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TV Escola, ligada ao MEC, inicia demissões; cortes podem atingir 130 funcionários

'Tem coisa melhor a fazer com esse dinheiro', disse o ministro Abraham Weintraub. 'Clima é de tristeza, mas também de alívio', afirmou funcionário demitido

6 jan 2020 - 21h37
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RIO - Anunciados desde o fim de 2019, os cortes na TV Escola começaram nesta segunda-feira, 6. Pelo menos 28 pessoas envolvidas na produção foram demitidas no Rio, segundo funcionários informaram ao Estado. Eles estimam que os cortes atinjam de 70 a 130 pessoas. A conta inclui outras praças e demissões já decididas, mas ainda não efetivadas.

A TV Escola foi criada em 1996 pelo Ministério da Educação. É gerenciada pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), uma organização social que produz o conteúdo, recebendo do Ministério da Educação (MEC) pelo menos cerca de R$ 70 milhões por ano. Em dezembro, o MEC anunciou o rompimento desse contrato com a Acerp.

"Tem coisa melhor a fazer com esse dinheiro. O dia que não tiver, corte-se impostos", afirmou o ministro Abraham Weintraub ao defender o rompimento, em dezembro.

Naquele mesmo mês, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a TV Escola "deseduca": "Era uma programação totalmente de esquerda, ideologia de gênero. Dinheiro público para ideologia de gênero. Então tem que mudar", afirmou.

Atualmente, a Acerp é dirigida por pessoas alinhadas ao governo de Bolsonaro e ao escritor Olavo de Carvalho: o diretor-geral é Francisco Câmpera e o diretor-geral adjunto é Eduardo Melo. Segundo funcionários da TV Escola, os dois travam uma disputa interna com o ministro da Educação, também olavista. O rompimento do contrato do MEC com a gestora da TV Escola seria uma tentativa de Weintraub de derrubar a atual direção da Acerp.

Com os cortes, a emissora deve veicular programas comprados, segundo apurou o Estado. Outra possibilidade é a contratação de nomes alinhados com o governo Bolsonaro. Um dos cotados é Allan dos Santos, que mantém o canal Terça Livre.

"O clima é de muita decepção e tristeza, mas também de alívio, porque o canal estava sendo usado para fazer propaganda do atual governo", contou um funcionário demitido nesta segunda-feira, que preferiu não ser identificado. "Fomos obrigados a entrevistar a ministra Damares Alves, veiculamos programas contra o aborto e não fizemos nenhuma referência ao Dia da Consciência Negra, que era uma comemoração tradicional do canal. Por isso, tem gente que está saindo pensando que é melhor o canal acabar."

O ex-funcionário critica também a postura da Acerp, que segundo ele tentou esconder dos funcionários o fim do contrato com o MEC. "No dia 6 de dezembro foi feita uma festa de final de ano e a direção prometeu, em discurso, 'um ano promissor'. Dias depois o MEC divulgou o corte da verba."

Consultada pela reportagem nesta segunda-feira por telefone e e-mail, a Acerp não se manifestou sobre a situação até a publicação desta reportagem.

Estadão
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