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Narrador e cameraman, pai transmite jogos da filha na base

Vilson Mayrink fez transmissão ao vivo das partidas do Brasileiro Feminino Sub-17 nas redes sociais

16 mai 2022 - 23h29
(atualizado em 17/5/2022 às 05h00)
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"Algumas coisas nascem de insatisfações", define Vilson Maylink, pai de Fernanda, ou Nanda como é chamada, goleira do time sub-17 do São Paulo, para explicar o motivo de se tornar narrador e cameraman das partidas do Brasileirão sub-17 2022.

Em abril, quando começou a competição, ele viajou de Minas Gerais para São Paulo para prestigiar a filha, e quando chegou para assistir à abertura, entre Ferroviária e Atlético-MG, descobriu que não haveria transmissão dos jogos. "Nem as pessoas sabiam que teriam os jogos na cidade", diz.

Vilson filma e narra os jogos
Vilson filma e narra os jogos
Foto: Arquivo pessoal

Decepcionado com a situação, Vilson não ficou parado. Pegou seu celular, abriu o Instagram pessoal e decidiu transmitir ao vivo a disputa. E não parou por aí. “Se eu vou transmitir o do Atlético, então eu vou é transmitir todos", e assim deu sequência exibindo diversos jogos da competição, inclusive o da filha, contra o Flamengo.

Mas as transmissões vão muito além de apenas mostrar as imagens das partidas. Vilson conquistou seguidores ao fazer comentários sobre os lances das jogadoras e, como um bom repórter, realiza a apuração de informações como escalações das equipes e tempo de intervalo. Isento, ele se preocupa em detalhar as jogadas das atletas dos dois clubes e cita os números nas camisas, para que os familiares possam identificá-las. 

O trabalho, claro, gerou elogios. “Teve gente de Rondônia, do Maranhão, que começou a agradecer e me senti responsável por todas aquelas meninas que estavam ali sem projeção, mas que queriam ver um lance delas gravado", explica.

Substituto das transmissões oficiais

Em 2021, a Eleven Sports, plataforma de streaming que transmite partidas de futebol sob demanda, foi o responsável pela exibição do campeonato Sub-17, mas neste ano a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informou que as transmissões ficaram a cargo dos clubes, que não confirmaram as exibições. 

“Eu vejo como um certo desleixo tanto das equipes, que acho que elas têm poder para estarem trabalhando (nas exibições) e muito mais por um lado, infelizmente, de uma obrigação de ter que ter um time feminino. É um retrocesso nesse momento em que a gente pensou que seria um expoente e não, as coisas voltaram”, lamenta Vilson.

Vilson Mayrink faz transmissão ao vivo das partidas do Brasileiro Feminino Sub-17 nas redes sociais
Vilson Mayrink faz transmissão ao vivo das partidas do Brasileiro Feminino Sub-17 nas redes sociais
Foto: Arquivo pessoal

Mesmo com a falta de apoio e sem experiência, Vilson se tornou um expoente da narração. Comentários como “obrigada pela transmissão, foi demais!”, “Vilson, você é o herói das torcidas”, “obrigada por transmitir o jogo da minha filha da Ferroviária”, preenchem as redes sociais do pai, que nem imaginava o impacto que poderia causar, ou o número que pessoas de diversos estados do Brasil que alcançaria somente com um vídeo no celular.

Em razão do custo que precisa subsidiar para a continuidade dos treinos da filha e por não ser algo que lhe traz sustento, Vilson tem dificuldade de ampliar o nível das transmissões, mas garante que não vai medir esforços para melhorar ainda mais o elo que construiu para amenizar a saudade da famílias e aproximá-las das atletas.

Vilson, assim como muitos amantes do futebol, espera que os próximos jogos da base feminina tenham transmissões oficiais, que ajudem a evidenciar os talentos e incentivem mais meninas a começarem a jogar. Ele também enfatiza a atenção, suporte e assistência que as jogadoras necessitam e lança um questionamento para todos os envolvidos com o futebol feminino.

"A pergunta que deve ser feita é: O que eu, que estou no meio do futebol feminino, posso fazer para melhorar esse meio? Será que eu tenho me preocupado só com a minha equipe? Será que eu tenho me preocupado em transformar pessoas? Porque essas meninas precisam de muito mais que só correr atrás de bola. Elas precisam de colo, carinho, formação, precisam ser ouvidas”, finaliza.

Papo de Mina
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