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Governo Bolsonaro: Quem é Floriano Peixoto, o substituto de Gustavo Bebianno na Secretaria-Geral da Presidência

General da reserva do Exército, mineiro de 65 anos formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras, a mesma frequentada por Bolsonaro; no Exército, comandou a missão de paz no Haiti.

19 fev 2019 - 14h49
(atualizado às 15h54)
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Floriano Peixoto no Haiti, em 2009
Floriano Peixoto no Haiti, em 2009
Foto: UN Photo/Sophia Paris / BBC News Brasil

Após o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, anunciar, no fim da tarde de segunda-feira, o desligamento do então ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, o advogado carioca Gustavo Bebianno, uma repórter perguntou: "Quem fica no lugar dele?". "Fica o general Floriano Peixoto", disse Barros.

"O general passará a ser o Secretário-Geral da Presidência da República. De forma definitiva. Não há possibilidade de mudanças na estrutura da pasta", completou ele.

General da reserva do Exército, Floriano Peixoto Vieira Neto é o oitavo nome de origem militar no governo Bolsonaro - a Esplanada atual tem 22 cargos com status de ministro. Sua nomeação definitiva para a Secretaria-Geral representa uma vitória da ala militar da Esplanada: parte dos ministros, principalmente aqueles mais próximos ao filósofo Olavo de Carvalho, defendiam a extinção do posto.

A escolha dele para o gabinete que era de Bebianno, no 4º andar do Palácio do Planalto, também significa que Bolsonaro terá apenas um civil em seu núcleo mais próximo: Onyx Lorenzoni (Casa Civil). Tirando ele, todos os outros três ministros que trabalham dentro do Palácio do Planalto têm agora origem militar.

Bebianno (esq.) em 1º de janeiro, na posse de Bolsonaro (dir.)
Bebianno (esq.) em 1º de janeiro, na posse de Bolsonaro (dir.)
Foto: Governo de transição / BBC News Brasil

A nomeação de Floriano Peixoto acontece após vários dias de turbulências no governo envolvendo o agora ex-titular da pasta, Gustavo Bebianno. O ex-ministro presidiu o partido de Bolsonaro, o PSL, durante a campanha eleitoral. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Bebianno autorizou o repasse de R$ 250 mil do fundo eleitoral para a candidatura de uma ex-assessora - esta, por sua vez, justificou o uso de parte deste dinheiro com notas fiscais de uma gráfica que seria de fachada.

A situação de Bebianno começou a se complicar na quarta-feira da semana passada, quando Bebianno foi acusado duas vezes de mentir sobre conversas com o presidente da República: primeiro pelo filho de Bolsonaro, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSL); e depois pelo próprio Jair Bolsonaro.

Na última quarta-feira (13), Carlos chegou a publicar no Twitter um áudio em que Bolsonaro se recusava a falar com Bebianno - o objetivo era contradizer o ex-ministro, que no dia anterior disse ter falado com Bolsonaro. O próprio presidente repercutiu a publicação do filho na rede social. Na segunda-feira (18), Bolsonaro publicou um vídeo com elogios a Bebianno para tentar amenizar a situação.

Santos Cruz (esq.) e Floriano Peixoto (dir.) no Haiti em 2009
Santos Cruz (esq.) e Floriano Peixoto (dir.) no Haiti em 2009
Foto: Marco Dormino / UN Photo / BBC News Brasil

Antes da posse de Bolsonaro, Floriano Peixoto integrou a equipe de transição nomeada para levantar informações e preparar o início do governo. Até esta segunda-feira, ocupava o cargo de secretário-executivo da Secretaria: era o nº2 na hierarquia da pasta.

No desenho atual da Esplanada, a Secretaria-Geral está esvaziada: é responsável pela área de Assuntos Estratégicos e por iniciativas de modernização do Estado. Inicialmente, ficaria também com o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), e com a Secretaria de Comunicação, mas estas atribuições acabaram sob a responsabilidade do ministro Santos Cruz (Secretaria de Governo - Segov).

Floriano Peixoto passou à reserva em 2014. Antes disso, cumpriu várias funções importantes no Exército - trabalhou em Joinville (SC); no Estado Maior do Exército (em Brasília); e até como instrutor cedido à academia militar norte-americana de West Point (em Nova York). Em São Paulo (SP), comandou a 2ª Divisão de Exército.

Sua primeira missão no Haiti foi em 2004, quando chefiou o contingente brasileiro na missão de paz das Nações Unidas naquele país, a Minustah - à época, ele trabalhava sob o comando do hoje colega Augusto Heleno.

Em abril de 2009, Floriano Peixoto tornou-se o comandante de toda a missão - liderou cerca de sete mil homens de 17 países diferentes. Seu sucessor no comando da missão foi o general Santos Cruz - hoje colega de governo.

Santos Cruz (esq.) e Floriano Peixoto (dir.) na cerimônia de transmissão do cargo no Haiti, em 2009
Santos Cruz (esq.) e Floriano Peixoto (dir.) na cerimônia de transmissão do cargo no Haiti, em 2009
Foto: Marco Dormino / UN Photo / BBC News Brasil

Ele estava no comando da missão quando o Haiti foi atingido por um terremoto catastrófico, de 7 graus de magnitude - calcula-se que entre 100 e 200 mil pessoas tenham morrido na tragédia. Ao menos 18 militares brasileiros, sob o comando de Floriano Peixoto, perderam suas vidas. No momento do sismo, em 12 de janeiro, o general estava nos EUA, e preparando-se para voltar ao Haiti. Ao chegar ao país, coordenou o atendimento às vítimas.

Origens em Minas Gerais

Hoje com 65 anos de idade, Floriano Peixoto Vieira Neto é mineiro da cidade de Tombos. O centro da pequena cidade de 8,7 mil habitantes fica a apenas 2 km da fronteira com o Rio de Janeiro, e a outros 22 km do Espírito Santo. É casado e pai de dois filhos e uma filha. E, apesar do nome, não tem qualquer relação com o marechal Floriano Vieira Peixoto (1839-1895), sucessor de Deodoro da Fonseca e o segundo presidente da República do Brasil.

Apesar de nascido em Tombos, Floriano passou a adolescência na vizinha Muriaé (MG), para onde mudou-se em 1970. Parte dos familiares dele continuavam em Muriaé ao menos até 2013, quando o militar recebeu o título de cidadão honorário da cidade. Sua mãe, Frineida Matheus Vieira, trabalhou como professora.

A carreira militar de Floriano Peixoto começou em fevereiro de 1973, quando ele entrou para a Academia Militar das Agulhas (Aman), em Resende (RJ) - é a mesma escola de oficiais onde Jair Bolsonaro estudou. Os dois também ingressaram no mesmo ano, embora Bolsonaro tenha entrado no fim de 1973. Floriano graduou-se na arma de Infantaria.

Mourão (esq.), Bolsonaro (dir.) e seis dos atuais ministros passaram pela Aman, em Resende (RJ)
Mourão (esq.), Bolsonaro (dir.) e seis dos atuais ministros passaram pela Aman, em Resende (RJ)
Foto: Governo de transição / BBC News Brasil

Além de Bolsonaro, Mourão e Floriano Peixoto, há mais cinco ministros atuais que se formaram na mesma escola: Augusto Heleno (GSI, formado na turma de 1969); Fernando Azevedo e Silva (Defesa, da turma de 1973); Santos Cruz (Secretaria de Governo, turma de 1974); Tarcísio Gomes (Infraestrutura, turma de 1996); e Wagner Rosário (CGU, também de 1966).

Após a Aman, Floriano Peixoto especializou-se como paraquedista (a mesma especialidade de Bolsonaro). Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO, em Deodoro-RJ), e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme, no bairro da Urca da capital fluminense). Na vida civil, graduou-se em administração de empresas e possui um MBA em Gerência Executiva.

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