Entrevista com Tee Lopes: o som da vingança em Shinobi
Do legado de Sonic e Tartarugas Ninja ao novo desafio de dar vida musical a uma das séries mais icônicas da SEGA
Quando se fala em música de videogame, o nome Tee Lopes já aparece no radar de qualquer fã. O compositor, que já fez história em Sonic Mania e Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge, agora encara mais um desafio lendário: dar o tom sonoro de Shinobi: Art of Vengeance, o novo capítulo de uma das franquias mais clássicas da SEGA.
Batemos um papo com ele pra entender como foi mergulhar nesse universo ninja, equilibrar homenagem e modernidade, e até descobrir onde entram influências brasileiras nessa mistura. Vamos nessa?
Game On - Tee, você já trabalhou em franquias icônicas como Sonic Mania e Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge. Como foi receber o convite para compor a trilha de Shinobi: Art of Vengeance e entrar em mais uma série lendária?
Tee Lopes - Ser convidado para trabalhar em Shinobi: Art of Vengeance foi surreal, porque eu cresci jogando os originais. É uma das séries lendárias da SEGA, e poder adicionar minha voz a esse legado é um marco pessoal. Também foi incrível colaborar novamente com os magos da Lizardcube.
Game On - O Shinobi original tinha uma identidade musical muito distinta. Como você equilibrou manter essa essência clássica com a criação de algo novo e moderno?
Tee Lopes - Eu preservei o DNA daquela vibração afiada, de ação ninja, mas balanceei isso com produção moderna e novas ideias harmônicas, de forma que o resultado soa familiar e ao mesmo tempo fresco.
Game On - Podemos esperar homenagens diretas às trilhas originais ou você optou por uma abordagem totalmente nova?
Tee Lopes - Existem homenagens sutis, mas a trilha é, em grande parte, nova. Procurei canalizar o espírito dos originais em vez de simplesmente reutilizar temas, já que o jogo traz tantos elementos modernos — do estilo visual às mecânicas, passando pela própria natureza da ação. Seguir esse caminho me pareceu natural.
Game On - Você nasceu em Coimbra. Há alguma influência do seu background cultural, consciente ou inconsciente, que aparece nas suas composições? Alguma influência brasileira?
Tee Lopes - Crescer em Portugal me marcou muito, porque os gostos musicais na Europa são bem ecléticos. Já viver em Newark, em Nova Jersey, me expôs ainda mais à música latina e brasileira, por conta das grandes comunidades sul-americanas por lá. São inspirações enormes que aparecem bem conscientemente nos meus grooves.
Game On - Sua assinatura musical mistura synthwave, funk, jazz e rock. Quais estilos ou instrumentos você priorizou para transmitir o ritmo e a atmosfera de Shinobi?
Tee Lopes - Trabalhei bastante com baixo funkado, texturas atmosféricas e instrumentação inspirada no Japão, mas também uma mistura de eletrônica, heavy metal e elementos orquestrais para as cenas de ação e narrativa. Além disso, a trilha ainda traz influências de hip-hop e do Oriente Médio aqui e ali. É uma trilha bem abrangente.
Game On - Como funciona o seu processo criativo? Você prefere trabalhar a partir de conceitos e artes conceituais ou precisa jogar e experimentar o game em ação para compor?
Tee Lopes - Normalmente começo com artes conceituais e anotações da narrativa. Depois, o gameplay ajuda a refinar o tempo e a energia das músicas. Às vezes componho algo só com base na arte, mas depois mudo ou descarto totalmente se não casar com o ritmo que vemos na tela.
Game On - Pra fechar: além de Shinobi, existe alguma outra franquia clássica com a qual você sonha em trabalhar no futuro?
Tee Lopes - Quem me conhece sabe que eu adoraria compor para um jogo do Mega Man ou do Castlevania. Mas a lista de franquias clássicas com as quais eu gostaria de ser criativo é enorme. Que venham muitos projetos novos (e antigos)!
Encerramento
Conversar com o Tee é como abrir um baú de referências musicais e culturais — ele consegue misturar funk, jazz, eletrônica, hip-hop e até pitadas de brasilidade em uma trilha que mantém a alma ninja de Shinobi viva. O resultado é uma música que não só embala a ação, mas também ajuda a contar a história.
E se depender do entusiasmo dele, essa não será a última vez que vamos ouvir Tee Lopes revisitando ícones da história dos games. Quem sabe o próximo passo não seja mesmo Mega Man ou Castlevania? A gente já fica no hype.