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Protocolo da cloroquina é "barbaridade", alerta ex-Anvisa

20 mai 2020 - 16h47
(atualizado às 16h51)
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O novo protocolo do Ministério da Saúde para uso do medicamento cloroquina nos estágios iniciais da Covid-19 é uma "barbaridade", na avaliação do ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Gonzalo Vecina Neto, que aponta ainda que a adoção do medicamento pode provocar mais mortes do que evitar, devido aos graves efeitos colaterais.

Enfermeira mostra hidroxicloroquina no Hospital Conceição em Porto Alegre
 23/4/2020 REUTERS/Diego Vara
Enfermeira mostra hidroxicloroquina no Hospital Conceição em Porto Alegre 23/4/2020 REUTERS/Diego Vara
Foto: Reuters

Segundo Vecina, que é médico sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), não há comprovação científica da eficácia da cloroquina contra o coronavírus e é "inacreditável que em pleno Século 21 a gente esteja vivendo de magia".

"É inacreditável. Não tem evidência científica. É a opinião de um capitão que consegue convencer um general a fazer", disse Vecina Neto à Reuters, referindo-se à patente com a qual Bolsonaro deixou o Exército para em seguida entrar na política e ao fato de o general Eduardo Pazuello ocupar no momento de forma interina o Ministério da Saúde.

Para Vecina Neto, o protocolo, que atende a desejo pessoal do presidente Jair Bolsonaro, é uma tentativa do governo federal apontar um medicamento que cure a Covid-19, doença respiratória causada pelo novo coronavírus, já que Bolsonaro é contrário ao isolamento social, preconizado por autoridades de saúde de todo o mundo para frear a propagação do vírus.

O texto divulgado nesta quarta pelo Ministério da Saúde, que não foi assinado por nenhum médico, lista a dosagem para o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina, associado ao antibiótico azitromicina, no caso de sintomas leves em duas fases da doença, do 1º ao 5º dias e do 6º ao 14º dias, e também para casos moderados.

Vecina Neto, que comandou a Anvisa --órgão responsável pela regulamentação de medicamentos no país-- entre 1999 e 2003, lembrou que a cloroquina possui efeitos colaterais sérios e que, assim como a hidroxicloroquina, outro remédio usado no tratamento de malária e doenças autoimunes, já foram testadas para determinar sua eficiência contra a Covid-19 sem que fosse comprovada.

"Ela mata cardiopata. Não existe evidência e nós sabemos os efeitos colaterais", disse o ex-diretor da Anvisa, que é professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, ao apontar o principal entre vários efeitos colaterais da cloroquina.

"Já foram muito estudadas (cloroquina e hidroxicloroquina) e não se conseguiu concluir que elas mudam o rumo da doença", apontou ele, prevendo ainda que o uso do medicamento pode gerar um aumento na quantidade de mortes em vez de uma redução.

Ao comentar o novo protocolo do Ministério da Saúde mais cedo nesta quarta, Bolsonaro reconheceu que não existem evidências científicas da eficácia da cloroquina contra a Covid-19, mas escreveu em sua conta no Twitter: "Contudo, estamos em guerra: 'Pior do que ser derrotado é a vergonha de não ter lutado.'"

Em informe a Sociedade Brasileira de Infectologia afirmou que os estudos clínicos com a cloroquina ou a hidroxicloroquina, associados ou não à azitromicina, "permitem concluir que tais medicamentos, até o presente momento, não mostraram eficácia no tratamento farmacológico de Covid-19 e não devem ser recomendados de rotina".

A entidade recomendou que o uso dos dois medicamentos no tratamento da Covid-19 seja feito prioritariamente em estudos clínicos, mas afirmou que, se quiser, o médico pode receitá-los "sendo recomendado que compartilhe com o paciente a falta da

evidência científica de sua eficácia à luz dos conhecimentos atuais e seu potencial risco de dano, principalmente cardíaco, e com a assinatura de um termo de consentimento".

Em março, a Anvisa disse que não havia estudos comprovando a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento e prevenção da Covid-19 e que, portanto, não recomendava o uso do medicamento para esses fins. Essa mesma posição foi reiterada nesta quarta-feira pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

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