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Última casa de rockabilly de São Paulo fecha as portas neste fim de semana

Localizado na zona oeste da capital, The Clock Bar já teve aulas de dança e até concursos; baile de encerramento será às 21 horas

30 nov 2019 - 17h17
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SÃO PAULO - Poucas coisas são mais comoventes do que alguém sem cintura ou com os dois pés esquerdos tentando sacudir a pélvis feito um Elvis Presley redivivo. No The Clock Bar, única casa especializada em rock dos anos 1950 e 1960 de São Paulo, sempre foi possível brincar de rei do rock por um dia, mergulhar no rockabilly e dançar o 'Lindy Hop' ou o 'Jive' até os sapatos estourarem.

Mas vai longe os bons tempos da brilhantina: o The Clock Bar fecha as portas nesse final de semana. Quem rodou, rodou. Nem rockers, nem Pin-ups poderão ser mais vistos na Rua Turiassu, em Perdizes, na zona oeste paulistana.

"Fui até o meu limite. Ano passado ia fechar porque estava no vermelho. Conseguimos recuperar. Agora não dá mais. O The Clock precisa de uma dedicação para salvá-lo que já não posso mais dar", diz a proprietária Ebe Cristina Salvetti, de 32 anos.

Ebe não é a primeira dona do bar - que abriu em 2004. Mas tem um laço sentimental muito grande com o lugar, o que tem tornado essa despedida ainda mais difícil. "Conheci o The Clock como cliente. Foi uma fase da minha vida que eu estava triste e me sentindo sozinha. Aqui, fiz amigos e conheci o meu marido", conta.

De cliente, Ebe passou para funcionária da casa - trabalhando na administração. Em 2015, o bar também vivia uma crise e esteve prestes a fechar suas portas. "Tomei uma decisão 89% emocional, por tudo que passei lá dentro, e resolvi assumir o negócio. Não queria que o The Clock se transformasse em apenas uma hamburgueria ou algo do tipo", contou.

Já na atual administração, além das tardes e noites de rockabilly, o bar teve aulas de dança e até concursos. Na maioria dos dias, a música era ao vivo e a clientela familiar. "Quase todo mundo se conhecia. Era um lugar muito gostoso. Um lugar que as pessoas iam para dançar. Como abria aos domingos, a gente via até crianças por lá. Vai fazer muita falta", falou a arquivista Cristal Magalhães da Rocha, 33 anos.

Cristal lembra que, apesar de festas esporádicas na cidade, o The Clock era o único bar específico para os fãs do som dos anos 50 e 60. "Dançar no The Clock era como praticar um esporte, um exercício mesmo. Fora que o ambiente sempre foi excelente. Eu espero que ele não feche para sempre".

Fechar para sempre é uma questão. Ebe e o marido, Murilo Vargas (o outro dono do bar), ainda procuram um comprador - alguém que alimente o sonho de uma casa de rockabilly a partir do próximo ano. "Estamos conversando. Apareceram três pessoas, mas nada ainda muito certo", disse Ebe.

"Esse final de semana será bastante emocional para todos nós. Estamos esperando mais gente do que o habitual. Muita gente vai querer se despedir da casa", completou. O último baile será neste sábado, 30, a partir das 21 horas.

Se Elvis não morreu... Quem sabe ainda dá tempo para mais um milk-shake? "Well, it's one for the money/ Two for the show/ Three to get ready/ Now go, cat, go..."

Estadão
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