Prefeitura do Rio cadastra sem-tetos que ocupavam prédio
O prédio ocupado pertence ao flamengo; os participantes da ocupação foram retirados do prédio pela PM
Os 350 sem-teto que ocuparam o edifício Hilton Santos, no Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro, no início do mês e foram retiradas pela Polícia Militar por ordem judicial, estão sendo cadastradas hoje (22) pela Defensoria Pública do estado para traçar um diagnóstico e fazer a inclusão das famílias em programas governamentais.
Segundo a defensoria, o cadastramento deve ser concluído até o fim do dia, mas ainda não há uma solução imediata para resolver o problema de moradia dos sem-teto. Após a desocupação do prédio, que pertence ao Clube de Regatas do Flamengo e está arrendado ao grupo EBX, do empresário Eike Batista, no último dia 14, as 350 pessoas retiradas do imóvel vivem hoje na Cinelândia, no centro da cidade.
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De acordo com um dos participantes da ocupação, José Eduardo Marques da Silva, de 44 anos, a prefeitura chegou a oferecer um abrigo, mas eles recusaram e foram orientados a ficar na rua, onde estão até hoje.
"Nós não queremos ficar em abrigo porque eles iam separar as pessoas. Nós não somos indigentes, temos título de eleitor e votamos. A culpa não é nossa. Nós queremos colocar os nossos filhos na escola, queremos ter o nosso emprego, a nossa casa, queremos ter dignidade. Não queremos ficar jogados em lugar nenhum. Não conseguimos arrumar emprego porque moramos na rua e não temos endereço fixo. Estamos lutando para ter tudo isso", explicou.
Ainda segundo José Eduardo, as famílias vivem uma situação difícil, dormindo ao relento, sem saber o que pode acontecer. Ele conta também que as pessoas que passam pelo local ficam com medo de serem assaltadas pelo grupo e diz que eles não têm uma perspectiva de vida. O cadastramento é uma ação coordenada entre a Defensoria Pública, a Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social.
"A gente não sabe como vai ser o nosso amanhã. Quem vive na rua não sonha, não progride, não tem êxito em nada. Eles só prometem e não cumprem. Estamos vivendo em uma situação de estado de calamidade pública, estamos disputando o chão com ratos e baratas, além do risco de pegar uma infecção e adquirir uma doença. As pessoas passam e dão uma quentinha para a gente dar para os nossos filhos e nós não queremos isso. Às vezes, a pessoa que mora em comunidade já é discriminada, imagina quem mora na rua", diz José Eduardo.
O defensor público geral do Estado, André Luiz Machado de Castro, explicou a situação das famílias e disse que a defensoria vai buscar uma solução. "A defensoria está organizando e vai pleitear por essa moradia, inclusive judicialmente. Essa é uma solução que pode não ser imediata, mas nós estaremos lutando por isso. Vamos fazer a inclusão dessas pessoas em programas que sejam pertinentes; caso já estejam incluídos, vamos verificar porque ainda não conseguiram uma habitação adequada em caráter permanente. Esse é o nosso desafio, que começa hoje a partir desse cadastro de todas essas pessoas".