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SP: Kayllane é “apedrejada” com flores em ato na Assembleia

Menina que sofreu agressão ao sair de culto de candomblé no RJ foi homenageada em ato em SP nesta segunda

29 jun 2015 - 22h02
(atualizado às 22h06)
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Kayllane ao lado de sua avó, Kátia Marinho
Kayllane ao lado de sua avó, Kátia Marinho
Foto: Elisa Feres / Terra

Vamos “apedrejá-la” do jeito que ela merece. Foi assim que Kayllane Campos, de 11 anos de idade, conhecida por ter sido agredida com pedradas ao sair de um culto de candomblé no Rio de Janeiro no último dia 14, foi recebida na Assembleia Legislativa de São Paulo na noite desta segunda-feira (29). A diferença é que, desta vez, as “pedras” arremessadas contra ela foram, na verdade, pétalas de rosas. E arrancaram sorrisos. Não sofrimento.

O ato contra a intolerância religiosa começou por volta das 20h com um “batucaço” em um dos auditórios da Casa. Ele contou com a presença de líderes de diferentes crenças (incluindo judeus, muçulmanos, budistas, evangélicos e espíritas) e foi organizado pelo vereador Laércio Benko (PHS) e pela deputada estadual Clélia Gomes (PHS) – esta última, mãe de santo da Umbanda.

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Esses líderes e também algumas autoridades, como o promotor do Ministério Público Afonso Presti e a presidente da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil do Estado (OAB-SP) Dra. Damaris Dias Moura Kuo, discursaram até por volta das 22h.

Kayllane, por conta de sua pouca idade, foi poupada e apenas observou. Ela permaneceu o tempo todo ao lado de sua avó, a mãe de santo Kátia Marinho, que contou que a neta, após sofrer a agressão, passou por um breve período de negação e evitou usar vestimentas da cor branca, que simbolizam as religiões africanas e afro-brasileiras.

“A rotina dela mudou muito. Tem hora que ela não quer falar, não quer ir para evento nenhum. É normal. Ela tem 11 anos. No início, ela nem queria usar branco. Ficou com pavor de branco. Falava que, se estivesse usando outra cor, não teria levado pedrada. Curioso. A cor da paz se tornou referência para agressão. Mas já superamos. Agora temos que lutar para que os agressores sejam identificados e para que a 'agressão' seja transformada em 'tentativa de homicídio'. Temos que lutar. Não é nem questão de ‘tolerar’. Todo mundo tem que se respeitar. Moramos em um País laico, temos direito de escolher e praticar nossa religião, nossa sexualidade”, afirmou.

Kátia contou ainda que, desde que apareceram na mídia pela primeira vez, ela e sua família têm recebido diversas denúncias de companheiros de religião que também sofreram algum tipo de agressão motivada por intolerância religiosa.

“Temos recebido muito apoio. Estamos ouvindo centenas de relatos de intolerância que pessoas sofriam com isso, mas tinham medo de falar. Agora estão botando para fora. Em Facebook, Whatsapp. Até os números do ‘disque 100’ aumentaram. Isso é muito legal. Não é porque vamos lutar por alguma coisa que vamos sofrer represálias. Falam para eu ter cuidado por expor minha neta, falam que alguma coisa poderia acontecer com ela, mas temos que fazer isso. É uma história que ela vai carregar na luta espiritual dela”, concluiu.

Babalawo relembra os Gladiadores do Altar

Um dos discursos mais aplaudidos da noite foi o do Babalawo Ivanir dos Santos, que direcionou duras críticas à bancada evangélica do Congresso Nacional. Ele iniciou sua fala relembrando o caso dos Gladiadores do Altar, espécie de “exército” criado pela Igreja Universal que teve grande repercussão e chegou a ser denunciado meses atrás.

Religiosos fazem "batucaço" contra intolerância na assembleia:

“Nós seremos as vítimas dele. O estado laico ouve mais uma coisa que outra. Temos que ter essa preocupação. Todos nos mobilizamos naquela ocasião, mas o Judiciário não acatou nossa denúncia”, disse, lembrando em seguida o caso da mãe Dede de Iansã, ialorixá morta no início do mês de junho na Bahia.

 “Ela registrou ocorrências várias vezes e nada ocorreu. É por isso tudo que este ato está na nossa mão. O que está por trás da intolerância não é religião, é política. Eles têm um projeto de poder para o Brasil. Não escondem isso. Vamos para a fogueira. A sociedade tem que estar acordada. A maioria dos evangélicos não é assim, apenas estes que seguem o poder e o dinheiro. Kayllane virou um símbolo. A pedra que ela levou deve ser transformada em uma pedra no sapato deles”, completou.

Telhada discursa “contra preconceito”. E recebe críticas

Logo no início do ato, o deputado estadual Coronel Telhada (PSDB), ex-comandante da Rota e coronel da Polícia Militar de São Paulo usualmente criticado por militantes dos direitos humanos, discursou “contra a violência e o preconceito“. E não foi aprovado por parte dos espectadores do evento. Ele estava acompanhado do também deputado Delegado Olim (PP).

“Nós passamos aqui especialmente para trazer nosso abraço e apoio. Somos contra qualquer tipo de violência e preconceito por vários motivos. Somos policiais. Representamos pessoas que querem o bem para nosso País. Sou evangélico e sei o que é intolerância. Apanhei na cara na escola por isso. Fazemos uma religião seria e nem sempre somos respeitados. Parabéns aos que estão aqui. Não podemos aceitar qualquer tipo de preconceito e violência. Principalmente na parte religiosa”, afirmou, dividindo a plateia entre aplausos e murmurinhos de desaprovação. 

Fonte: Terra
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