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Entre carros, Avenida Faria Lima é a rota do pedal

Número de ciclistas na via triplicou de 2013 a 2018, diz estudo; boa estrutura é vista como vantagem

3 ago 2018 - 03h11
(atualizado às 10h29)
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SÃO PAULO - Conhecida pelas aglomerações de carros e de ônibus, a Faria Lima, na zona oeste paulistana, tem abrigado um novo tipo de "congestionamento": o de bicicletas. Nos horários de pico, por volta de 8 e de 18 horas, já é comum ver um corredor de bikes na ciclovia da avenida, uma das mais importantes da cidade.

Segundo estudo da Aliança Bike, associação de empresas do setor de bicicletas, o número de ciclistas no local triplicou em cinco anos - de uma média diária de 1,7 mil em 2013 para 4,8 mil este ano. Mais da metade das bikes que passam (63%) é comum. As elétricas somam 9% e as que levam algum tipo de carga, quase 5%. Cerca de um quarto é do BikeSampa, principal sistema de compartilhamento da cidade.

Para o coordenador de projetos da Aliança Bike, Daniel Guth, um conjunto de fatores impulsionou o crescimento de viagens, com destaque para a conclusão dos ramais para a Avenida Berrini e para o Parque do Ibirapuera, na zona sul. Além disso, há uma rede alimentadora de ciclofaixas em vias que levam até a Avenida Faria Lima.

"Houve ainda o crescimento da infraestrutura de estacionamento de bicicletas nos destinos, tanto públicos quanto privados, a confluência de meios de transporte, como trem, metrô, ônibus e bicicletas compartilhadas, o adensamento de bicicletas compartilhadas ao longo da avenida, além da falência e da saturação do sistema viário", diz Guth.

Segundo ciclistas ouvidos pelo Estado, a Faria Lima se destaca em relação às outras por ter a via segregada no canteiro central, com mais segurança. Inaugurada em 1995, essa foi uma das primeiras ciclovias urbanas do Município.

Luiza Uerlings, designer de 25 anos, diz usar a bicicleta não só para se livrar de engarrafamentos, mas também encontrou no pedal uma atividade física. "Como não tenho tempo para ir à academia, vi na bicicleta um modo de me exercitar", diz.

"Não é nem só sobre os 20 minutos por dia a menos que fico parada no trânsito, mas pelo bem-estar que a bicicleta me traz", conta a jovem, que adotou a bike como meio de transporte há quatro meses. Segundo o estudo da Aliança Bike, 22% dos ciclistas na Faria Lima são mulheres.

Foi também em nome da qualidade de vida - e da economia - que o publicitário Marcelo Ranieri, de 35 anos, trocou o carro pela bicicleta, há um ano. Depois disso, leva só 8 minutos para ir de casa ao trabalho, passando pela Faria Lima. Antes, gastava meia hora no trajeto. "O trânsito é insuportável e a gasolina está cara. Vendi o carro. Senti muita diferença nas finanças", diz. "Se preciso ir a um lugar mais distante, uso metrô, ônibus ou táxi."

Ajustes

O aumento no fluxo, porém, também é alvo de queixas. "Tem muito ciclista folgado que não respeita semáforo, que fura fila", afirma Bárbara El Zein, também designer, de 26 anos.

Para Ranieri, embora a ciclovia se destaque de outras, ainda não é perfeita. "Faltam semáforos para pedestres em cruzamentos onde veículos, principalmente ônibus, cruzam a ciclovia. E falta iluminação à noite", diz.

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informou que está concluindo projeto de sinalização semafórica na Faria Lima. E disse que o Departamento de Iluminação Pública constatou a falta de uma caixa de energia da AES Eletropaulo e a concessionária já foi acionada.

Segundo a EcoCounter, empresa que monitora ciclovias em vários países, entre 1.º de janeiro e 24 de julho, mais de 750 mil bikes passaram na Faria Lima. Para comparação, a Avenida Paulista teve 350 mil viagens de bicicleta no período. O dado põe a via da Faria Lima entre as mais usadas do mundo: à frente de rotas de Dublin (Irlanda) e Montreal (Canadá), por exemplo.

Na Paulista, nº de frequentadores cai

Contagem da Aliança Bike feita no dia 19 na Avenida Paulista registrou 1.561 ciclistas. Em 2015, três meses após a inauguração da via segregada para bikes, foram registrados 2.112 em um dia. Mas para Daniel Guth, da Aliança Bike, o número alto em 2015 pode ser atribuído à repercussão da abertura da ciclovia. "(A da Paulista) não é tão conectada quanto a da Faria Lima. Há falhas de conectividade."

Na ciclovia da Paulista, onde há menos estações de bikes compartilhadas do que na Faria Lima, a média de bicicletas desse tipo é de somente 1%

Estadão
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