Ninguém deve se surpreender se novo papa for africano ou asiático, diz cardeal de SP
Dom Odilo Scherer destacou que conclave faz 'discernimento coletivo', em que cardeais analisam situação da Igreja Católica e do mundo
Ainda não há data oficial para a escolha do novo pontífice após a morte do papa Francisco nesta segunda-feira, 21, aos 88 anos, mas já são apontados possíveis candidatos. Com maior diversidade entre os cardeais, representantes de diversos países aparecem nas listas.
Para o arcebispo de São Paulo, cardeal Dom Odilo Scherer, as "especulações" pouco refletem o que deve ocorrer no próximo conclave. Ele considera, contudo, que o futuro papa não necessariamente será europeu - origem dos antecessores de Francisco em mais de mil anos.
"Ninguém deveria se surpreender se fosse escolhido um cardeal africano para ser papa, ou um cardeal asiático ou novamente um italiano. Isso está nas possibilidades", declarou nesta segunda.
O arcebispo pontuou, contudo, que, independentemente da origem, o líder da Igreja Católica irá governar para todos. "Se isso acontecer, não significa que se voltou somente para a África ou a Ásia, ou que voltou as costas para a América ou que voltou a se centrar na Europa. Não, qualquer um que for escolhido como papa deverá cuidar da Igreja como um todo", acrescentou.
Dom Odilo deve viajar ao Vaticano em breve, para estar no funeral do papa e, na sequência, acompanhar os trabalhos de preparação do conclave. Como os demais cardeais com menos 80 anos, participará da eleição, cujos votos são secretos.
O cardeal disse que o próximo pontífice deverá seguir os preceitos do Evangelho, mas que cada um tem um perfil. "Um papa não é igual ao outro. Ninguém espere que o próximo papa seja um novo Francisco. Pode até ter o nome Francisco II, mas não será à imagem e semelhança", destacou.
Sobre o sucessor de Francisco, Scherer afirmou que "ser progressista ou conservador não é a preocupação" e disse que o próximo pontífice seguirá os valores da Igreja. "Ninguém espere um papa a favor da guerra, ninguém espere um papa contra os pobres, ninguém espere um papa que não diga aos padres: 'sejam bem formados'. Isso é norma geral. E, portanto, o próximo papa será alguém que vai cuidar bem da missão da Igreja."
O cardeal conclamou as pessoas a acolherem a figura do novo líder católico. "O próximo papa será uma pessoa humana, não um robô. E, portanto, vai governar a Igreja com o seu jeito, o seu caráter, sua personalidade, sua capacidade humana".
'É a escolha do papa, não de conchavos'. Isso é fantasia', diz sobre conclave
Também refutou que a escolha do novo papa seja eleitoreira e marcada por especulações, como trata o recente filme Conclave, que concorreu ao Oscar. "É a escolha do papa, não de conchavos. Isso é fantasia", afirmou. "Não é uma campanha eleitoral, é uma celebração", completou.
Nesse contexto, disse que a decisão vem de um clima de oração e senso de responsabilidade. "A responsabilidade é pela Igreja, não por um partido, um gosto", pontua.
"A escolha do papa é resultado de um discernimento coletivo. Por isso, tem as chamadas congregações gerais, onde os cardeais livremente analisam a situação da Igreja, falam das situações do mundo, dos desafios , das necessidades. E por aí vão traçando, mesmo sem mencionar diretamente", afirmou.
O arcebispo ainda definiu Francisco como um papa que "se preocupou com as periferias do mundo". Diante disso, foi o pontífice que mais escolheu cardeais de fora da Europa.
"Escolheu muitos cardeais de regiões 'periféricas' da Igreja", afirmou. "Para dizer que não estão na periferia da Igreja, mas no coração."
O perfil dos cardeais pode ter influência na decisão sobre o novo chefe da Igreja. Hoje, 108 dos 135 votantes do conclave que definirá o sucessor foram escolhidos por Francisco.
