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Aliados e base de Bolsonaro pressionam Maia a contrariar PCdoB e encampar CPI da UNE

Deputado que protocolou pedido da CPI alega que apoio do PSL foi maior do que apoio do PCdoB a Maia na última eleição; Orlando Silva (PCdoB), dirigente da UNE, nega relação próxima com Maia

6 fev 2019 - 05h10
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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), está sendo pressionado por aliados e deputados da base do presidente Jair Bolsonaro (PSL) a encampar a proposta do PSL de criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a União Nacional dos Estudantes (UNE).

A entidade é dirigida pelo PCdoB, partido do deputado Orlando Silva (SP), que é aliado de Maia e apoiou sua reeleição.

"Só o presidente da Câmara pode responder sobre CPI. Não sei que tipo de acordo o Maia fez com o Orlando (Silva) antes, mas ele não pautou a CPI da UNE (na legislatura anterior). Não vai faltar assinatura nunca para essa comissão ser instalada agora", disse ao Estado o deputado Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ). Presidente da Frente Parlamentar Evangélica, ele é próximo a Maia.

Cavalcanti, 44 anos, lembra que foi dirigente da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) nos anos 90, quando era do PT e foi "cara-pintada" no movimento pelo impeachment de Fernando Collor. Hoje, porém, ele é crítico a entidade.

Essa não é a primeira vez que surge uma proposta de CPI para investigar convênios firmados pela UNE com o governo federal entre os anos de 2011 e 2014.

Na primeira, em 2016, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ), encampou a proposta, mas seu sucessor, o então presidente interino, Waldir Maranhão (PP-MA), determinou a devolução do requerimento, que tinha reunido mais de 200 assinaturas.

Houve uma nova tentativa, mas, eleito presidente da Câmara, Maia segurou o pedido e evitou constrangimentos com o PCdoB, que apoiou sua eleição.

Caso uma CPI não seja instalada em 120 dias, ela abre espaço para outras numa "fila" controlada pela Mesa Diretora da Câmara. Isso porque, pelo regimento, só podem coexistir cinco CPIs ao mesmo tempo na Câmara.

"Se o Rodrigo Maia bloqueou a CPI da UNE duas vezes no passado, ele pode bloquear de novo agora. A nossa expectativa é que ele faça o correto dessa vez", disse a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).

O pedido de CPI foi apresentado pelo deputado Filipe Barros (PSL-PR), que ainda precisa conseguir a assinatura de 80 deputados para protocolar a solicitação de abertura na Câmara. São necessárias 171 rubricas.

Ainda assim, ele diz esperar que Rodrigo Maia leve em conta a importância do PSL para sua eleição e abra mão do suposto acordo com o PCdoB.

"Na bancada do PSL, através dos 52 deputados, fechamos questão em torno do presidente Rodrigo Maia. Votamos em peso na candidatura dele. E nós sabemos que o PCdoB mal atingiu a cláusula de barreira. Se o PCdoB contribuiu para a eleição do Maia foi uma contribuição mínima perto do PSL", disse.

Segundo o deputado do PSL, no início de janeiro, quando o parlamentar apresentou a ideia de criar esta CPI, Maia teria dito que "tudo é possível através do diálogo".

"Nossa ideia é voltar a falar com o presidente Maia para emplacar esta CPI no primeiro semestre", disse.

Filipe Barros explicou também que os objetivos da CPI são investigar o "aparelhamento da UNE pelos partidos políticos" e a verba destinada à instituição nos últimos anos.

"A UNE detém o monopólio do movimento estudantil, só pode ter a UNE como movimento classista dos estudante. Então a ideia é investigar a ligação íntima dos partidos de esquerda com a UNE. Em segundo lugar, queremos investigar o dinheiro público enviado para a UNE sem licitação, sem prestação de contas e sem transparência, ou seja, a utilização do dinheiro público para fins não sabíveis", explicou

Retaliação. O deputado Orlando Silva, que foi presidente da UNE, disse que não tratou sobre CPI com Rodrigo Maia. "Essa é uma agenda ultrapassada que surgiu agora de novo em um momento de forte polarização política. Vale lembrar que a proposta de CPI da UNE foi articulada por Eduardo Cunha como retalição às posições críticas da entidade. Prefiro não acreditar que o governo eleito vai ter como agenda perseguir os movimentos sociais", disse Silva.

A presidente da UNE, Marianna Dias, lembrou que a primeira tentativa de se criar uma CPI da UNE, foi em 1963, quando o presidente da entidade era o atual senador José Serra (PSDB-SP).

"A gente percebe que esse partido (PSL) tem dificuldade em aceitar o contraditório. Estamos preparados para nos posicionar se a CPI for aberta", disse Dias.

Estadão
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