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Aproximação de Bolsonaro com Centrão cria novo desenho político na Câmara

Partidos como DEM e PSDB se unem para defender agenda comum e articular a sucessão de Rodrigo Maia

22 mai 2020 - 15h04
(atualizado às 22h22)
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BRASÍLIA - A aliança do Centrão com o presidente Jair Bolsonaro criou um novo desenho político na Câmara. Sem se assumir como base do governo e distantes da oposição, partidos como DEM e PSDB se uniram para defender uma agenda em comum e também discutem um nome de consenso para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Casa.

Chamado internamente de "núcleo independente", o grupo informal tem ainda a participação do MDB e Cidadania e da parte do PSL que rompeu com Bolsonaro. No total, esses partidos reúnem 102 deputados, embora existam entre eles nomes governistas.

O plenário da Câmara dos Deputados
O plenário da Câmara dos Deputados
Foto: Agência Senado / Estadão

"Esse grupo independente acabou se formando de uma forma muito natural", disse o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP). "Dos dez grandes partidos, o PT é oposição, o PSL está dividido e quatro foram para o governo", afirmou. As legendas citadas por ele na base do governo Bolsonaro são o Republicanos, o Progressistas (antigo PP), o PL e o PSD, que reúnem 146 parlamentares. "Passamos a conversar mais agora por conta de que existe o bloco da oposição, o do Centrão e um bloco que tem independência das suas posições", disse Sampaio.

Sob pressão de aliados e após sofrer sucessivas derrotas políticas no ano passado, Bolsonaro passou a distribuir cargos aos partidos do Centrão em troca de apoio no Congresso, ressuscitando a velha prática do "toma lá, dá cá". Até agora, Progressistas, Republicanos e PL já foram contemplados. O DEM, embora tenha se unido a este novo bloco, mantém os pés no Centrão e também tem indicados em cargos no governo, como na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

A ideia deste novo núcleo é se apresentar como o "fiel da balança" nas votações da Câmara, como um meio termo entre governo e oposição. Na prática, sabe que o Palácio do Planalto precisará do seu apoio, por exemplo, para aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC).

"É um grupo de partidos que tem uma identidade mais sólida, que costumam a pensar e votar da mesma forma e, portanto, seguem alinhados para se posicionar na votação de projetos atuais e estratégias pensando no futuro", disse o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB).

A ala não governista do PSL também dá apoio ao bloco. "O PSL é um partido absolutamente independente e assim se manterá. É importante a união de outras siglas em torno desse bloco independente, a criação de um núcleo forte que não se dobra às constantes tentativas de interferência do presidente da República no Parlamento", afirmou a líder do PSL, Joice Hasselmann (SP). O PSL elegeu 52 deputados, mas ao menos 19 são da ala chamada "bolsonarista", de apoio irrestrito ao presidente da República.

A formação do núcleo é estratégica também para a sucessão de Maia. A eleição da Câmara está marcada para fevereiro do ano que vem e o Centrão já vem trabalhando com possíveis candidatos, como o líder do PP, Arthur Lira (AL), e o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), os dois que podem ter o apoio de Bolsonaro na disputa.

No novo grupo informal, um nome que vem ganhando força é o do presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), mas ainda não há definição. Apesar de o MDB ter parlamentares na base do governo, Baleia é próximo do presidente da Câmara.

Estadão
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