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'Até a máfia tinha mais ética', diz jornalista sobre detenção de namorado

Famoso por investigar escândalo de espionagem americana, Glenn Greenwald condenou constrangimento sofrido por seu namorado brasileiro

19 ago 2013 - 14h35
(atualizado às 14h38)
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David Miranda (esq.) ficou detido por nove horas em aeroporto de Londres
David Miranda (esq.) ficou detido por nove horas em aeroporto de Londres
Foto: AP

O jornalista americano Glenn Greenwald deu detalhes nesta segunda-feira, em artigo publicado no jornal britânico The Guardian, a respeito da detenção de seu namorado, o brasileiro David Miranda, no aeroporto de Heathrow, em Londres. Famoso mundialmente por trazer à tona o escândalo de espionagem dos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido, envolvendo o ex-agente da Agência de Segurança Nacional americana (NSA) Edward Snowden, Greenwald afirmou que as autoridades britânicas demonstraram ter menos escrúpulos do que organizações criminosas na tentativa de intimidar o trabalho da imprensa.

"Até a máfia tinha regras éticas contra atacar membros da família de pessoas pelas quais ela se sentia ameaçada. Mas as marionetes do Reino Unido e seus mestres da Secretaria de Estado americana obviamente não têm constrangimento em demonstrar os mínimos escrúpulos", criticou Greenwald, que vê uma escalada de ataques do Estado contra jornalistas dispostos a denunciar a violação de liberdades.

"Este episódio é obviamente uma profunda escalada dos seus ataques contra o processo de apuração de fatos e o jornalismo. Já é ruim processar e deter fontes (jornalísticas). É ainda pior prender jornalistas que noticiam a verdade. Mas passar a deter familiares e entes queridos dos jornalistas é simplesmente despótico", acusou o jornalista americano.

Segundo Greenwald, as autoridades britânicas se resguardaram sob a lei antiterrorismo para praticar uma atitude deliberada de intimidação contra Miranda, que fazia escala em Londres em direção ao Rio de Janeiro, após retornar de viagem a Berlim, onde havia se encontrado com a documentarista americana Laura Poitras, que também investiga o escândalo da NSA.

"Eles (autoridades) abusaram completamente de sua própria legislação antiterrorismo em um caso que não tinha qualquer relação com terrorismo: um grande lembrete de como o governo mente seguidamente quando ele declara que precisa de mais poderes para deter 'os terroristas', e quão perigoso é conceder poderes ilimitados a políticos", disse Greenwald. "Isso foi uma atitude deliberada para passar uma mensagem de intimidação a aqueles que, como nós, apuram jornalisticamente as denúncias contra a NSA e sua homóloga britânica, a GCHQ (o serviço de inteligência do Reino Unido)."

Por fim, o jornalista afirma que as atitudes dos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido terão um efeito contrário ao imaginado, deixando ainda mais clara a necessidade de se investigar profundamente o escândalo de espionagem de cidadãos. "Se os governos dos EUA e do Reino Unido acreditam que táticas como essa vão nos intimidar ou nos impedir de seguir investigando o que os documentos (divulgados por Snowden) revelam, eles estão muito enganados. Na realidade, terá apenas o efeito contrário: nos encorajar ainda mais", previu.

"Além disso, cada vez que os governos dos EUA e do Reino Unido demonstram sua verdadeira face ao mundo - quando eles impedem que o avião do presidente boliviano voe em segurança para seu país, quando eles ameaçam jornalistas com processos, quando eles tomam atitudes como a de hoje - tudo que eles fazem é ressaltar o porquê de ser tão perigoso permitir que eles exercitem um poder de espionagem sem quaisquer restrições", concluiu.

Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.

Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.

Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.

O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.

Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.

Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.

Fonte: Terra
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