Tomb Raider IV–VI Remastered prova que jogos criticados merecem uma nova chance
Coleção traz melhorias significativas para os três jogos
Nem sempre uma remasterização serve apenas para melhorar gráficos e trazer de volta clássicos adorados pelo público. Em alguns casos, ela se torna uma oportunidade para revisitar títulos que não foram bem recebidos na época, oferecendo uma nova perspectiva para antigos e novos jogadores sem o contexto da época.
Tomb Raider IV–VI Remastered chega com essa proposta, trazendo jogos que dividem opiniões, mas que agora ganham uma nova chance para serem apreciados.
Uma coletânea que resgata a época conturbada do Tomb Raider
Tomb Raider: The Last Revelation, ou apenas Tomb Raider IV, mesmo sendo uma sequência direta, faz parte de uma trilogia apelidada de “darkness trilogy”, que é composta por todos os jogos que vem na nova coletânea remasterizada. A história começa com a Lara ainda criança, acompanhando seu professor e mentor, Werner Von Croy, mas nessa viagem acaba dando tudo errado, e um deles é condenado a um destino cruel.
Após alguns anos, no Egito, Lara está em busca de uma tumba antiga que dizem estar aprisionando o deus egípcio Set. Em sua descoberta, Lara acaba liberando o deus antigo e a história então gira em torno da heroína tentando impedir o apocalipse, enquanto um velho amigo está em busca de impedir o sucesso da nossa protagonista.
Já no Tomb Raider: Chronicles, o quinto jogo da franquia, a história se passa após os eventos do Last Revelation, com a nossa invasora de tumbas tendo um destino incerto. Aqui a história gira em torno dos amigos de Lara relembrando algumas explorações que eram consideradas secretas até aquele momento.
Por fim, em Tomb Raider: The Angel of Darkness a trama tem como base um assassinato no qual Lara está sendo acusada do crime. Nossa protagonista parte em busca de evidências que provem sua inocência, mas no meio disso, a trama se encadeia com um grupo controlado por um alquimista, enquanto Kurtis Trent, o segundo protagonista jogável, também cruza o caminho de Lara em sua aventura.
O patinho feio da franquia
Entre todos os jogos da coleção, Angel of Darkness é o que carrega um certo desprezo por parte dos fãs da franquia. O jogo apresenta a trama mais sombria da saga Tomb Raider e marcou a primeira entrada da série no PlayStation 2. No entanto, sua produção conturbada resultou em um lançamento incompleto, o que culminou na má recepção pela crítica e nas vendas abaixo do esperado. Muitos fãs abandonaram a franquia após esse título, levando a série a só receber um novo jogo em 2006, com Tomb Raider: Legend, que foi o primeiro reboot da série.
Angel of Darkness foi o título que recebeu mais novidades quando comparado aos outros jogos da coleção. Com conteúdos que eram inacabados, como diálogos cortados e fases restauradas, além de mudanças na jogabilidade para Lara e Kurtis Trent.
Apesar das melhorias gráficas serem o grande atrativo da remasterização, as texturas e os modelos de personagens receberam apenas retoques sutis nesse jogo. Ao ativar o modo gráfico retrô, as diferenças tornam-se quase imperceptíveis, transformando a comparação em um verdadeiro jogo dos sete erros.
Um dos destaques dessa versão é a recuperação da dublagem brasileira, que muitos sequer sabiam que existia. O jogo estava previsto para receber localização em 2003, no mesmo ano em que foi lançado, mas com seu fracasso comercial, a editora responsável pela distribuição no Brasil desapareceu do mercado. Apenas em 2008 essa dublagem foi lançada ao público, cinco anos após o lançamento original.
Mesmo com todas essas novidades e a tentativa de aproximar o jogo do que deveria ter sido em seu lançamento lá em 2003, ele permanece bem fraco. Porém, é positivo ver que a Aspyr não o removeu da coleção, preferindo aprimorá-lo de alguma forma em vez de fingir que nunca existiu.
Novas mudanças, mesmos erros
Um dos principais problemas na última coleção era a iluminação ao se jogar com os gráficos modernos, e aqui a situação não é muito diferente. Dentre os três jogos, principalmente em Tomb Raider IV, a iluminação torna-se quase um adversário a ser vencido. Em diversas missões, foi necessário alternar para o modo gráfico antigo para identificar o caminho correto ou localizar alavancas essenciais para o progresso na fase. Por sorte, esse problema se torna inexistente na questão de pegar colecionáveis, já que os três jogos possuem a opção de destacá-los.
Isso acaba tornando o uso do sinalizador algo necessário, porém é uma pena que o item seja limitado. Além disso, durante os combates, a personagem acaba descartando o sinalizador automaticamente, o que pode prejudicar a exploração.
Mesmo com a jogabilidade moderna, o movimento da Lara pode gerar frustração para alguns jogadores. A execução de ações simples, como pular sobre pequenos buracos, muitas vezes se transforma em uma tarefa difícil. A personagem realiza um salto para o alto com os dois braços erguidos, em vez de realizar um pulo direto, obrigando o jogador a pressionar o botão de ação para realizar uma escalada.
Em momentos que exigem, por exemplo, saltar em uma corda, a sensação é de que a personagem se antecipa no movimento e ultrapassa o objetivo, exigindo um posicionamento preciso e uma certa previsão de suas ações. Nessas situações, os controles modernos parecem não se adaptar bem ao design das fases, enquanto a jogabilidade em estilo tanque acaba oferecendo uma experiência mais fluida, especialmente em alguns quebra-cabeças. A impressão que permanece é que, embora a jogabilidade tenha sido modernizada, o level design original não acompanha essa atualização.
O combate também pode causar estranheza para aqueles que nunca jogaram os Tomb Raider clássicos. O jogo não oferece uma mira ou a possibilidade de travar a câmera em inimigos específicos. É necessário centralizar a câmera para que Lara acerte os tiros, fazendo com que o foco então fique fixo automaticamente em algum inimigo. Ao enfrentar vários adversários simultaneamente, acaba sendo um desafio a mais. Apesar disso, com o tempo, é bem fácil de pegar a manha.
Graficamente, Tomb Raider IV e o V dispensam comentários. O trabalho da Aspyr e da Saber em modernizar os jogos sem perder o toque clássico é deslumbrante, tanto nos modelos dos personagens quanto nos cenários. Até mesmo o menu e a tipografia receberam ajustes. Alternar entre os gráficos antigos e modernizados é sempre interessante, demonstrando o cuidado e o respeito na preservação da essência original. Para aqueles que preferem jogar apenas com os gráficos antigos, é possível ativar uma taxa de quadros retrô, simulando a experiência em consoles antigos. Com essa opção desativada, o jogo roda a 60 quadros por segundo.
Durante as cutscenes que introduzem as fases, não há mudanças perceptíveis. Elas permanecem as mesmas, com a proporção clássica 4:3, exceto no caso de Angel of Darkness, que exibe as cenas em tela cheia, porém sem alterações na qualidade visual.
Considerações
Tomb Raider IV–VI Remastered é uma ótima coleção com jogos que entram naquela lista de “ame ou odeie”. Com gráficos atualizados, conteúdos restaurados e boas melhorias na qualidade de vida, mesmo com a jogabilidade moderna sendo truncada e, em algumas ocasiões, pouco funcional, essa edição é, sem sombra de dúvidas, a forma definitiva para reviver esses títulos. Além disso, serve como porta de entrada para novos fãs e é uma aula de como se fazer um remaster.
Tomb Raider IV–VI Remastered está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Switch, Xbox One e Xbox Series X|S
Esta análise foi feita no Xbox Series, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela ID@Xbox.