Jogamos: Clair Obscur: Expedition 33 apresenta desafio entre arte e destino
O RPG da Sandfall Interactive demora um pouco para engrenar, mas depois vira uma obra de arte.
Se tem um jogo que começa devagar, mas depois te agarra e não solta mais, esse é Clair Obscur: Expedition 33.
A demo enviada pra gente mostra um título que brinca entre a monotonia e a grandiosidade artística, criando uma experiência que pode te fazer bocejar no começo, mas que te recompensa depois com um sistema de combate envolvente e cenários de tirar o fôlego.
A premissa – lute contra o destino (literalmente)
No universo sombrio de Clair Obscur, o mundo vive sob a sombra de um artista macabro, conhecido apenas como a Artífice (Paintress). Todo ano, ela decide quem deve deixar de existir com um simples risco de pincel — e adivinha quem vai tentar impedir isso? Exato. Você e sua equipe. O clima é pesado e a narrativa carrega um peso existencial que dá uma camada filosófica ao jogo, mas sem ser forçado.
Esse ciclo de destruição se repete há gerações. E toda vez que a Artífice pinta, uma nova Expedição é enviada para detê-la. Nenhuma jamais voltou. Mas a esperança nunca morreu.
Agora, chegou a vez da Expedição 33. Gustave, Lune e Maelle, três guerreiros que partiram da cidade de Lumière, abandonaram suas vidas para embarcar nessa missão suicida. Eles deixaram para trás a segurança de seus lares para encarar os mistérios e terrores do Continente – o domínio da Paintress.
Mas a jornada mal começou e já terminou em tragédia. Um homem misterioso de cabelos brancos surge no caminho, e em um instante, a Expedição é aniquilada. O massacre é total. Gustave sobrevive – mas por pouco.
Agora, ele desperta sozinho, ferido, em um lugar que não reconhece. Não há sinais de seus companheiros. O peso da missão recai sobre ele, mas a pergunta que ecoa em sua mente é inevitável: A Expedição 33 já fracassou? Ou ainda há tempo para mudar o destino traçado pela Paintress?
Porém, aqui vai um aviso: o começo é lento. Tipo, “vou checar o celular no meio da cutscene” lento. Mas calma que melhora — e melhora muito.
Um trio que demora a brilhar
Logo no começo da demo, você controla Gustave, o primeiro membro do time. Ele é o típico protagonista sério, com um jeitão de “tô aqui porque tenho que estar”, mas nada muito marcante de cara. Pouco depois, você encontra Lume, e depois de longas batalhas, Maelle, completando o trio jogável. E aqui vem a primeira crítica: os personagens demoram pra ter carisma. No início, parece que você tá jogando com um trio aleatório de um RPG qualquer, mas conforme a demo avança e você desbloqueia habilidades e vê os laços entre eles crescendo, o jogo começa a ganhar aquele tempero que faltava. Destaque para o relacionamento entre Gustave e Maelle.
E olha, isso leva um tempinho. O começo é meio chato, o combate parece simples demais, e os inimigos iniciais são tão ameaçadores quanto um pão amanhecido. Mas... aguenta firme.
O combate – do tédio ao caos estratégico
Aqui tá o ponto de virada. O sistema de combate em turnos, que de início parece simplório, se transforma quando você desbloqueia novas habilidades. A árvore de skills dá aquele toque estratégico que você sente falta nos primeiros minutos. O jogo começa a te forçar a pensar em posicionamento, timing e uso inteligente das habilidades — especialmente porque os inimigos evoluem junto com você.
No começo, as lutas são até meio frustrantes por serem desbalanceadas — alguns inimigos parecem hitsacks ambulantes enquanto outros te derrubam sem dó. Mas depois de um tempo, o desafio fica justo e até viciante. A demo tem cerca de 2 horas de duração, e na segunda metade você já tá 100% engajado nas batalhas.
Inimigos que crescem junto com o jogador
Se os primeiros encontros são simples demais — quase um tutorial estendido —, logo os inimigos começam a ganhar padrões mais complexos, forçando você a sair do modo automático. A progressão é nítida: o que começa como lutinhas bobas acaba virando um jogo de xadrez em ritmo acelerado.
Mapas pequenos, mas com promessa de algo gigante
A demo não é exatamente um parque de diversões em termos de exploração. O mapa apresentado é compacto, o que limita um pouco o senso de aventura. Mas aí vem a surpresa: perto do final da primeira parte da demo, rola um preview do mapa geral do jogo completo — e ele parece gigantesco.
Se a versão final entregar o que prometeu, podemos esperar um mundo expansivo cheio de segredos e áreas temáticas ricas em detalhes.
Cenários que são pura poesia visual
Agora, se tem algo que Clair Obscur acerta de primeira é a ambientação. Cada cenário parece ter saído direto de um quadro impressionista. A vibe bucólica domina boa parte da demo, com campos abertos, ruínas cobertas de vegetação e caminhos banhados por uma luz suave. Mas o destaque vai pra uma área específica que parece estar submersa — um espetáculo visual que mistura distorções aquáticas e iluminação suave, criando um dos ambientes mais memoráveis.
Os gráficos de Clair Obscur: Expedition 33 são um espetáculo à parte, aproveitando todo o poder da Unreal Engine 5 para entregar um visual detalhado e imersivo. A estética do jogo combina tons sombrios e pinceladas vibrantes, como se cada cena fosse uma obra de arte em movimento. Os efeitos de iluminação e partículas elevam a ambientação, criando paisagens impressionantes que reforçam o tom melancólico da narrativa.
Um detalhe que chama atenção é o realismo dos personagens durante o combate: eles não saem ilesos das lutas. Com o tempo, ferimentos aparecem, roupas se rasgam e sangue escorre, trazendo um peso dramático extra para cada batalha. Pequenos toques como esses fazem toda a diferença na imersão, deixando claro que cada confronto tem consequências visíveis tanto para os protagonistas quanto para o mundo ao redor.
É aquele tipo de jogo que você para no meio do caminho só pra tirar um print.
Otimização
Rodando no meu setup com 32GB de RAM, um Ryzen 7 3800X e uma RTX 3070 Ti, Clair Obscur: Expedition 33 apresentou um desempenho impecável. Mesmo em modo Ultra Wide, o jogo manteve uma fluidez impressionante, sem quedas de FPS ou travamentos, demonstrando que a otimização está muito bem trabalhada. A Unreal Engine 5 brilha aqui não só pelos visuais deslumbrantes, mas também pela eficiência, garantindo texturas detalhadas, efeitos de iluminação refinados e tempos de carregamento rápidos, mesmo em configurações altas. Se essa performance se mantiver na versão final, o jogo já chega com um diferencial importante: ser bonito e bem otimizado ao mesmo tempo, coisa rara nos dias de hoje.
Expectativas
Clair Obscur: Expedition 33 mostra na demo que tem tudo pra ser um RPG memorável, mas ainda precisa de polimento em alguns pontos. O início arrastado pode afastar jogadores mais impacientes, e a falta de carisma inicial dos personagens levanta uma bandeira amarela. Mas, se o jogo completo seguir o caminho de evolução mostrado na demo — com um mapa vasto, inimigos desafiadores e um combate profundo —, podemos estar diante de um dos grandes RPGs do ano.
Se você gosta de jogos que te desafiam a ter paciência antes de te recompensar, Clair Obscur já vale sua atenção. Agora é esperar pra ver se o estúdio vai conseguir transformar essa bela pintura num quadro digno de museu — ou se vai virar só mais uma obra inacabada.