Script = https://s1.trrsf.com/update-1754487910/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Privilégio branco de poder correr atrás de um ônibus

Esposo, trabalhador e cristão, porém negro, é morto por PM e família ainda verá o assassino responder em liberdade

10 jul 2025 - 13h57
Compartilhar
Exibir comentários
Guilherme Dias Santos Ferreira, foi assassinado de uma forma que, no Brasil, quem morre são jovens negros.
Guilherme Dias Santos Ferreira, foi assassinado de uma forma que, no Brasil, quem morre são jovens negros.
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Muitas vezes quem produz conteúdo sobre raça fica na berlinda quando a classe é apresentada. Não por nada, mas porque algumas pessoas tentam incansavelmente mitigar na questão de classe e colocar a raça como algo menor. Algumas delas pegam exageros pontuais de alguns para exclamar que o identitarismo é o problema da esquerda. Isso dito essa é a triste historia de um jovem negro que morreu apenas por ser negro. Eu estou dizendo com tranquilidade que uma pessoa branca nesse contexto não seria morta. Guilherme Dias dos Santos foi assassinado de uma forma que, no Brasil, quem morre são jovens negros.

Para quem não entendeu essa história aconteceu nessa semana onde um policial foi assaltado, mas os bandidos fugiram deixando a moto roubada para trás. Passou um tempo do ocorrido e Guilherme mais três amigos passaram perto do acontecido correndo tentando alcançar um ônibus, o PM que acabara de sofrer a tentativa de assalto, viu ele correndo e achou por bem atirar na cabeça do jovem. Isso mesmo, o assassino achou que os bandidos tinham voltado para ao lado de onde largaram a moto para pegar um ônibus e ir para casa. A moto do policia ainda estava no chão e ele achou que os bandidos voltaram para pegar um ônibus. A certeza da impunidade dos policiais militares é tão grande que eles sequer usam a lógica para poder tomar uma decisão.

O assassino se chama Fábio Anderson Pereira de Almeida, que chegou a ser reprovado em um psicoteste, e não está preso. Pagou uma fiança baixíssima, foi liberado e segue trabalhando pela polícia militar no setor administrativo. Ele não está preso, ele não foi afastado sem remuneração, ele está trabalhando pelo estado, recebendo pelo estado, enquanto aguarda ser julgado. Outra coisa absurda é que policiais militares podem ser julgados apenas pela justiça militar, um local que, talvez, haja corporativismo, sobretudo se tratando de um jovem negro e pobre, que é exatamente aquela parcela da popualção que mais é assassinada e a sociedade age como não fosse nada.

Existem certos comportamentos que a polícia militar proíbe pessoas negras de fazer. Já teve gente morrendo por causa de guarda-chuva, máquina de furar e saco de pipoca. Uns confundidos com armas e outro com sacola de droga. Aí acontece a metamorfose que só o racismo consegue exercer na cabeça da população brasileira. Pessoas negras têm a capacidade de transformar objetos, além de conseguirem fazer as pessoas verem um movimento comum e acharem que é algo totalmente diferente, como se fosse hipnose. Nos casos acima nitidamente o guarda-chuva se transformou em um fuzil, assim como um jovem correndo para pegar seu ônibus virou um ladrão.

Fica muito fácil notar como a população negra não tem o direito de ir e vir sem pensar em como se portar e o que portar. Um cidadão como Guilherme jamais seria vitima de uma assassinato como esse se sua pele não fosse negra e isso o fizesse ser tratado como um “não cidadão”. Não a absurdo em falar que o princípio da presunção de inocência não se aplica a maioria dos corpos negros no Brasil. Com o avanço da direita e do conservadorismo, crimes como esses e impunidades como essas serão ainda mais comuns. O atual governador de São Paulo, e nome forte para se candidatar a presidência da república, disse que não existe combate ao crime sem efeito colateral. Enquanto nossa sociedade não se convencer que o racismo tira vidas e começar a ter um olhar mais criticos aos corpos negros empilhados por ações da policia militar, outros Guilhermes seráo soltos e seus algozes seguiram recebendo pelo estado que deveria protegê-lo.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais há dez anos e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade.
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade