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A trágica jornada de crianças para fugir do Holocausto

10 jul 2019 - 11h32
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Poucos meses antes de eclodir a Segunda Guerra, milhares de crianças judias foram levadas da Alemanha nazista à Inglaterra. Oitenta anos depois, sobreviventes se reúnem para refazer a viagem dolorosa - e ainda relevante.Ralph Mollerick nunca esquecerá aquele dia frio em dezembro de 1938, quando ele e sua irmã embarcaram num trem em Hamburgo rumo à Inglaterra com poucos pertences, mas muitas perguntas.

"Lembro como se fosse ontem. A primeira coisa que disse à minha irmã foi: 'Onde estão nossos pais?'", conta Mollerick em entrevista à DW.

A irmã dele, então com 17 anos, tentou acalmar os nervos do caçula. Ela explicou que os pais se juntariam a eles na Inglaterra em três meses e, de lá, a família seguiria para os Estados Unidos, com o objetivo de começar uma nova vida.

"Eu sempre pensei neles, e que eles viriam [nos encontrar]", diz Mollerick, que tinha apenas oito anos na época. "Mas eles nunca fizeram isso. Eles não conseguiram."

Mollerick foi uma das 10 mil crianças, a maioria judias, transportadas da Alemanha nazista para a Inglaterra entre dezembro de 1938 e setembro de 1939, num esforço de resgate conhecido como Kindertransport (transporte de crianças, em alemão).

Para lembrar os 80 anos do episódio, Mollerick e vários outros sobreviventes, além de suas famílias, estão refazendo a trágica jornada que milhares de pessoas fizeram e confrontando a história que continua tendo relevância até hoje.

Kindertransport

Depois que Adolf Hitler tomou o poder em 1933, o governo britânico e outras potências ocidentais restringiram a maior parte da migração da Alemanha nazista e de seus territórios ocupados.

Mas o encarceramento em massa de 30 mil judeus, o assassinato de 91 outros e a destruição de milhares de sinagogas e empresas judaicas em 9 de novembro de 1938 - episódio conhecido como a "Noite dos Cristais" (Kristallnacht) - deram indícios aos governos estrangeiros das intenções dos nazistas em relação aos judeus, afirma a Agência Federal para a Educação Política (BPB, em alemão).

Sob pressão de organizações de ajuda humanitária e de um público solidário, o governo britânico levantou prontamente as restrições de visto e de passaporte para crianças judias e para outros menores de 17 anos que estavam sob perseguição.

Contudo, Londres estabeleceu que meios privados deveriam ser usados para financiar o transporte e as acomodações para todos os recém-chegados. Além disso, pais não foram autorizados a acompanhar seus filhos na viagem.

De acordo com os Arquivos Nacionais Britânicos, organizações de ajuda humanitária entraram em ação e, três semanas após a "Noite dos Cristais", tomaram todas as providências necessárias para garantir o transporte.

Os trens começaram a chegar às estações britânicas em dezembro de 1938, embora a maioria das crianças, como Mollerick, não tivesse a menor ideia do que estava reservado a eles após a chegada - ou do destino trágico de seus pais.

"Em 1942, eu recebi um cartão da Cruz Vermelha Internacional afirmando que meus pais 'foram vítimas do Holocausto e que nós lamentamos em dizer que eles foram assassinados'", conta Mollerick. "Foi isso."

Refazendo a jornada

Quase oito décadas já se passaram desde o início da Segunda Guerra na Europa, em setembro de 1939. Com o começo dos conflitos, o Kindertransport foi suspenso.

Todo esse tempo não anestesiou a dor que crianças e suas famílias carregam até hoje, afirma Melissa Hacker, presidente da Associação Kindertransport, uma organização sem fins lucrativos de Nova York que ajuda a reunir refugiados do Holocausto e seus descendentes.

Mas auxiliar uma comunidade de pessoas com o mesmo trauma e continuar a educar outras sobre as tragédias do Holocausto dá um propósito a essa dor, conta Hacker. "Devemos a nós mesmos e ao mundo tentar fazer uma mudança positiva."

É por isso que Hacker, cuja mãe foi uma das crianças transportadas a partir de Viena, sentiu-se motivada a organizar uma viagem especial à Europa nos 80 anos do resgate. Até domingo (14/07), quatro sobreviventes e mais de uma dúzia de familiares relembram suas viagens rumo a um lugar seguro - de Viena para Berlim, passando por Amsterdã e, finalmente, Londres.

Para sobreviventes como Mollerick - que emigrou para os Estados Unidos e trabalhou para a Nasa (a agência espacial americana) -, fazer essa viagem significa que memórias difíceis voltarão à tona.

Mas, com o antissemitismo na Alemanha e na Europa mais uma vez em ascensão, ele considera mais importante do que nunca mostrar aos outros o que sofreu e, assim, aumentar a conscientização.

"É difícil para um pai mandar seus filhos embora como um último presente de amor - essa é a paixão que eu carrego adiante", afirma Mollerick. "É minha tarefa agora ensinar e dizer aos estudantes como era a vida naqueles tempos."

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