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Nem pele clara e fama impede o negro do olhar de desconfiança

Amaury Lorenzzo é impedido de embarcar em aeroporto no Rio

12 jan 2024 - 18h05
(atualizado às 18h27)
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"Deve ser meu cabelo, minha pele", disse Amaury Lorenzo
"Deve ser meu cabelo, minha pele", disse Amaury Lorenzo
Foto: Mais Novela

No ar na novela Terra e Paixão, da Rede Globo, e vencedor do prêmio de ator revelação dos Melhores do Ano de 2023, o ator Amaury Lorenzzo não conseguiu embarcar no aeroporto Galeão, no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (12).

Ele mesmo se filmou, descalço, e disse que estava “preso”, no vídeo, o ator disse ainda que estão desconfiando que levando alguma coisa e se questiona se é pelo cabelo ou pela cor da pele. Por fim, a estrela global lamenta o ocorrido.

Gente, isso me atravessou muito. Muito mesmo. Eu ainda não falei na página, mas na semana que vem irei fazer minha primeira viagem internacional e a segunda vez que andarei de avião depois de mais de dez anos. É a realização de um sonho que a internet e a produção de conteúdo no Terra e no Instagram me possibilitou. 

A fala do Amaury tem muito a ver com o que passei nessa semana. Eu estava com a barba e o cabelo grande e as pessoas que vão comigo me alertaram sobre o perigo de viajar assim. Ontem eu cortei o cabelo na máquina dois e deixei a barba com menos de um dedo. E essa situação vexaminosa com Amaury só me fez ter a certeza de que fiz a coisa certa. Se ele, que tem a pele clara, não tem os traços como os meus, está em horário nobre na maior emissora do país, e com um destino que, talvez, nem seja internacional, está passando por isso, o que dirás eu?

Barba e cabelo não foram as únicas precauções que tive que tomar. Pude observar o abismo que há entre pessoas negras e brancas também na hora de fazer uma viagem internacional. Eu corri para alguns médicos e pedi receitas de remédios, mesmo os que não precisam de receita, para que não tenha problemas no embarque. Todos os médicos brancos falaram que isso era besteira, que nunca ninguém pede receita, que era exagero meu e etc., o único médico que encorajou a fazer isso mesmo foi o médico negro. Não é coincidência, sabe? 

Tiveram outros cuidados que tomamos já que somos um grupo de negro e negras, como por exemplo, pensar por qual país entrar, levar todo roteiro escrito, inclusive, os lugares que pretendemos visitar, em quais dias e coisas como: “ao chegar iremos direto ao supermercado para comprar alimentos”. Tudo isso escrito em mais de um idioma.

Para muitos a única preocupação é ter dinheiro, para outros é disponibilidade, para quem é preto tudo é motivo de receio. Esse é um pequeno exemplo que deixa claro como nossos corpos nunca são vistos como inocentes. Por vezes ainda recorremos às roupas e acessórios para tentarmos não ser alvo, mas isso não atenua os olhares mais atentos sobre nossos corpos.

Quando fui ver o post sobre o assunto, vi vários brancos dizendo que isso é normal, que já viu várias pessoas passando por isso, aí eu te pergunto: Quantos desses eram atores globais premiados? Quantos desses são deputados? Ou já esquecemos o que o Renato Freitas já passou também? O fato é que toda minha preocupação, que muitos brancos fizeram chacota, só foi ratificada nesse caso do Amaury. 

Já estaria ansioso por estar realizando um sonho, mas estou dez vezes pior, sem dormir direito há uma semana e roendo unhas e mais unhas, com medo de passar por situações como essa e perder um investimento de vida. Ser impedido de voar, ficar preso na imigração e outras dezenas de nuances que podem acontecer oriundas do racismo. Sempre terão pessoas passando pano para certas situações na tentativa de mitigar o racismo, poucas são aquelas dispostas a encarar os problemas e lutar para que todas as pessoas tenham o direito de ir e vir assegurados de forma justa e igualitária.

Fonte: Redação Nós
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