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O outro lado do olímpico Engenhão: lixo e porcos ocupam ruas

11 mai 2016 - 09h02
(atualizado em 23/5/2016 às 10h53)
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A menos de três quilômetros do Engenhão, o estádio que vai receber em agosto Usain Bolt, entre outras celebridades do esporte mundial, o acúmulo de lixo em vias públicas denuncia a ausência de serviços básicos para os moradores do bairro de Engenho de Dentro. Somam-se ao mau cheiro a proliferação de mosquitos e ratos e a certeza de que os benefícios dos Jogos Olímpicos só contemplam pequena parte do Rio de Janeiro. Essa realidade está distante dos discursos das autoridades que tentam usar o megaevento para projetar uma imagem maquiada da sede olímpica.

Porcos, lixo e sucata invadem calçada em rua do Engenhão
Porcos, lixo e sucata invadem calçada em rua do Engenhão
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

A partir de hoje, o Terra vai publicar uma série de reportagens sobre o abandono do bairro olímpico, o Engenho de Dentro, na zona norte da capital carioca. Ali vivem cerca de 45 mil vizinhos do Engenhão, o coração dos Jogos, onde vão ser disputadas 95% das provas de atletismo em agosto. Lixo, falta de água, esgoto a céu aberto e segurança precária são alguns dos tópicos que vão ser abordados.

Porcos, lixo, sucata e crianças dividem mesmo espaço

O descaso no local produz cenas que chocam, impressionam. Na Rua Mário de Sousa Martins, no Morro Camarista Méier, o único do Engenho de Dentro, um grupo de porcos costuma chafurdar diariamente num amontoado de restos de comida, plásticos, garrafas, papeis, pedaços de ferro e de móveis, etc, bem ao lado das casas. A imagem evidencia que não existe ali uma coleta regular de lixo. Moradores, envergonhados, fogem das câmeras a fim de evitar humilhações.

Até um cavalo pode ser visto revirando o lixo acumulado pelo bairro do Engenhão
Até um cavalo pode ser visto revirando o lixo acumulado pelo bairro do Engenhão
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

Quando a reportagem do Terra chegou ao local, várias crianças brincavam a dois, três metros de distância dos porcos. Mas elas se afastaram rapidamente ao ver que poderiam sair nas fotografias ao lado do lixo e dos animais. “Isso é muito triste. É indigno para o ser humano viver assim”, lamentou o repórter comunitário André Luís Bezerra, nascido e criado no Engenho de Dentro.

O repórter comunitário André Luís Bezerra, nascido e morador do Engenhão, tinha esperança de ver mudanças positivas no bairro com a realização dos Jogos Olímpicos
O repórter comunitário André Luís Bezerra, nascido e morador do Engenhão, tinha esperança de ver mudanças positivas no bairro com a realização dos Jogos Olímpicos
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

Ele esperava que os Jogos Olímpicos mudassem a vida no bairro. Está decepcionado. “O que a gente viu nesse tempo todo, desde o anúncio do Rio como sede olímpica, em 2009, foi a omissão do poder público. Quem acreditou em alguma coisa boa, se iludiu. O Engenho de Dentro só recebeu algumas obras de fachada no entorno do Engenhão. Nada mais.”

Moradores são impedidos pelo acúmulo de lixo de andarem nas calçadas pelo bairro olímpico
Moradores são impedidos pelo acúmulo de lixo de andarem nas calçadas pelo bairro olímpico
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

Cadê a coleta de lixo?

Em outras ruas do bairro, como na Engenheiro Oscar da Costa e na Álvaro Alencastro, o cenário é muito parecido. O lixo avança da calçada para as vias, atrapalha a passagem de carros e pedestres e expõe todos dali a riscos de doenças.

A Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), em contato com o Terra, informou que a coleta nas ruas próximas ao Engenhão passou a ser realizada todos os dias, pela manhã – até recentemente era feita às terças, quintas e sábados. A medida, segundo a empresa, foi tomada “porque os moradores não estavam respeitando o horário da coleta, colocando lixo para fora de casa em qualquer momento do dia”.

Prefeitura alega que a coleta de lixo tem sido feita regularmente e culpa moradores pelo acúmulo do entulho pelas ruas e calçadas do Engenhão
Prefeitura alega que a coleta de lixo tem sido feita regularmente e culpa moradores pelo acúmulo do entulho pelas ruas e calçadas do Engenhão
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

Para minimizar o problema, os garis receberam orientação para conversar com os moradores, entregando-lhes folhetos, com o objetivo de impedir o acúmulo de lixo.

Sobre o serviço no Camarista Méier, a Comlurb sustentou que mantém contêineres no local e o lixo fica acondicionado em baias, com coleta três vezes por semana – o que é negado por vários moradores.

Crianças brincam próximas ao lixo e dos porcos, ficando expostas a doenças e ferimentos pela sucata
Crianças brincam próximas ao lixo e dos porcos, ficando expostas a doenças e ferimentos pela sucata
Foto: Silvio Barsetti / Especial para Terra

“Eles não vão na parte de cima do morro”, afirmou André Luís Bezerra. “Aquela situação degradante na Rua Mário de Sousa Martins é crônica. Todo mundo ali sabe disso.”

A Comlurb também atribuiu aos moradores a reponsabilidade por algumas situações que fugiriam ao seu controle naquela comunidade. “Como o lixo também é colocado fora do dia e horário ao da passagem do caminhão, ele acumula e costuma ser espalhado por animais.”

Fonte: Silvio Alves Barsetti
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