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População subestima a gravidade da dengue, avaliam gestores de saúde

28 abr 2013 - 14h05
(atualizado às 14h09)
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Quase 30 anos depois da dengue ter se instalado no Brasil e apesar de todo o conhecimento sobre o ciclo do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, a doença ainda é um problema de saúde pública. Até meados de março já foram registradas 132 mortes e mais de 714 mil casos da doença em todo o País. Em 2012, no mesmo período, as notificações chegaram a 190 mil.

Para os gestores da saúde, a população subestima a gravidade da doença. "Não tem quem não saiba o que é e o que deve fazer para prevenir. Mas as pessoas ainda estão subestimando o poder dessa doença, ela mata", alertou Gilsa Rodrigues, coordenadora da vigilância epidemiológica da Secretaria de Saúde do Espírito Santo, Estado que registrou a maior incidência da doença na Região Sudeste, com 1.171 casos até a décima quinta semana deste ano.

"Aqui no Espírito Santo mais de 70% dos focos são encontrados nos domicílios, um dado que nos faz refletir sobre a responsabilidade do cidadão. A secretaria tem orientado as famílias a fixarem um dia na semana para inspecionar o quintal e a laje, verificar se a caixa d'áqua está coberta, eliminar todas as possibilidades do mosquito depositar os ovos", explicou Gilsa.

Segundo Denise Valle, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, um modelo de combate à doença que deve ser seguido é o adotado em Singapura, no Sudeste Asiático. "Singapura conseguiu praticamente zerar a epidemia de dengue basicamente com uma campanha de mobilização, estimulando as pessoas a eliminar os criadouros uma vez por semana. Cerca de 16 mil voluntários (para uma população de cerca de 5 milhões de pessoas) durante seis finais de semana seguidos ficaram estimulando e orientando a sociedade a eliminar todos os criadouros. Eles conseguiram eliminar a epidemia no pico, o que é muito difícil", conta a pesquisadora.

Baseado nisso, o Instituto Oswaldo Cruz lançou a campanha "10 Minutos contra a Dengue", para que as pessoas façam a limpeza dos principais criadouros do mosquito em suas casas. O instituto ainda lançou vídeos explicativos pra informar a população sobre o ciclo da doença e como evitá-la.

Para Maria Aparecida Araújo, diretora da vigilância epidemiológica da Bahia, não dá pra responsabilizar só um setor pelas epidemias de dengue. "Muitas vezes os agentes não têm acesso às casas, o município não tem coleta de lixo adequada, não tem água encanada, o que leva a um armazenamento de água algumas vezes perigoso", enumberou.

O superintendente de vigilância em saúde do Paraná, Sezifredo Paz, constatou que todas as cidades que tiveram epidemia no estado tinham problemas com o manejo inadequado de resíduos sólidos e dos materiais recicláveis, como copos plásticos e garrafas PET. Segundo ele, a troca de gestão contribuiu para agravar a situação. "Constatamos que 70% dos municípios do Paraná onde houve epidemia tiveram mudança de prefeito. O prefeito que assumiu em janeiro já encontrou um quadro ruim", destaca.

Para Simone Mendes, coordenadora de dengue e febre amarela do Tocantins, a mudança de comportamento é lenta. "Ainda tem muita coisa a ser feita para que as pessoas se conscientizem. Temos que continuar fazendo mobilizações. Informação tem que ter o tempo tod", defende.

Em dezembro de 2012, o Ministério da Saúde anunciou o repasse de R$ 173,3 milhões para ações de qualificação das atividades de prevenção e controle da dengue. Em 2011, foram R$ 92,8 milhões. O ministério também orienta os agentes de saúde a visitarem as residências a cada dois meses para checar se há focos do mosquito e para alertar a população sobre os riscos da doença.

Agência Brasil Agência Brasil
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