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Deficiência é poder para o mago do fliperama

Tommy Walker, "surdo, mudo e cego", personagem central da ópera rock de 1969 da banda The Who, é um mito destruído pela própria seita. Alimentamos o imaginário dos paladinos da inclusão e das pessoas com deficência, bajulados principalmente por meio e por causa das redes sociais, mas é tudo ilusão.

17 ago 2025 - 12h27
(atualizado às 12h51)
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Nós, defensores da representatividade e da inclusão da população com deficiência, muitas vezes acreditamos em nossa ousadia disruptiva e na ideia de estarmos criando algo ainda inexistente, sem referências anteriores, quando, na verdade, há tantas abordagens para observar e fazer pensar, independentemente de nossa opinião a respeito de percepções ultrapassadas e até preconceituosas, capacitistas (quando essa palavra sequer fazia parte do vocabulário).

Ligo o rádio da cozinha para musicar o café da manhã deste domingo, 17, sou abraçado pelos primeiros acordes 'purcellianos' de 'Pimball Wizard', da banda inglesa 'The Who', lembro de Tommy Walker e da primeira vez em que vi o filme inteiro, ainda criança, em algum programa de TV ou exibição especial lá pelos anos 1980. Já havia recebido, também pela televisão, o impacto de 'Jesus Cristo Superstar' e, em pouca idade, começava a construir uma predileção por esse tipo de espetáculo sonoro.

Acreditei totalmente nas deficiências de Tommy e em seu olhar vazio, entendia que aquele seria o semblante de quem não enxerga. Muito depois, adolescente, passeando por lojas de discos em Santos (SP), percebi minha inocência e ignorância, e descobri finalmente o tamanho da voz de Roger Daltrey, que não tem deficiência visual.

Tommy fica "surdo, mudo e cego" aos sete anos, por consequência de um trauma, conforme a história criada por Pete Townshend, ao testemunhar por um espelho o assassinato do próprio pai, o Capitão Walker, e ser induzido a acreditar que não viu nem ouviu nada, e não falar sobre o crime.

O filme completo está disponível em vários canais do YouTube, tem fita VHS e edição blue-ray 4k à venda na Amazon. É algo para assistir com mente aberta e livre de julgamentos, principalmente nos tempos atuais, de superficialidades, conteúdos reduzidos a 60 segundos e opiniões sem estrutura.

A base da história de 'Pimball Wizard' é a observação do narrador, um campeão de fliperama vencido pelo menino com deficiência que usa somente as vibrações da máquina para jogar e se tornar o mago. "Eu achava que eu era o rei da mesa das bolas, mas acabo de entregar minha coroa de pinball a ele", diz.

O momento do fliperama transforma Tommy Walker em um mito, líder espiritual com milhares de seguidores (novamente, as referências anteriores mostram que nosso comportamento é uma repetição), mas que sucumbe à própria tirania e à manipulação de seus familiares (outra imagem tão atual para nós). A música de encerramento do longa, 'See Me, Feel Me' (Veja-me, Sinta-me), com Tommy já "curado" de suas deficiências, coloca o protagonista em um jornada de autodescoberta (é absolutamente cinema, como diz o meme).

Você pode até alimentar o imaginário de ser um proprietário da liderança da inclusão, autoridade suprema, bajulada especialmente por meio, e por causa, das redes sociais, o paladino das pessoas com deficiência, o alfa e o ômega da diversidade, primeiro e único nessa luta. Tudo ilusão. Avançar é preciso e possível, mas aprender com o que está ao redor é indispensável, fundamental. O mago "surdo, mudo e cego" do fliperama, e muitas outras personagens, fictícias ou reais, trilharam o caminho que seguimos hoje.

Nenhuma luta será vencida com petulância e, assim como foi o destino de Tommy Walker, o mito será destruído pela seita.

Estadão
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