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Expectativa de vida do brasileiro aumenta, mas cálculo ainda não incorpora pandemia, diz IBGE

Aumento em 2020 foi de 76,6 anos para 76,8 anos. Efeitos das mortes provocadas pela doença na expectativa de vida só devem ser mensuradas a partir do dado de 2023

25 nov 2021 - 09h25
(atualizado em 2/12/2021 às 11h52)
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BRASÍLIA E RIO - A expectativa de vida do brasileiro subiu dois meses e 26 dias em 2020, passando de 76,6 anos em 2019 para 76,8 anos, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira, 25, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O cálculo, no entanto, ainda não incorpora o efeito da pandemia por questões metodológicas.

As informações estão na Tábua Completa de Mortalidade de 2020, publicada no Diário Oficial da União (DOU). É esperado, no entanto, que o aumento no número de óbitos por covid-19 tenha abreviado essa expectativa de vida, embora ainda não apareça nesse cálculo. "O que eu não consigo é mensurar agora quanto afetou em 2020 e 2021. Para fazer esse cálculo, preciso de dados mais robustos, mas sem dúvida o impacto é negativo", confirmou a demógrafa Izabel Guimarães Marri, gerente de população do IBGE.

O aumento da expectativa em 2020 (sem o ajuste metodológico), embora menor do que em relação ao avanço anterior, mantém a tendência de crescimento da taxa por anos consecutivos. Há quase dez anos, em 2011, a esperança de vida do brasileiro era de 74,1 anos. No ano seguinte, passou para 74,6 anos e depois para 74,9 anos. Em 2014, a taxa ficou em 75,2 anos; em 2015, em 75,5 anos; em 2016, 75,8 anos; em 2017, 76 anos; e, em 2018, foi de 76,3 anos.

Em 1940, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer era muito baixa, de 45,5 anos. Depois disso, com redução da mortalidade infantil e outros avanços da Medicina e do País, o número vem crescendo consistentemente. Em 1980, chegou a 62,5 anos e, no ano 2000, a 69,8. Nas últimas duas décadas, os ganhos foram um pouco mais lentos. Mesmo assim, nunca se registrou decréscimo.

A Tábua de Mortalidade tem periodicidade anual e fornece estimativas da expectativa de vida às idades exatas até os 80 anos. Sua abrangência é nacional e traz resultados por sexo e idade. Os dados são usados como um dos parâmetros para determinar o fator previdenciário, no cálculo das aposentadorias do Regime Geral de Previdência Social.

Metodologia e pandemia

O órgão estatístico explica que para captar a realidade atual da expectativa de vida em meio à pandemia a metodologia de cálculo precisaria ser alterada, o que demanda tempo, discussão e mais informações.

"A gente divulgou por força da lei. A gente não alteraria agora a metodologia, a gente não faria isso. Alterar a metodologia requer estudos, requer dados mais sólidos", explicou a pesquisadora do IBGE.

"Depende do uso que é dado para essa informação, pode gerar alguma contestação, é possível", confirmou Izabel, sobre possíveis contestações judiciais a respeito do dado sem a incorporação dos óbitos provocados pela pandemia. "A gente tem que sempre publicar por força da lei, sem alterar nesse momento a metodologia, sabendo e acompanhando o aumento dos óbitos, óbvio. A gente reconhece obviamente o aumento dos óbitos, a gente acabou de lançar a pesquisa do Registro Civil, com aumento dos óbitos", lembrou a demógrafa.

As mortes por covid serão incorporadas à esperança de vida apenas na divulgação de 2023, referente ao ano de 2022, mesmo assim em caráter preliminar, contou a pesquisadora do IBGE. A Tábua de 2021, com divulgação no ano que vem, ainda não será atualizada, ou seja, ainda trará os dados sob a metodologia atual, sem o impacto da pandemia. No entanto, Izabel ressalta que o baque na esperança de vida em 2021 seja ainda maior do que em 2020, por conta de uma maior concentração no número de mortos por covid.

"É bem provável que em 2023 a gente tenha uma Tábua preliminar (corrigida pela covid) para Brasil. Para unidades da federação, precisa dos dados do Ministério da Saúde, que demora um pouco mais", explicou. "Em 2024, a gente vai ter a Tábua (referente a 2023) com todos os ajustes e estudos por unidades da federação", previu.

Em nota, o IBGE explicou que as informações divulgadas nesta quinta-feira, 25, são provenientes de uma projeção de mortalidade elaborada a partir de dados populacionais do Censo Demográfico 2010, além de notificações e registros oficiais de óbitos. As consequências da crise sanitária serão assimiladas quando as novas Tábuas de Mortalidade puderem usar como base os dados do Censo Demográfico 2022, "momento em que elas serão revistas, considerando-se uma estimativa mais precisa da população exposta ao risco de falecer, bem como os óbitos observados na última década", informou o órgão.

As Tábuas Completas de Mortalidade para o Brasil 2020 advêm, pois, de uma projeção da mortalidade, sendo certo que esta não incorpora os efeitos da pandemia da doença por coronavírus - COVID-19, iniciada naquele ano e ainda em curso no Brasil e no mundo no ano de 2021", justificou a nota técnica.

Registro Civil mostrou alta de 14,9% nas mortes em 2020

As tábuas de mortalidade publicadas hoje fornecem indicadores de mortalidade esperados caso o País não tivesse passado pela pandemia, mas a alta de óbitos pela pandemia pode ser constatada nas Estatísticas do Registro Civil, divulgadas no último dia 18.

As Estatísticas do Registro Civil 2020 apontaram uma alta de 14,9% no número de mortes no Brasil em relação a 2019, sendo maior para homens (16,7%) do que para as mulheres (12,7%). Houve redução nas mortes para menores de 20 anos de idade, mas concentração do aumento dos óbitos entre 60 e 80 anos. Esse aumento das mortes no ano de 2020, quando incorporado aos cálculos das Tábuas de Mortalidade, "deverá reduzir a expectativa de vida dos brasileiros nos anos afetados pela pandemia", reconheceu o IBGE na nota técnica.

O órgão ressalta que é pouco provável que a elevação nos óbitos ocorrida em 2020 e 2021 se mantenha nos anos seguintes. A expectativa do instituto é que a pandemia seja controlada e que o nível de mortalidade da população retorne ao patamar pré-crise, retomando a trajetória de redução observada nas últimas décadas.

Estadão
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