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A 'falsa herdeira' de Nova York pode lucrar com série da Netflix? Procuradores defendem que não

Ela se apresentava como Anna Delvey, herdeira alemã de uma fortuna milionária, mas, segundo o gabinete do procurador de Manhattan, Cyrus Vance, seu nome verdadeiro é Anna Sorokin, ela tem 28 anos, nasceu na Rússia e não tem dinheiro algum e enganou a alta sociedade de Nova York.

24 jul 2019 - 11h50
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Anna Sorokin se apresentava como Anna Delvey, herdeira alemã de uma fortuna de 60 milhões de euros, e em pouco tempo conquistou a alta sociedade de Nova York
Anna Sorokin se apresentava como Anna Delvey, herdeira alemã de uma fortuna de 60 milhões de euros, e em pouco tempo conquistou a alta sociedade de Nova York
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Ela ficou famosa como a "falsa herdeira" que enganou a alta sociedade de Nova York, foi condenada à prisão depois de deixar um rastro de golpes e dívidas de milhares de dólares em um caso que ganhou ampla cobertura da imprensa e agora deve virar série da Netflix. Mas procuradores nova-iorquinos tentam impedir que a russa Anna Sorokin lucre com a publicidade em torno de seus crimes.

Em maio, o gabinete da Procuradora-Geral do Estado, Letitia James, entrou com pedido para bloquear o pagamento de US$ 70 mil (cerca de R$ 263 mil) que Sorokin deveria ter recebido no mês passado como parte de um contrato com a Netflix para transformar sua história em uma série - que deve ser produzida por Shonda Rhimes, criadora de sucessos como Grey's Anatomy e Scandal.

Segundo a Procuradoria Geral, esse dinheiro é "lucro proveniente de um crime" e, por isso, deve ser destinado às vítimas. Em resposta ao pedido, a Suprema Corte estadual determinou que os pagamentos a Sorokin relativos a esse contrato sejam interrompidos até que haja decisão final da Justiça.

O tribunal abriu exceção para uma parcela anterior, no valor de US$ 30 mil (cerca de R$ 112 mil), que já havia sido paga e direcionada para cobrir os honorários do advogado Todd Spodek, que defendeu Sorokin em seu julgamento.

Até ser desmascarada, Anna Sorokin levou uma vida luxuosa
Até ser desmascarada, Anna Sorokin levou uma vida luxuosa
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Além dessas duas parcelas totalizando US$ 100 mil (cerca de R$ 376 mil), a adaptação de sua história deveria render a Sorokin outros US$ 15 mil (cerca de R$ 56,4 mil) por episódio como consultora e US$ 7,5 mil (cerca de R$ 28,2 mil) por episódio em royalties. A Procuradoria Geral também quer impedir que Sorokin receba esse dinheiro.

Trajetória de golpes

Sorokin cumpre pena de quatro a 12 anos de prisão em Nova York, após ter sido condenada em abril por diversas acusações, entre elas furto qualificado. Segundo o gabinete do procurador de Manhattan, entre novembro de 2016 e agosto de 2017 Sorokin lesou hotéis, empresas, bancos e amigos em uma série de golpes.

Ela se apresentava como Anna Delvey, uma suposta herdeira alemã de uma fortuna de 60 milhões de euros (cerca de R$ 252 milhões). Até ser desmascarada, levou uma vida luxuosa, morando em hotéis cinco estrelas, viajando em jatos privados e circulando por festas exclusivas frequentadas pela elite nova-iorquina.

Durante seu julgamento, Sorokin chamou a atenção por ter contratado uma estilista e desfilar roupas de grifes como Miu Miu e Yves Saint Laurent. Em pelo menos três ocasiões ela chegou atrasada ao tribunal por não concordar com as roupas que recebeu para vestir.

Anna Sorokin (à direita) morava em hotéis cinco estrelas, frequentava festas exclusivas, viajava em jatos privados e distribuía gorjetas de US$ 100
Anna Sorokin (à direita) morava em hotéis cinco estrelas, frequentava festas exclusivas, viajava em jatos privados e distribuía gorjetas de US$ 100
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Além da pena de prisão, Sorokin foi condenada a pagar restituição de US$ 198.956,19 (o equivalente a R$ 748.373,70) às vítimas de seus golpes. Entre elas estão hotéis de luxo, uma empresa que aluga jatos privados e o banco City National Bank, onde Sorokin usou extratos e documentos bancários falsos para conseguir empréstimo de US$ 100 mil (cerca de R$ 376 mil).

O pedido da Procuradoria Geral de Nova York para que o dinheiro que Sorokin ganhar com a série da Netflix vá para as vítimas é baseado em uma lei de 1977, batizada de "Son of Sam" (Filho de Sam), em referência ao apelido do serial killer David Berkowitz, que matou seis pessoas e ganhou notoriedade com a intensa cobertura sobre seu caso nos anos 1970.

Conforme a lei, o dinheiro que o autor de um crime ganhe pela venda dos direitos sobre sua história deve ficar retido até que a Justiça decida se o criminoso deve dinheiro a vítimas.

Terceiros podem lucrar?

Em entrevista ao jornal The New York Times, Sorokin disse, da prisão, que sempre planejou pagar seus credores e que não fez nada de errado
Em entrevista ao jornal The New York Times, Sorokin disse, da prisão, que sempre planejou pagar seus credores e que não fez nada de errado
Foto: Reuters / BBC News Brasil

A lei se aplica somente ao autor dos crimes, e não impede que outras pessoas possam lucrar com a história.

A trajetória de Sorokin continua gerando atenção. Nesta terça-feira, uma amiga que diz ter sido lesada por ela, Rachel DeLoache Williams, lançou o livro My Friend Anna: The True Story of a Fake Heiress ("Minha Amiga Anna: A Verdadeira História de uma Falsa Herdeira", em tradução livre).

Williams conta que foi convidada por Sorokin para uma viagem ao Marrocos com todas as despesas pagas. Mas ao chegarem ao destino, Sorokin disse que seu cartão havia sido recusado e pediu que Williams usasse o dela.

O nome verdadeiro de Anna Delvey é Anna Sorokin; ela tem 28 anos, nasceu na Rússia e não tem dinheiro algum
O nome verdadeiro de Anna Delvey é Anna Sorokin; ela tem 28 anos, nasceu na Rússia e não tem dinheiro algum
Foto: BFA / BBC News Brasil

A amiga afirma que acabou pagando uma conta de mais de US$ 62 mil (cerca de R$ 233 mil), incluindo o aluguel de uma vila de luxo com piscina privada e mordomo, e não foi reembolsada por Sorokin. Williams testemunhou no julgamento, mas Sorokin foi absolvida dessa acusação.

Em entrevista ao jornal The New York Times concedida em maio, da prisão, Sorokin disse que sempre planejou pagar seus credores e que não fez nada de errado.

Quando deixar a prisão, ela deve ser deportada para a Alemanha.

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