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Uma mulher negra jamais poderá agir como a Bruna Griphao no BBB

Atriz recebe adjetivos de empoderamento, enquanto Tina, por menos, era taxada de agressiva

27 fev 2023 - 14h10
(atualizado às 14h12)
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Bruna grita, xinga, caça treta, insulta, coloca dedo na cara e, nem de longe, é alvo dos comentários sofridos por Tina
Bruna grita, xinga, caça treta, insulta, coloca dedo na cara e, nem de longe, é alvo dos comentários sofridos por Tina
Foto: Reprodução/Instagram

É chover no molhado falar que as pessoas têm muito mais empatia com a galera branca do que com a galera preta. Acredito que o senso de interpretação da grande maioria do público de reality já está totalmente absorvido pelo ideal branco. Isso vem ficando cada vez mais latente nesta edição. Essa questão vai além da galera ver bondade em Fop e Cristian, e não no Fred Nicácio. Ela perpassa pela porcentagem que a Paula foi eliminada, comparada com a do Cris, e hoje fica ainda mais latente quando observamos como ninguém rotula a Bruna da mesma forma que fizeram com a Tina.

Tina é uma mulher preta, angolana, linda e, aparentemente, as pessoas não sabem lidar com pessoas negras seguras, assertivas e diretas. Por esse motivo que a angolana foi eliminada em seu primeiro paredão, sendo colocada na berlinda com justificativas bem duvidosas, que questionavam a altivez da participante. Na real, a galera está acostumada com preto em local de subserviência. Todo preto que foge disso causa estranheza e rapidamente essa estranheza causa rejeição, principalmente em programas como Big Brother. Para essa galera, a pessoa negra tem sempre que estar pagando de simpatia, qualquer movimento dela que quebre a expectativa de cordialidade causa espanto.

Foi assim quando ela negou de forma veemente o pedido do Cezar Black pela suas laces, ou quando ela rejeitou o abraço do cowboy momentos depois dele ter indicado ela ao paredão e se repetiu quando ela cobrou, no jogo da discórdia, Cara de Sapato uma resposta que ele enrolou para dar. Coisas como essas transformaram a Tina em pedante, arrogante, grossa e etc.

Por outro lado, vemos o público muito permissivo com o comportamento da Bruna. Comportamento esse, que para ser bem justo, só foi levantado para tentar defender um homem branco que tinha um péssimo comportamento com a atriz - e que poucas vezes foi falado depois da eliminação dele.

A Bruna grita, xinga, caça treta, insulta, coloca dedo na cara e, nem de longe, é alvo dos comentários sofridos por Tina. Nesta segunda-feira (27), durante uma briga com o Alface, ela estava gesticulando de forma tão acentuada que atingiu a Amanda e isso levantou uma possível expulsão dela. O mais interessante dessa treta é que ela manda o Alface se tratar e a galera acha tudo de boa, mas quando o Cézar Black fez algo parecido com o próprio Alface a casa veio abaixo e a Bruna foi a primeira a condenar a fala do Black.

Alguns ainda dizem que o temperamento da Bruna é parecido com o da Tina para falar que ambas sofrem interpretações distintas. Na minha leitura, nem se compara. Se a Tina tivesse metade dos comportamentos da Bruna, ela já estava sendo vista, mal comparando, com uma Karol Conka. Uma proporção menor, mas algo aí nesse sentido. A Tina não levantava a voz da forma que a Bruna levanta, a Tina não insultava ninguém, não chamava os outros de babaca, psicopata ou coisas nesse sentido.

As pessoas enaltecem a Bruna por seus comportamentos. Nas redes sociais podemos ver ela sendo chamada de grandona sem medo, que vai pra cima mesmo, não deita para ninguém e outros termos que enaltecem as posturas questionáveis da participante. Isso ocorre, pelo menos na minha leitura, pois o fenótipo dela, mulher, branca, loira e não periférica, é o que a sociedade lê como a princesinha, e a princesinha não é agressiva e nem equivocada, muito pelo contrário, ela é assertiva e merece aplausos por ser desse jeito e subverter a lógica patriarcal.

O que, muitas vezes, não cabe para as mulheres negras, já que essas nunca foram colocadas no lugar de princesinha, tão pouco aplaudidas ao subverter a lógica racista/machistas da sociedade. Para essas, o que tem são as caixinhas impostas pelo sistema, que negam sua subjetividade e estão sempre buscando rotulá-las de algo, limitando assim, as infinitas possibilidades de ser.

Fonte: Redação Nós
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