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'O Templo de Deus foi duplamente violado', diz sacerdote sobre tiroteio em Campinas

Celebrada pelo monsenhor Rafael Capelato, a cerimônia cerca de 1h30 e contou com a presença de sobreviventes, fiéis, curiosos e vereadores

12 dez 2018 - 21h53
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CAMPINAS - Um dia após o ataque que terminou com cinco mortos e o suicídio do atirador na Catedral Metropolitana de Campinas, no interior, mais de mil fiéis se reuniram no local da tragédia para uma missa em homenagem às vítimas. Celebrada pelo monsenhor Rafael Capelato, a cerimônia cerca de 1h30 e contou com a presença de sobreviventes, fiéis, curiosos e vereadores. "Ontem a tristeza se abateu sobre todos nós pelo pecado da violência da morte", discursou o sacerdote.

A missa começou às 12h15, mesmo horário da última celebração na Catedral antes da tragédia. Por mais de 12 minutos, Capelato fez uma pregação sobre o atentado do dia anterior e pediu solidariedade às famílias dos mortos e feridos. Na nave central, com paredes ainda marcada pelo confronto entre o atirador e policiais militares, fiéis fungavam, como se contivessem o choro, e mantinham os olhos marejados.

"O templo de Deus foi duplamente violado. Sim, templo sagrado que é a pessoa humana, ferida de morte como foi. E o templo sagrado desta igreja, nossa Catedral, que se tornou cenário de violência", disse o monsenhor. "Hoje estamos aqui em grande número para suplicar a Deus o perdão, a misericórdia, a paz e para manifestarmos, uns aos outros, a solidariedade de nossas orações."

Inaugurada no século 19, a Catedral tem capacidade para 700 pessoas sentadas. A lotação foi ultrapassada na missa, com boa parte da plateia em pé ou ajoelhada. Uma base comunitária da Guarda Civil de Campinas e uma viatura da Polícia Militar montaram guarda na área externa. "Como explicar e aceitar que na casa de Deus, no templo santo, material de pedras que nossas mãos ergueram para o louvor do Criador, o sangue das pedras vivas tenha sido violentamente derramado? Como entender e aceitar?", discursou.

Na sequência do sermão, o monsenhor citou a histórica bíblica de Caim e Abel, os dez mandamentos -- "não matarás" -- e a história de Cristo. "Jesus derramou seu sangue no lenho da cruz, pacificando, assim, o ódio, a revolta e todo descontrole", afirmou. "Em tempos de conflito, jamais o confronto."

O monsenhor agradeu, ainda, o trabalho da Guarda Municipal, das Polícias Civil e Militar, e da prefeitura de Campinas. "Gratidão a todos que na hora do desespero nos socorreram."

O analista de contas Altair Ribeiro Dias, de 45 anos, passou a maior parte da cerimônia de olhos fechados e ajoelhado. Portador de câncer no cérebro, ele havia ido à Catedral no dia anterior mas saiu pouco antes do ataque para um consulta com o neurocirurgião. "Eu estava sentado no mesmo banco do rapaz", contou. "Ele estava sereno, não esboçou nenhuma reação."

"Todos os dias, eu agradeço a Deus por ter câncer. Ontem, também agradeci", disse Dias. Os disparos aconteceram quando a missa já havia sido encerrada. Segundo o analista, só havia "senhorzinhos e senhorinhas" na igreja. "Me senti na obrigação de vir aqui rezar por eles. Você não imagina o que é encontrar com essas pessoas quase todos os dias... É como uma família."

"Vim prestar minha solidariedade, foi muito triste. A gente pensa que só acontece nos outros lugares, mas nunca próximo da gente", afirmou a aposentada Aparecida Lino, de 61 anos, que, apesar de católica, não costuma frequentar a igreja. "Estava pelo centro ontem, pensei em entrar para fazer uma oração, mas acabei desviando meu caminho. Deus, todo poderoso, guarda a gente."

Apesar do grande número de pessoas, a cerimônia iniciou e terminou sem tumultos. Em um dos momentos mais emocionantes, os fiéis cantaram em coro a oração de São Francisco de Assis: "E é morrendo que se vive para a vida eterna. Amém."

Estadão
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