PUBLICIDADE

Com recorde de internações, Centro de Contingência cogita criar fase mais restritiva que vermelha

Possibilidade está em estudo por comitê de especialistas que orienta ações do Governo de São Paulo; classificação mais rígida atual permite funcionamento exclusivamente de estabelecimentos considerados essenciais

26 fev 2021 - 15h49
(atualizado às 17h15)
Compartilhar
Exibir comentários

Com aumento nos óbitos, casos e internações por covid-19, especialmente em UTI, o Centro de Contingência do Coronavírus estuda criar uma classificação mais restritiva que a vermelha para o Plano São Paulo. Hoje, a fase mais rígida do plano de flexibilização da quarentena permite o funcionamento exclusivamente de estabelecimentos considerados essenciais, como supermercados, farmácias e postos de gasolina.

"O Centro de Contingência, sim, está estudando para propor uma inclusão no Plano São Paulo de uma nova classificação, que poderia ter mais restrições do que a fase vermelha", disse João Gabbardo, coordenador executivo do comitê, formado por especialistas em saúde e que orienta ações do governo estadual. Ele destacou que a recomendação também depende de adesão da gestão João Doria (PSDB).

"Pela característica dessa pandemia nessas últimas semanas, pelo o que vem acontecendo nos Estados da região Sul, pelo o que aconteceu em Manaus e em algumas regiões e municípios daqui, de São Paulo, talvez medidas ainda mais drásticas tenham que ser tomadas. Mas, insisto, isso ainda está em uma fase de avaliação no Centro de Contingência e, após essa avaliação, ela poderá ou não ser encaminhada para implementação no Plano São Paulo", acrescentou, em coletiva de imprensa.

Nesta sexta-feira, Doria anunciou a reclassificação de sete regiões pelo Plano São Paulo. A Grande São Paulo e as regiões de Campinas, Sorocaba e Registro saíram da fase amarela para a laranja. Nesse faseamento, todos os estabelecimentos liberados pela amarela podem funcionar, mas até as 20 horas (em vez de 22 horas), com até 40% de ocupação, funcionamento limitado a 8 horas por dia e, no caso dos bares, veto à venda de bebidas para consumo no local. Os prestadores de serviços considerados essenciais, como supermercados, farmácias e postos de gasolina, não têm limitação.

As regiões de Marília e Ribeirão Preto foram da fase laranja para a vermelha, na qual seguem Bauru, Araraquara, Presidente Prudente e Barretos. Segundo o governo, 76% da população estadual está na fase laranja, enquanto 9% na amarela e 15% na vermelha. Somente a região de Piracicaba teve melhora e foi para a fase amarela.

A reclassificação passará a valer na segunda-feira, 1º. As regiões com piores taxas de ocupação de UTI são as de Bauru (92,3%), Presidente Prudente (90,5%) e Araraquara (90,4%).

O Estado está com 6.767 internados com suspeita ou confirmação da covid-19 em leitos de UTI, o maior registro de toda a pandemia em São Paulo, que é 8% superior ao recorde de 2020, datado de julho. A média diária de novas internações é de 1.740, uma elevação de 13% em relação à da semana anterior. Outros 8.042 pacientes estão em enfermaria. "A segunda onda tem sido potencialmente mais trágica que a primeira. Isso é um fato, um fato triste", lamentou Doria.

Ao todo, são 2.026.125 casos e 59.129 óbitos por covid-19 confirmados. A taxa de ocupação é de 70,4% em UTI e de 51,2% em leitos de enfermaria, média que fica em 70,8% e 57,1%, respectivamente, na região metropolitana de São Paulo.

Além disso, foi identificado um aumento de 6% em casos (média de 9.117 novos por dia) e de 4% em óbitos (média de 231 por dia) na atual semana epidemiológica em relação à anterior, que segue até sábado. "Ele pode ser ainda maior por dois motivos: nós não acabamos ainda a semana epidemiológica (termina no sábado). Esses dados podem estar ainda represados, como a gente vem falando e, possivelmente, ainda possam ter uma elevação ao longo do próprio dia", explicou o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn.

O secretário destacou que, se as medidas restritivas não forem cumpridas e o crescimento de pacientes internados se mantiver, o Estado terá um esgotamento de leitos de UTI em 20 dias, o que pode ocorrer em 19 dias na região metropolitana de São Paulo. "Estamos fazendo o melhor, mas tudo tem limite: recursos; recursos humanos, então, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas; espaços em UTI para aumentar. Nós temos o risco de colapsar. Nós precisamos do apoio da população."

Coordenador do Centro de Contingência, Paulo Menezes apontou que há um crescimento médio de 1,6% no número de internações em UTI diariamente no Estado. Para ele, se as medidas de restrição forem seguidas, é possível que impactem a tendência de aumento em uma semana, com a estabilização e início de decréscimo nas taxas.

Governo de SP cogita contratar leitos em hospital privado na capital

Gorinchteyn disse que o Estado de São Paulo planeja novas ampliações de leitos de internação e cogita a abertura de hospitais de campanha, especialmente em espaços hospitalares já existentes. Ele também relatou que o governo estadual recebeu uma oferta para utilizar as instalações de um hospital na região central paulistana, que está "absolutamente vago".

"São 130 leitos que poderiam ser utilizados. Só precisaria ser incrementada a movelaria e inseridos os profissionais para o atendimento", afirmou. O secretário não informou, contudo, o nome da instituição.

"Todas essas possibilidades já estão sendo avaliadas e, possivelmente, retomadas nos próximos dias. A medida que nós tivermos um incremento ainda maior de ocupação dos leitos de UTI."

Segundo ele, a reabertura de hospitais de campanha em espaços abertos, como foi no Estádio do Pacaembu e no Complexo do Ibirapuera, demandaria mais tempo e, por isso, não é prioridade. "Os hospitais de campanha estão sendo realmente avaliados, de preferência vão acontecer dentro de unidades hospitalares já existentes, para que a gente possa ter uma celeridade na abertura e início da sua assistência", disse.

"Frente à velocidade da instalação da pandemia, não teremos tempo de abrir licitação, como fizemos para os hospitais de campanha naquela época (primeiro semestre de 2020)", argumentou.

Além disso, o secretário destacou que as ampliações dependem também da disponibilidade de recursos humanos, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas.

Em 13 de fevereiro, São Paulo reativou o hospital de campanha na estrutura interna do prédio do AME (Ambulatório Médico de Especialidades) Barradas, localizado em Heliópolis, na zona sul da Capital. O espaço conta com 24 leitos de UTI e outros 20 de enfermaria e, na quinta-feira, 25, estava com 85% de ocupação.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade