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Incidência de raios aumenta 60% na cidade de São Paulo

Estudo do Elat/Inpe mostra que fenômenos como El Niño e La Niña em 2019 influenciaram alta na capital paulista

27 jan 2020 - 05h10
(atualizado às 11h43)
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SÃO PAULO - Influenciada por fenômenos climáticos como El Niño e La Niña, a cidade de São Paulo viu a incidência de raios disparar. É o que mostra um levantamento feito pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). De acordo com o estudo, obtido pelo Estado, foram contabilizados 44,8 mil raios no ano passado, contra 28 mil em 2018, uma alta de 60%.

"Os fenômenos estão associados à temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico Equatorial, que modulam as águas e sofrem aquecimento anormal com o El Niño e resfriamento acima do normal com a La Niña. Isso afeta a formação de tempestades e, consequentemente, de raios", explica Osmar Pinto Júnior, coordenador do Elat/Inpe.

A incidência de raios se concentra no verão, dado o período de chuvas. A capital paulista registrou 44,5 mil raios entre 21 de dezembro de 2018 e 20 de março de 2019, número próximo ao verificado durante todo o ano 2019. Entre 21 dezembro de 2017 e 20 de março de 2018, foram 19,3 mil raios. Na comparação entre os períodos, a alta é ainda maior, de 130%.

O aumento da poluição atmosférica também contribuiu para a maior incidência de raios, principalmente, durante o verão, período em que predominam as altas temperaturas e a umidade do ar.

"A poluição facilita a formação de tempestades e de raios porque a presença de uma quantidade maior de partículas originadas pelos poluentes colabora na absorção do vapor d'água que, posteriormente, pode formar nuvens de tempestades", explicou Mário Festa, meteorologista do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IGA) da Universidade de São Paulo (USP).

Mortes

Nos últimos 20 anos, 2.182 pessoas morreram no Brasil vítimas de raios. Com 30 vítimas, a capital paulista é a cidade com o maior número de mortes no País nesse período. A última foi registrada em março de 2017, quando um homem foi atingido ao procurar abrigo sob uma árvore.

"Quando o raio se forma, o ar ao redor da faísca é aquecido a 30 mil graus Celsius, causando uma violenta expansão podendo derrubar e matar facilmente uma pessoa", alerta Mário Festa.

Em termos comparativos com a voltagem doméstica de 110 ou 220 volts, um raio pode ultrapassar um milhão de volts.

A corrente do raio pode provocar queimaduras graves e deixar sequelas. "Os sobreviventes podem ficar com a visão prejudicada, ter dores de cabeça frequentes, alteração do humor e náuseas, além de queimaduras. Algumas pessoas chegam a ser arremessadas a alguns metros do local e sobreviver à descarga elétrica", acrescentou o meteorologista. No caso das mortes, a maioria é causada por parada cardíaca e respiratória.

De acordo com informações do Inpe, 80% das mortes acontecem ao ar livre e 20% dentro de casa. As situações mais perigosas se dão em locais abertos, como praias, parques e áreas rurais.

"Os quiosques dos parques nem sempre são locais suficientemente seguros. Dentro de casa, as pessoas estão mais protegidas, mas há riscos quando estão perto de geladeira e tomam banho. Dentro do carro, a pessoa está relativamente protegida", afirma Osmar Pinto Júnior.

Prejuízo

Entre 22 de dezembro de 2019 e 19 de janeiro deste ano, foram registrados 3,6 mil raios, sendo entre os dias 5 e 10 o período de maior incidência.

No último dia 7, a cidade de São Paulo registrou 1,5 mil raios, quantidade elevada que é registrada poucas vezes por ano em uma única data. A dona de casa Aline Barros, de 21 anos, que mora na Vila Verde, na zona leste da cidade, teve o televisor queimado.

"Sempre que percebo que tem tempestade e raios, eu procuro tirar da tomada os eletroeletrônicos que tenho em casa, mas neste dia não deu tempo e minha televisão queimou", disse Aline.

Em nota, a Enel Distribuição São Paulo afirma que entrou em contato com a cliente e enviou, por e-mail, uma carta de solicitação dos orçamentos. Para seguir com as tratativas, a distribuidora aguarda os orçamentos necessários.

O fenômeno, no entanto, não deve se repetir neste ano, dado que a cidade não está sob os efeitos do El Niño e da La Niña. Com isso, acreditam os especialistas, a tendência é que a incidência de raios permaneça estável.

"No entanto, o Brasil é o País com a maior incidência de raios no mundo, cerca de 80 milhões por ano", diz Festa.

Como evitar acidentes com raios

Diante dos perigos provocados por descargas elétricas, medidas de segurança devem ser adotadas. Locais com prédios com para-raios tendem a ser mais seguros.

Para o coordenador do Elat/Inpe, eles ajudam na proteção, desde que sejam observados alguns fatores. "Por exemplo, não há registro de pessoas atingidas por raios na Avenida Paulista, mas é preciso ter noção de que os para-raios vão proteger a pessoa que está a uma distância da mesma ordem da altura do prédio."

Sempre que começam os raios, o professor de inglês Alexandre Mollo, de 49 anos, busca abrigo dentro de estabelecimentos comerciais ou prédios. "Se não houver nenhum lugar por perto, eu rezo bastante. Também procuro não chegar perto de postes de energia."

Da mesma forma, a comerciante Isabel Cristina da Silva, de 64 anos, redobra a atenção. "Mantenho distância de tomadas e equipamentos eletrônicos. Evito tomar banho. Se estou na rua, nunca fico embaixo de árvores e nem uso celular."

O ideal é que a pessoa encontre o mais rápido possível um local seguro.

"De preferência de alvenaria. Também tire relógios e todos os objetos metálicos que tiver no corpo, que podem atrair descarga elétrica", orienta o tenente André Elias dos Santos, porta-voz do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Estadão
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