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Comércio da rua Barão de Tatuí sofre com onda de assaltos

Criminosos arrombam portas de madrugada e levam dinheiro e objetos de valor; proprietários reclamam de atendimento da polícia

8 abr 2020 - 22h31
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Ao menos seis estabelecimentos da rua Barão de Tatuí, em Santa Cecília, na região central de São Paulo, sofreram uma onda de assaltos nas últimas semanas. A série de crimes começou antes do decreto de quarentena pelo novo coronavírus, mas se intensificou com o fechamento de boa parte do comércio. A Polícia Militar informa que houve apenas um registro de ocorrência no endereço nos últimos 45 dias, de furto.

Restaurante, mercearia, banca e loja de arranjos de flores estão entre os alvos dos criminosos na região, que atuam sempre de madrugada. Os comerciantes da Barão de Tatuí acreditam que os crimes tenham ligação.

A Banca Tatuí amanheceu nesta quarta, 8, com a porta arrombada.
A Banca Tatuí amanheceu nesta quarta, 8, com a porta arrombada.
Foto: Divulgação/Banca Tatuí / Estadão

Uma das vítimas mais recentes foi Maria Pereira, de 58 anos, dona da mercearia Joana D'Arc, aberta ao público na quarentena. No domingo, 5, às 2h10 da manhã, seis homens arrombaram uma das três portas da loja e roubaram R$ 200 em dinheiro, uma televisão, talões de notas fiscais e documentos da proprietária. O bando, que estava com uma carroça, se assustou com um taxista que parou em frente ao local e foi embora sem levar produtos.

"Acredito que tinham planos de levar mercadoria porque estavam com a carroça estacionada. O taxista, conhecido nosso, percebeu e parou, mas deu ré e foi embora quando um deles partiu em direção ao carro. Por conta disso, mandaram sair quem estava dentro e fugiram. A rua tem estado muito esquisita e deserta", conta Maria, que gastou cerca de R$ 1 mil para consertar a porta danificada e reforçar a segurança.

Na mesma esquina, a poucos metros da mercearia, o restaurante Dona Elisa sofreu três invasões em pouco mais de um mês. A primeira ocorrência se deu na madrugada de 31 de janeiro, quando seis homens abriram a porta com um "pé de cabra", pegaram dezenas de barras de chocolate que estavam na região próxima ao caixa e saíram correndo depois de o alarme disparar.

O prejuízo foi pior na segunda vez, em 5 de março, às 2h05 da manhã. O bando roubou a gaveta do caixa, com aproximadamente R$ 600. E repetiu o procedimento três dias depois, mas já não havia nada dentro. "Não tem o que fazer. Consertei na primeira vez, reforcei na segunda e consertei de novo na terceira. Não consigo dormir à noite. Se o telefone toca mais tarde, já fico desesperado. É um desgosto, um trauma", lamenta o proprietário Euler Bernardes, 43, que estima o prejuízo total em R$ 2 mil.

As perdas foram ainda maiores para Vagner Moreira, 51, que faz arranjos de flores para eventos. Há um mês, ele perdeu celular, computador, relógios e até câmeras de segurança recém-compradas, que estavam prontas para ser instaladas. Nesta segunda-feira, 6, houve nova tentativa de arrombamento — sem sucesso.

Descrença na polícia

Moreira avalia o prejuízo em cerca de R$ 10 mil, mas se queixa, especialmente, por um relógio "carregado de valor sentimental". "Isso não tem preço. O que resta é levantar no outro dia, erguer a cabeça e trabalhar."

Até mesmo a Banca Tatuí, tradicional ponto de leitura e de venda de livros na região, foi alvo de criminosos. Na manhã desta quarta-feira, 8, os sócios Cecília Arbolave e João Varella encontraram a porta arrombada e o balanço — símbolo do estabelecimento — jogado na calçada. Por temer uma crise de segurança durante a pandemia, o casal já havia remanejado todos os livros para a Sala Tatuí, no prédio comercial onde fica o escritório da banca.

O balanço da Banca Tatuí, símbolo do local, foi arrancado e jogado na calçada.
O balanço da Banca Tatuí, símbolo do local, foi arrancado e jogado na calçada.
Foto: Divulgação/Banca Tatuí / Estadão

Entre as vítimas dos crimes na Barão de Tatuí, predomina a descrença em ações efetivas da Polícia Militar. Além de ainda não terem recebido retorno, comerciantes reclamam do atendimento recebido. "Fui na delegacia. Parecia que estavam me fazendo um favor. Só falam para eu reforçar a segurança. Eu que tenho que reforçar?", questiona Euler Bernardes, do restaurante Dona Elisa.

Vagner Moreira nem sequer reportou às autoridades o crime em seu estabelecimento. "Estão atacando todo mundo aqui. Se você vai a uma delegacia, é discriminado. Não resolve nada, só perde tempo".

Em nota, a Polícia Militar de São Paulo afirmou que está direcionando o policiamento com base no banco de dados e ferramentas inteligentes para maior efetividade da prevenção. "Se os casos ocorreram, é importante que a sociedade registre os fatos para auxiliar o trabalho da Polícia Militar, e também a Polícia Civil, e assim, através da investigação, descubra a autoria e prenda os criminosos", diz a PM.

Estadão
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