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Tragédia em Santa Maria

RS: silhuetas das vítimas da Kiss são pintadas em frente à boate

27 jan 2014 - 01h35
(atualizado às 16h00)
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<p>As silhuetas representando as 242 vitimas da tragédia de Santa Maria foram pintadas em frente à Kiss</p>
As silhuetas representando as 242 vitimas da tragédia de Santa Maria foram pintadas em frente à Kiss
Foto: Daniel Favero / Terra

Na maior parte do tempo, o silêncio era hipnotizante, introspectivo, mas logo a dor brotava no peito e a única forma de extravasar o sentimento que tomava conta era o choro ou o grito por Justiça, na madrugada desta segunda-feira, 27 de janeiro, dia em que a tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria completa um ano.

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Silhuetas representando as 242 vítimas foram pintadas em frente à boate, formando um mar de corpos estirados no asfalto, cena que despertava memórias e dor entre as centenas de pessoas, em sua maioria familiares e sobreviventes, com os olhos cheios de lágrimas, segurando cartazes das vítimas e com os rostos pintados com nariz de palhaço.

Com as silhuetas, os organizadores quiseram mostrar o impacto de 242 mortes no chão, conforme explica o presidente do sindicato dos docentes da Universidade Federal de Santa Maria, Rondon de Castro.

Pinturas de silhuetas das vítimas da Kiss serão sempre revitalizadas, diz responsável:

"É um ato para chamar a atenção com as silhuetas, para ter o impacto do que significam 242 pessoas mortas no chão, para que o ministério público possa cumprir sua função, porque a tragédia é pior quando não tem justiça", afirmou, dizendo que a cidade não tem como voltar a normalidade em virtude da situação.

Com os olhos cheios de lágrimas na calçada oposta a Kiss, Francisco Charon, que perdeu seu filho de criação Giovanni Simões, lembrava do que viveu exatamente um ano atrás. "É muito forte, nos lembra aquela noite, nós estivemos aqui... Estamos lutando para aceitar, porque ao menos agora não temos mais a raiva, apenas as boas lembranças", conta, lembrando que Giovani era órfão de pai e mãe.

Um ano da boate Kiss:

Um coração foi pintado bem em frente à porta da boate, onde foram colocadas 242 velas, representando cada uma das vítimas. Após acesas, elas seriam a vida dessas pessoas sendo consumidas naquela noite. Enquanto isso, começou a contagem de mortos. “Agora vamos contar o número de responsáveis presos: zero”, diziam os familiares, em tom de protesto e indignação.

À medida que as 3h da madrugada se aproximavam, o sentimento de dor pela perda começava a dar lugar para a revolta. Nesse horário, foi soada uma sirene, com o grito “acorda, Santa Maria!”. A partir daí, integrantes de grupos que lutam por justiça falaram sobre a mobilização, sobre o que consideram uma omissão do Ministério Público por arquivar o processo por improbidade administrativa contra a prefeitura.

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Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate. 

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Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

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Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissandro - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Terra
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