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Vôlei

Com mazelas no Brasil, jogadores fazem aposta em vôlei árabe

Com nível fraco, mas propostas financeiramente interessantes e muita estabilidade, Oriente Médio atrai brasileiros em meio a crise do vôlei nacional

13 mar 2014 - 08h58
(atualizado às 14h13)
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Carlos Schwanke é um dos brasileiros do vôlei no mundo árabe: dirige o Al Hilal, da Arábia Saudita
Carlos Schwanke é um dos brasileiros do vôlei no mundo árabe: dirige o Al Hilal, da Arábia Saudita
Foto: Divulgação

No final de fevereiro, o Terra publicou uma série de reportagens escancarando as mazelas do vôlei brasileiro, como a falta de patrocínios, as críticas à Rede Globo por não dar visibilidade aos patrocinadores e os problemas de estrutura. A quase falência do RJ Vôlei, atual campeão da Superliga Masculina, é sintomática. Um dos efeitos dessa dificuldade é a migração de talentos brasileiros, e um dos principais destinos é o Oriente Médio, onde muitos deles aceitam propostas financeiramente vistosas para atuar em uma liga esportivamente apagada.

"Faz parte de um reflexo da economia", explica o empresário Rodrigo Canhoto. "Antes, os jogadores saíam do Brasil para jogar na Europa, era o espelho deles. De alguns anos para cá, a Europa teve problemas financeiros, times que não pagam, instabilidade. O mercado árabe começou a atuar com mais força", continua o agente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), um dos principais negociadores de atletas com o mundo árabe. A DM7 Sports, agência da qual é sócio, tem atletas no Catar, Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes.

Giba: falta de respeito e demissão na Arábia
Getty Images
Contratado após cinco meses de negociação, Giba não teve boa passagem pelo mundo árabe. No final de fevereiro, deixou o Al Nasr, dos Emirados Árabes, após apenas três meses. Antes, havia ficado apenas três meses no Taubaté,  dois deles se recuperando de lesão. O caso é polêmico e não foi esclarecido pelo atleta.

Por meio de sua assessoria de imprensa, informou que optou por rescindir o contrato depois de ser vítima de "falta de respeito" por parte do clube árabe. A agência Efe, no entanto, publicou que Giba foi demitido ao final dos três meses de experiência garantidos por contrato. Ele já havia estreado pela equipe, após dez dias se recuperando de problema físico.

O Terra tentou contato com Giba, que não retornou sobre a ida para o Oriente Médio ou sua saída do clube. "Sua forma física e a vontade continuam crescentes, mas os obstáculos fazem Giba, agora, pensar em colocar um ponto final em sua carreira", diz o comunicado distribuído. O atleta ainda não definiu sobre sua aposentadoria e continua fora do País.

Deixaram o País recentemente jogadores jovens, com pouca experiência em clubes profissionais brasileiros e passagens pelas Seleções Brasileiras de base, mas também nomes já conhecidos, com títulos de Superliga no currículo. Inclusive atleta mundialmente consagrados: o ponteiro Giba, campeão olímpico, que teve passagem abreviada e polêmica pelo Catar (veja o quadro). Há inclusive um técnico trabalhando – e com sucesso – no Oriente Médio: Carlos Schwanke, que levou o Al Hilal, da Árabia Saudita, ao título do G.C.C. Championship, campeonato continental.

O lado financeiro pesa em cada decisão de trocar de país. "Com certeza a questão financeira (é determinante), não só pela quantia, mas pela estabilidade que os clubes daqui têm. Tudo isso influencia bastante", admite o levantador Matheus Veloso, ex-São Caetano e atualmente no Al-Gharafa, do Catar. O desejo de vivenciar outra cultura, mesmo dentro de quadra, também ajudou na escolha. O mesmo ocorreu com o oposto Leandrão, que jogou no Pishgaman, do Irã, mas voltou recentemente e está no Taubaté. "Fui pela parte financeira também e para aprender sobre o vôlei oriental. É um vôlei totalmente diferente, mais de defesa", diz.

Segundo Rodrigo Canhoto, há uma preferência dos árabes pelos brasileiros, tidos como mais sociáveis, "mais abertos do que o europeu", e muito talentosos. Os jogadores, por sua vez, perderam o receio de trocar de ares, já que a cultura local já não é vista como supostamente opressora. A troca, na maioria das vezes, compensa. "Eles têm um poderio bem forte em termos financeiros. O nível é bem fraco, e em alguns países só pode ter um estrangeiro por time. Os jogadores lá são bem baixos. Então alguns brasileiros estão preferindo a segurança financeira do que jogar na Europa. Eles preferem ficar tranquilos para trabalhar", diz o empresário.

Nível é baixo, mas está em evolução

Ginásios têm estrutura adequada e são climatizados
Ginásios têm estrutura adequada e são climatizados
Foto: Getty Images

O técnico Carlos Schwanke, assim como todos os atletas entrevistados, faz uma análise do vôlei no mundo árabe com ressalvas: o nível é baixo, mas vem evoluindo, principalmente com a ajuda de estrangeiros. "Em relação a como levamos o voleibol no Brasil, aqui as referências são outras, e quase todos atletas têm outra atividade profissional ou estão estudando ainda", conta o treinador. Ex-assistente de Marcos Pacheco no Cimed, tricampeão da Superliga, ele se diz atraído pela experiência internacional. "Além do mais, foi o mercado que abriu as portas. Temos que trabalhar, mesmo distantes do Brasil".

"O nível do campeonato me surpreendeu", afirma Matheus Veloso, que joga no Al-Gharafa, do Catar. Ele é um dos que atesta a evolução da modalidade, assim como o ponteiro Thiago Sens, campeão da Superliga com o RJX e agora no Al Jazeera, dos Emirados Árabes. "O voleibol com certeza está em um nível abaixo do Brasil, há alguns bons jogadores locais e equipes bem equilibradas. Apenas um estrangeiro é permitido por equipe, e por esse motivo somos muito exigidos", conta.

Leandrão jogou no Irã, mas voltou ao Brasil e está no Taubaté
Leandrão jogou no Irã, mas voltou ao Brasil e está no Taubaté
Foto: Facebook / Reprodução

A estrutura, ao contrário do Brasil, é no geral muito boa, já que as altas temperaturas em parte do ano exigem boa aclimatação. Os jogadores inclusive são muito orientados na questão da hidratação, segundo Matheus. O público, no entanto, não demonstra grande interesse pelo que acontecesse no dia-a-dia da modalidade. "O vôlei da Ásia cresceu muito, e o pessoal busca os melhores lugares para jogar. Sempre procuram experiências melhores e diferentes. É como no futebol, quando um jogador tenta aprender novos estilos para jogar", explica Leandrão.

O oposto do Taubaté ficou duas temporadas fora do Brasil, atuando por Al-Ahly, do Catar, além do Pishgaman. Apesar disso, voltou ao País, para os mesmos problemas. "Decidi voltar porque estava com saudades da minha família. Meu filho nasceu agora, ele está com um ano. E o vôlei do Brasil é muito bom. É nossa escola", explica.

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Fonte: Terra
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