Viagem de carro elétrico: BMW i5 M60 tem alcance real de 420 km, mas só a 120
Com cavalaria de sobra e bateria de 81 kWh, BMW i5 M60 permite viagens longas, mas sem usufruir totalmente dos 601 cv de potência (442 kW)
Dá para fazer viagem longa com um carrão superpotente de 601 cavalos (442 kW)? Se o carro em questão for o BMW i5 M60 xDrive, dá. Provamos isso na prática, ao rodarmos 1.447 km em estradas paulistas e paranaenses, num roteiro de ida e volta do Guarujá (SP) a Londrina (PR). Mas tem perrengue? Sim – e como!
Começa que a inconstância do computador de bordo provoca a famosa “ansiedade da autonomia”. Como era nossa primeira vez com o BMW i5 M60, não tínhamos um histórico do quanto ele de fato pode rodar em diferentes situações. Para além disso, por mais que a viagem estivesse planejada, um carregador da Shell Recharge falhou duas vezes (na ida e na volta) num ponto crucial da viagem.
Para mostrar como o carrão elétrico alemão se comporta em diferentes condições de uso, decidimos dividir a viagem em trechos, cada um com seu consumo, sua média e seu alcance provável. Um detalhe que chama atenção de cara é a capacidade da bateria: “apenas” 81 kWh para um carro muito potente. O PBEV do Inmetro diz que ele faz 392 km com uma carga de bateria.
Mas quem confia no PBEV se, ao invés de mostrar o consumo do carro elétrico por kWh, ele mostra um bizarro km/l-equivalente (31,3 km/l-e de gasolina na estrada), como se essa informação servisse de alguma coisa para quem viaja de carro elétrico. Bem, sugerimos que o Inmetro use o consumo de 19,3 kWh/100 km ou este nosso número: 5,17 km/kWh. Ou seja: ele roda mais de 5 km a cada quiloWatt-hora consumido. Portanto, seu alcance é de 420 km.
Mas só se não acelerar muito. Para passar dos 400 km de autonomia (uma bateria cheia, a 100%), é preciso rodar na velocidade da rodovia, a 120 km/h no máximo. Uma acelerada mais forte para ultrapassar e lá se vão 10 km de alcance. Duas aceleradas, 20 km. Três, 30. Portanto, apesar de ter nas mãos um carro espetacular, é quase proibido acelerar se a estrada não tiver muitos pontos de carregamento. Era o caso.
TRECHO 1
- Guarujá a Capuava
- Distância: 211 km
- Bateria na saída: 100%
- Bateria na chegada: 50%
- Consumo total: 40,6 kWh
- Consumo médio: 19,2 kWh/100 km
- Média: 5,2 km/kWh
- Alcance provável: 423 km
- Carregamento na chegada: 7,3 kWh
- Custo: zero (BMW)
Mesmo enfrentando a Subida da Serra do Mar, o consumo foi razoável nesse trecho, pois o trânsito estava lento. Por descuido, perdi um ponto de carregamento de 120 kW da Go Electric que seria fundamental para o segundo trecho (Posto Petrobras, km 30,5, Via Anhanguera), por isso tive que receber uma pequena carga no próprio autódromo. Era um carregador da BMW, e aliás todos são iguais: dispõem de apenas 7,4 kW. Durante uma hora obtive 9% de bateria, que salvaria o dia.
TRECHO 2
- Capuava a Rodoserv Star
- Distância: 174 km
- Bateria na saída: 59%
- Bateria na chegada: 18%
- Consumo total: 33,3 kWh
- Consumo médio: 19,1 kWh/100 km
- Média: 5,2 km/kWh
- Alcance provável: 422 km
Com apenas 18% de bateria e 79 km de alcance, segundo o computador de bordo, nossa ideia era dar uma carga total no RodoServ Star da Via Castello Branco, afinal lá tem um carregador de 180 kW da Shell Recharge. Só que ele não se entendeu com o BMW i5. O carro travou o carregamento acusando problema no carregador, que, entretanto, funcionou em todos os outros veículos.
Isso foi tenso e perdi um tempão até entender o que estava acontecendo. Tanto o serviço 0800 da Shell Recharge quanto o da BMW foram bem ruins; nenhum dos dois resolveu o problema. Por causa disso, restava a opção de rodar mais 59 km até o próximo carregador rápido tendo apenas 79 km de alcance.
Coloquei o BMW i5 M60 elétrico no modo de máxima eficiência e segui, sem ar-condicionado e com a velocidade limitada em 90 km/h, sendo ultrapassado por vários caminhões e até por um velho Chevrolet Celta. Não foi culpa do carro; foi culpa da Shell Recharge. Veja nos dados abaixo que, nesse modo, o alcance chegaria a incríveis 836 km. Mas quem aguentaria?
TRECHO 2B - MÁXIMA EFICIÊNCIA* (90 km/h sem ar)
- Capuava a Bizungão III
- Distância: 59 km
- Bateria na saída: 18%
- Bateria na chegada: 11%
- Consumo total: 5,7 kWh
- Consumo médio: 17,4 kWh/100 km
- Média: 10,3 km/kWh
- Alcance provável: 836 km (90 km/h sem ar)
- Carregamento na chegada: 75,07 kWh
- Custo: R$ 300,78 (Volvo)
Para variar, a Volvo salvou a pátria com um eletroposto com dois conectores no Posto Bizungão III, próximo a Avaré (SP). Mas, ao contrário do que diz o aplicativo Eletropostos Volvo, cada ponto entrega apenas 25 kW e não 50 kW. Por causa disso, foi necessária 1h43min para carregar 75 kWh. Ficou caro, passou de R$ 300, mas como reclamar?
TRECHO 3
- Bizungão III a Londrina
- Distância: 288 km
- Bateria na saída: 100%
- Bateria na chegada: 33%
- Consumo total: 54,4 kWh
- Consumo médio: 18,9 kWh/100 km
- Média: 5,3 km/kWh
- Alcance provável: 430 km
No trecho 3, do Bizungão a Londrina, decidimos sentir finalmente a potência do fantástico BMW i5 M60, que acelera de 0 a 100 em apenas 3,8 segundos, tem um equilíbrido primoroso, uma posição de dirigir perfeita, cabine espaçosa e confortável e um navegador bem interessante, que mostra inclusive o nível de bateria que você terá no destino.
Porém, o computador de bordo é traiçoeiro. Ao sair ele indicava 509 km de alcance. Como eram apenas 288 km até Londrina, dava para andar rápido. Mas bastaram uns 30 km acelerando mais forte, à noite, sem trânsito – e também sem exagerar – para que logo o painel indicasse menos de 300 km de alcance. O jeito foi voltar a rodar na velocidade da rodovia SEMPRE. Chegamos em Londrina com sobra.
TRECHO 4
- Londrina a Bizungão III
- Distância: 284 km
- Bateria na saída: 95%
- Bateria na chegada: 25%
- Consumo total: 56,8 kWh
- Consumo médio: 20,0 kWh/100 km
- Média: 5,0 km/kWh
- Alcance provável: 406 km
- Carregamento na chegada: 24,9 kWh
- Custo: R$ 102,06 (Volvo)
Em Londrina, uma grata surpresa. Já existem muitos carregadores rápidos na cidade, inclusive um de 120 kW na BYD Servopa, que usei, pois o da BMW Euro Import era de 7,4 kW. Para além disso, a BYD ainda instalou 20 carregadores gratuitos no Shopping Catuaí, o maior da cidade, sendo 10 deles rápidos, de 30 kW. Usei e abusei.
De Londrina ao Bizungão III o BMW i5 M60 mostrou pela quarta vez na viagem que, rodando na velocidade permitida na estrada, faz pouco mais de 5 km/kWh. Portanto, está comprovado que ele roda 420 km nessas condições.
Acontece que, como era volta de feriadão (Tiradentes), a estrada estava cheia e havia vários carros elétricos – e também híbridos plug-in – disputando um carregador. O dono de um Haval H6 deixou seu carro parado numa vaga de carregador rápido e foi almoçar. O de um BYD King parou na vaga de outro carregador rápido para carregar no lento. Tive que parar na vaga do lento e rezar para o cabo do carregador rápido alcançar o BMW.
Alcançou, mas a carga estava absurdamente lenta. Em uma hora carregou apenas 25 kWh, por isso decidi partir com apenas 50% de bateria e tentar a sorte novamente no eletroposto da Shell Recharge, a 60 km dali. Mas ele falhou miseravelmente outra vez. Então fui no “bico do corvo” até Boituva, rodando normal, mas sem ar-condicionado para economizar.
Nessas condições o consumo foi bem abaixo da média e o i5 M60 xDrive consumiu 12,1 kWh/100 km. Fez ótimos 8,2 km/kWh. Daria para rodar incríveis 666 km, o que demostra como o ar-condicionado consome bateria desse sedã de luxo. Em Boituva há um ótimo carregador EDP de 150 kW da WeCharge – além disso, tem pouca procura e custa apenas R$ 2,20 o quiloWatt-hora.
TRECHO 4B - sem ar-condicionado
- Bizungão a Boituva
- Distância: 127 km
- Bateria na saída: 50%
- Bateria na chegada: 31%
- Consumo total: 15,4 kWh
- Consumo médio: 12,1 kWh/100 km
- Média: 8,2 km/kWh
- Alcance provável: 666 km
- Carregamento na chegada: 57,2 kWh
- Custo: R$ 127,82 (WeCharge EDP)
No último trecho o consumo também melhorou bastante porque havia um enorme congestionamento na Via Anchieta e o carro regenerou muita energia. Por isso, não consideramos esse trecho na média final (nem os dois sem ar-condicionado).
Uma coisa é certa: o conforto e a tecnologia do BMW i5 M60 xDrive foram fundamentais para enfrentar uma viagem longa, muito complicada, com trânsito pesado, congestionamento e, principalmente, com infra-estrutura de carregamento ineficiente e cheia de falhas.
Mas, curiosamente, nenhum dos vários usuários de carro elétrico que conhecemos nas paradas mostrou a mínima intenção de voltar para o carro a combustão. Todos levam na boa as situações de espera quando se trata de um feriadão. Há um código de conduta na formação de filas.
E há até quem faz viagens de 400 km num BYD Dolphin Mini, cujo alcance é de apenas 280 km (PBEV). A pessoa se acostuma com o potencial do carro e perde a “ansiedade da autonomia”.
TRECHO 5 (congestionamento e descida de serra lenta)
- Boituva a Guarujá
- Distância: 288 km
- Bateria na saída: 90%
- Bateria na chegada: 29%
- Consumo total: 49,6 kWh
- Consumo médio: 17,2 kWh/100 km
- Média: 5,8 km/kWh
- Alcance provável: 471 km
Depois de percorrer 1.447 km na estrada (mais uns 120 km nas cidades) com o BMW i5 M60 xDrive e comprovar que ele roda, sim, 420 km, senti pena somente de não poder usufruir totalmente deste carro. O porta-malas ficou muito prejudicado pela colocação do estepe. Mas, como há um buraco para guardar o cabo no fundo do bagageiro, talvez a BMW pudesse pensar em uma solução melhor para o pneu sobressalente.
- Total: 1.447 km
- Consumo real: 19,3 kWh/100 km
- Média geral: 5,17 km/kWh (4 trechos)
- Alcance real: 420 km
O navegador por GPS nativo é excelente, mas também pode melhorar na indicação de pontos de carregamento, pois ele simplesmente ignora vários eletropostos que existem por perto e indica outros que ficam a mais de 200 km de distância.
Tirando esses detalhes, o BMW i5 M60 é um automóvel ótimo para a cidade, com inúmeros mimos e itens de segurança, e muito bom de guiar na estrada, com suspensão preciosa e comportamento direcional impecável, além de acelerações prazerosas, temperadas por um zunido que é música para os ouvidos.
O salgado preço de R$ 794.950 não deve ser o que incomoda nesse carro. O que incomoda é pegar a estrada e não poder dar umas aceleradas. Uma bateria maior, de 90 kWh, já resolveria essa questão e deixaria o BWM i5 M60 anda melhor – a menos que a pessoa queira comprar apenas para rodar em circuitos fechados, o que pode ser o caso de vários clientes da marca alemã.
Siga o Guia do Carro no YouTube