diversos crimes de estelionato. Há um caso de condenação de que envolveria 44 vítimas, sinais claros de que ele está envolvido em práticas criminosas e faz do crime a sua profissão", prosseguiu o senador.

O parlamentar, que era o juiz da Lava Jato, iniciou a inquirição perguntando a Delgatti a quantos processos por crime de estelionato ele responde. Moro ainda ironizou o tempo que o hacker levou para responder e disse: "se perdeu a conta, pode seguir, por gentileza".

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O hacker, respondeu que se lembra de ter sido julgado em ao menos quatro ações e que teria sido absolvido em todas elas. Moro insistiu que Delgatti respondia a mais de 40 processos. Diante das ofensas mútuas, o vice-presidente da CPMI, Cid Gomes (PDT-CE), pediu por respeito de ambas as parte e chegou a mencionar que o senador tentava desqualificar a testemunha.

"Eu vejo colegas tomando a palavra dele como se fosse uma verdade absoluta, quando estamos diante de um estelionatário condenado", afirmou Moro. "Esse herói já fez como vítima diversas pessoas inocente, não só hackeando, mas roubando valores", disse.

Delgatti rebateu as afirmações de Moro dizendo que ele espalha fake news. O senador usou todo o seu tempo para questionar o hacker sobre o histórico de condenações na Justiça. Moro perguntou, por exemplo, qual foi a intenção de Delgatti ao invadir o celular do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AL). Ele respondeu que foi imparcial e que chegou a invadir um celular registrado com o nome o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas que não tinha nada no dispositivo.

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ACUSAÇÕES CONTRA BOLSONARO

O hacker afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) garantiu que lhe concederia um indulto, caso fosse detido ou condenado por sua participação na tentativa de invadir o sistema das urnas eletrônicas. De acordo com o hacker, essa promessa foi feita em uma reunião realizada no Palácio da Alvorada, próximo às eleições do ano passado. Ele foi questionado pela relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), se recebeu alguma garantia de proteção por parte do ex-presidente.

Delgatti, então, detalhou o que lhe foi prometido. "Sim, recebi. Inclusive, a ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal. E como eu estava com o processo da Spoofing à época, e com as cautelares que me proibiam de acessar a internet e trabalhar, eu visava a esse indulto. E foi oferecido no dia", declarou.

Durante essa reunião, que supostamente foi intermediada pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), o hacker afirma que o ex-presidente questionou se ele seria capaz de invadir as urnas eletrônicas para testar a integridade dos equipamentos.

Delgatti ficou conhecido em 2019 por ter invadido celulares e vazado mensagens atribuídas a Sérgio Moro e a integrantes da Operação Lava Jato. No início deste mês, o hacker voltou a ser preso pela invasão de sistemas da Justiça para inclusão de mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Em depoimento ontem à PF, Delgatti disse que recebeu R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli para fazer o serviço.

O senador Sérgio Moro tem embate na CPMI com hacker que vazou informações da Lava Jato
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Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado / Estadão

"Apareceu a oportunidade da deputada Carla Zambelli, de um encontro com o Bolsonaro, que foi no ano de 2022, antes da campanha. Ele queria que eu autenticasse... autenticasse a lisura das eleições, das urnas. E por ser o presidente da República, eu acabei indo ao encontro. [...] Lembrando que eu estava desemparado, sem emprego, e ofereceram um emprego a mim. Por isso que eu fui até eles", disse.

De acordo com Delgatti, Bolsonaro solicitou que seus assessores o conduzissem a técnicos do Ministério da Defesa, com o propósito de obter auxílio em sua atuação.

O hacker relatou que foi ao Ministério da Defesa acompanhado pelo general Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro. Delgatti afirmou que o militar inicialmente questionou a ideia, porém Bolsonaro teria respondido com a frase "ordem minha, cumpra".

"A ideia era falar sobre as urnas e sobre a eleição, e sobre a lisura das urnas. E a conversa, ela foi bem técnica, até que o presidente me disse, falou assim: 'Olha, a parte técnica eu não entendo, eu irei enviá-lo ao Ministério da Defesa e lá, com os técnicos, você explica tudo isso'", declarou.

O hacker também afirmou que o objetivo era que ele examinasse o código-fonte das urnas eletrônicas. Contudo, os servidores do Ministério da Defesa explicaram que o código estava exclusivamente nas mãos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e somente servidores autorizados teriam acesso a ele.

Dessa forma, conforme relatado por Delgatti, os servidores iam até o TSE e compartilhavam com ele as informações que visualizavam, porém, não tinham permissão para levar consigo a totalidade do código-fonte.

'Ordem do presidente da República'

Delgatti declarou que estava consciente de que estava violando a lei ao interferir no processo eleitoral, mas que tomou essa ação devido a uma suposta "ordem de um presidente da República".

"Sim, eu sabia [que estava fazendo coisas erradas]. Lembrando que era ordem de um presidente da República. [...] Então, eu estava... tanto que eu entrei em contato com a 'Veja' e relatei isso por medo", explicou.

Ele afirmou que o receio surgiu porque ele estava ciente de que estava envolvido em atividades criminosas. Além disso, reiterou que Bolsonaro teria assegurado "indulto em caso de investigação, denúncia, processo ou condenação".

'Se um juiz te prender, mando prender o juiz'

Além da oferta de indulto presidencial, Walter Delgatti alegou que Bolsonaro teria feito a promessa de "prender um juiz" caso ele fosse descoberto em um plano para minar a credibilidade das urnas eletrônicas.

"Ele disse: 'Fique tranquilo, se algum juiz te prender, eu mando prender o juiz' e deu risada", afirmou o hacker.

Tentativa de grampo contra Moraes

Ele relatou que, durante conversas, tomou conhecimento de que pessoas próximas a Bolsonaro já tinham conseguido grampear o ministro Alexandre de Moraes, membro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

De acordo com Delgatti, nesse encontro, Bolsonaro teria proposto a ideia de que ele, Delgatti Neto, "assumisse a autoria" do grampo.

"Segundo ele [Bolsonaro], eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes. Que teria conversas comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo", disse.

'Código-fonte falso' 

De acordo com o depoimento do hacker, durante uma reunião com os assessores de campanha de Jair Bolsonaro, ele recebeu a orientação de criar um "código-fonte" falso para dar a impressão de que a urna eletrônica poderia ser vulnerável e suscetível a fraudes.

A sugestão teria sido apresentada pelo marqueteiro Duda Lima durante uma reunião que contou com a presença do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e outras pessoas ligadas à parlamentar.

"A segunda ideia era no dia 7 de setembro, eles pegarem uma urna emprestada da OAB, acredito. E que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro", disse Delgatti.

"Eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o oficial do TSE. E nesse código-fonte, eu inserisse essas linhas, que eles chamam de 'código malicioso', porque tem como finalidade enganar, colocar dúvidas na eleição", completou Delgatti.

Fonte: Redação Terra
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