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Governo busca explicações para vídeo sobre 1964

Nota oficial enviada pela Secretaria de Governo da Presidência da República (Segov) diz que o vídeo teria sido 'supostamente divulgado pela Secretaria de Comunicação (Secom) nos últimos dias'

1 abr 2019 - 21h49
(atualizado às 22h07)
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O vídeo em defesa do golpe de 1964, distribuído no último domingo, 31, por uma rede social do Palácio do Planalto, virou um jogo de empurra entre alas do governo. Depois de ter confirmado o envio do material por meio de uma lista de distribuição do Whatsapp, o governo agora levanta dúvidas sobre o caso e diz que o vídeo teria sido "supostamente" divulgado pela Secretaria de Comunicação (Secom). O ministério divulgou o comunicado após o PT entrar com representações para investigar as circunstâncias da produção e publicação do material.

Reprodução do vídeo divulgado pelo Whatsapp oficial do Planalto
Reprodução do vídeo divulgado pelo Whatsapp oficial do Planalto
Foto: Reprodução/Twitter Eduardo Bolsonaro (@BolsonaroSP) / Estadão

A nota oficial enviada pela Secretaria de Governo da Presidência da República (Segov) diz que o vídeo teria sido "supostamente divulgado pela Secretaria de Comunicação (Secom) nos últimos dias", e usa o termo "eventos relativos a 1964" para se referir ao golpe militar. "A Segov informa que estão sendo adotadas as medidas para o perfeito esclarecimento do assunto", diz a nota.

No último domingo, a Secretaria de Comunicação do governo confirmou, oficialmente e por escrito, ao Broadcast/Estadão, que o vídeo "foi divulgado por meio de nosso canal oficial do governo federal no Whatsapp" e informou que o Palácio do Planalto não iria se pronunciar sobre o assunto.

O vídeo também foi publicado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em seu Twitter. "Num dia como o de hoje o Brasil foi liberto. Obrigado militares de 64! Duvida? Pergunte aos seus pais ou avós que viveram aquela época como foi?", disse, no post em que anuncia o vídeo.

A narrativa do vídeo usa a mesma definição adotada pelo presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus ministros militares para classificar o fato histórico. Para eles, a derrubada de João Goulart do poder, que marcou o início de um período de 21 anos de ditadura militar no Brasil, foi um movimento para conter o avanço do comunismo no País.

"O Exército nos salvou. O Exército nos salvou. Não há como negar. E tudo isso aconteceu num dia comum de hoje, um 31 de março. Não dá para mudar a história", diz o apresentador do vídeo. No domingo, o golpe completou 55 anos, e a data gerou manifestações em pelo menos dez capitais, além do Distrito Federal.

O aniversário de 55 anos virou pano de fundo para mais uma polêmica na gestão Jair Bolsonaro, após o presidente recomendar aos quartéis comemorarem a "data histórica". Em entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, ele também minimizou o fechamento do Congresso Nacional.

Diante das reações, Bolsonaro mudou o discurso e passou a falar em "rememorar" o golpe. Segundo a Comissão Nacional da Verdade (CNV), 434 pessoas foram mortas pela repressão militar ou desapareceram durante a ditadura (1964-1985).

Hoje, as bancadas do PT na Câmara dos Deputados e no Senado Federal entraram com representações na Procuradoria Geral da República (PGR), na Controladoria Geral da União (CGU) e na Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão pedindo investigação sobre as circunstâncias de produção do vídeo. Os parlamentares também representaram contra o deputado Eduardo Bolsonaro na Comissão de Ética da Câmara.

De acordo com o PT, o presidente Jair Bolsonaro usou os meios institucionais da Presidência para violar a Constituição. Nesta segunda-feira, 1º, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que a responsabilidade do vídeo é do Planalto. "Decisão do presidente. Foi divulgado pelo Planalto, é decisão dele."

O pedido do PT diz que o vídeo distorce a história e "viola a memória de toda à sociedade". Eles pedem a instauração de sindicância investigativa na CGU e cobram a identificação dos servidores envolvidos no caso.

À PGR, as bancadas pediram a investigação dos fatos e de violações sob a acusação de crime de responsabilidade. Eles pedem também que Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão acompanhe a apuração do caso.

Estadão
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