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Com Gaby Amarantos, Parada da Diversidade tem casamento gay

Dois casais homoafetivos formalizaram a união durante a parada

1 set 2014 - 10h45
(atualizado às 10h49)
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Gays, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros, além de simpatizantes do movimento coloriram a Avenida Nações Unidas
Gays, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros, além de simpatizantes do movimento coloriram a Avenida Nações Unidas
Foto: Tatiane Zaparolli / Terra

Considerado o maior evento do gênero no interior de São Paulo, a 7ª Parada da Diversidade de Bauru, reuniu cerca de 60 mil pessoas neste domingo, segundo estimativa da Polícia Militar. Debaixo de sol forte e calor de 32ºC, a parada deixou a praça da Paz por volta das 16h, após a execução do Hino Nacional. Gays, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros, além de simpatizantes do movimento coloriram a Avenida Nações Unidas - seguindo dois trios elétricos - até o parque Vitória Régia, um dos cartões postais da cidade.

O tema da edição deste ano defende a diversidade da família. Os participantes também foram convidados a doar um quilo de ração, em apoio à causa animal. Todos os donativos serão encaminhados ao Conselho Municipal de Defesa dos Animais e distribuídos às ONGs de proteção animal da cidade.

“A sociedade impõe um padrão de família heteronormativa, com pai, mãe, filhos, cachorro, papagaio. Como naqueles comerciais de margarina na TV. Mas as novas famílias não têm essa formação. Queremos mostrar para a sociedade que a diversidade é imensa”, explica Rick Ferreira, coordenador da Associação Bauru pela Diversidade (ABD), que organiza o evento.

Assim como nos anos anteriores o prefeito de Bauru, Rodrigo Agostinho (PMDB), participou do evento, na companhia da noiva Daniela Modolo. “Não há um tema que tenha avançado tanto quanto a diversidade. Bauru é pró ativa nessa questão e a parada faz as pessoas refletirem”, avalia o prefeito.

O evento encerra a semana de combate ao preconceito e discriminação, instituída por lei municipal de 2010. Diversas atividades foram realizadas, entre elas palestra mesa redonda e a premiação de personalidades, empresas e instituições do município que se destacaram no combate ao preconceito com o troféu “Eu faço a Diferença 2014”.

Mas além do caráter cívico, o evento também é celebração. Muita gente aproveitou o domingo quente e ao som de música eletrônica para se divertir e paquerar. Entre as mais animadas estava a drag queen madrinha do evento Rubya Bittencourt, que usava sapatos com saltos de 15 cm de altura e coberto com cristais. “Dá pra comprar um apartamento com esse sapato”, brincou.

Já a auxiliar técnica de judô Glaissy Lucena encarou os 160 quilômetros que separam São Carlos (SP) a Bauru na companhia de amigos e do filho, Auky, de 11 anos. “É o segundo ano que a gente vem e pretendo vir mais vezes. O pessoal respeita a gente e a festa é animada”, disse Glaissy, segurando o filho sobre os ombros.

Em meio a inúmeras bandeiras coloridas, Isadora de apenas um ano e meio chamava a atenção em um mini veículo cor de rosa. Na companhia dos pais e de uma prima, ela vestia uma camiseta com a logomarca da parada. “A gente sempre vem e eu não poderia deixar de trazê-la”, diz a mãe da menina, a dona de casa Fernanda dos Santos.

Há também quem aproveitou a tarde para ganhar dinheiro. Morador na capital paulista, Carlos Vianna participa de paradas gays de todo o País vendendo artigos voltados ao público LGBT. Para Bauru ele trouxe terços coloridos, usados pelos católicos para oração do Santo Rosário. “Esse terço foi criado depois que um LGBT foi agredido na Avenida Paulista em São Paulo, em julho. Ele estava usando um no pescoço e um padre desceu do carro, arrancou do pescoço dele e mandou ele criar ‘vergonha na cara’. Pra gente, além da oração, serve como protesto”, explica. Mas segundo ele o artigo mais vendido durante o dia foi a bandeira colorida.

Troca de alianças

Para dois casais homoafetivos a Parada da Diversidade deste ano foi a concretização de um sonho em comum: formalizar a união. A ABD esperava que ao menos cinco casais participassem da primeira cerimônia de casamento gay coletivo da cidade.

“Muitas pessoas queriam participar, mas desistiram por conta do preconceito. Eles avaliaram que a exposição, de se casar diante de tantas pessoas, poderia causar problemas. O medo de alguns, por exemplo, era perder o emprego ou não serem mais aceitos na família”, explica o presidente da ABD Aloísio Pereira da Silva Júnior.

A sétima edição da Parada da Diversidade terminou com o show da cantora paraense Gaby Amarantos
A sétima edição da Parada da Diversidade terminou com o show da cantora paraense Gaby Amarantos
Foto: Tatiane Zaparolli / Terra

Mas para chefe de cozinha Silvana Lopes, 46 anos, e a companheira dela Rosana Cristina da Silva Pedro, 46, a troca de alianças fortaleceu ainda mais a relação. Juntas há 22 anos, elas legalizaram o casamento civil em um cartório da cidade, na última sexta-feira, sob as bênçãos da família. E, visivelmente emocionadas, trocaram alianças no palco montado no parque Vitória Régia, sob aplausos de milhares de pessoas.

Silvana tem três filhas, fruto de dois casamentos heterossexuais e conta que enfrentou preconceito no início da relação com Rosana. “Nos conhecemos num antigo clube da cidade, durante uma exposição. Nós duas estamos trabalhando e nos tornamos amigas. Mas muitas pessoas apontavam pra gente dizendo que nos relacionávamos. A única relação que havia era a de amizade”, disse. “Depois que me divorciei acabamos buscando apoio uma na outra e foi quando nos aproximamos”, relembra.

“Temos uma vida juntas e queríamos resolver nossa situação. Agora temos os mesmos direitos dos casais héteros perante a lei”, disse Rosana. Questionada sobre o segredo para uma relação tão duradoura ela é rápida. “Respeito, acima de tudo”.

Outro casal que trocou alianças no palco foi a atendente Fabiana do Nascimento, de 23 anos, e a operadora de caixa Ana Carolina Barbosa do Nascimento, 31. No dia anterior a parada elas se casaram em um cartório da cidade, receberam a benção de um pastor e realizaram uma festa para familiares e amigos. Juntas há quatro anos, elas decidiram há apenas 20 dias trocar alianças.

“Já moramos juntas e queríamos oficializar nossa união. Foi muito emocionante para nós. Agora planejamos ter filhos, ano que vem, quem sabe”, contou Fabiana.

Desde que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que, na prática, legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em maio de 2013, a estimativa da ABD é que cerca de 100 casais tenham feito o registro civil.

“Os cartórios não separam os casamentos entre heterossexuais e homossexuais. Pra eles é a mesma coisa. Por isso não temos o número exato. Mas é um número considerável. Sempre orientamos as pessoas a regularizarem sua situação”, disse o presidente da ABD, Aloísio Júnior.

A sétima edição da Parada da Diversidade terminou com o show da cantora paraense Gaby Amarantos. De acordo com o capitão da PM, Samuel Gomes, durante o evento houve apenas uma apreensão de entorpecente, uma ocorrência de desacato e alguns registros de briga, porém não houve registro de ocorrências graves.

Fonte: Especial para Terra
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