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Tênis

Paradas para os jogadores irem ao banheiro desafiam o andamento dos partidas de tênis

Entidades estudam regras para evitar que a interrupção atrapalhe as transmissões de TV e também quem está em quadra

3 set 2019 - 15h11
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O tênis, esporte conhecido por trocas de bolas que são verdadeiros torpedos, saltos na rede e arremessos rápidos, está ficando mais lento pela mais básica das necessidades humanas: a pausa para ir ao banheiro. Com os jogos com frequência extrapolando os 90 minutos, às vezes, um jogador tem realmente de atender ao apelo da natureza durante um set. Mas em muitos casos a pausa faz parte de uma estratégia que tem frustrado as autoridades do tênis ansiosas para que as coisas sejam mais ágeis para os espectadores na arena e na TV menos pacientes.

Na terça-feira Stefanos Tsitsipas deixou a quadra para ir ao banheiro no meio do terceiro set de um jogo de quase quatro horas no US Open. Quando ele saiu, seu oponente, Andrey Rublev, ficou andando de um lado para o outro atrás da linha de fundo. Seis minutos se passaram antes de o jogo ser retomado.

Quando Coco Gauff, 15 anos, e Anastasia Potapova, 18, estavam com sets empatados no jogo da primeira rodada, ambas saíram da quadra para ir ao banheiro durante uma pausa de dois minutos antes do terceiro set.

E duas semanas antes do início do US Open, num jogo no Cincinnati Masters, Nick Kyrgios também fez uma pausa para ir ao banheiro depois de apontada uma penalidade por xingar o árbitro. Ele pegou duas raquetes e saiu da quadra, seguido por um oficial do torneio que acompanha os jogadores na sua ida ao banheiro. Quando estava sob as bancadas, Nick golpeou as raquetes no chão e retornou à quadra. E não entrou no banheiro.

Essas delongas estratégicas do jogo não são novidade no tênis, mas estão piorando. Para frear os abusos flagrantes, a Associação Feminina de Tênis este ano reduziu o número de pausas permitidas para ir ao banheiro de duas para uma.

A pausa, que pode ser usada para o banheiro ou troca de roupa, deve ser no final de um set, a menos que haja uma emergência decidida pelo árbitro. Se os jogadores saem no meio de um set, só podem fazê-lo antes do seu próprio serviço.

Mas embora existam regras determinando quando essa ida ao banheiro é permissível, não há penalidades para os jogadores que passam o tempo fazendo algo que não era o objetivo. Os juízes de linha e outras autoridades escoltam os jogadores aos banheiros, mas não entram com eles no recinto.

E também não há limite de tempo para essa ida ao banheiro - comparado com os cinco minutos permitidos para o caso de lesões - porque não existe uniformidade na distância das quadras dos banheiros.

"A regra é atender a uma necessidade dos jogadores", disse Steve Simon, diretor executivo da WTA. "A finalidade da pausa não é ser estratégica ou para mudar a dinâmica do jogo". Segundo Steve, as pausas vêm causando "atrasos indevidos, o que não é bom para a TV ou para os espectadores que estão assistindo um jogo".

"Toda essa questão implica certa subjetividade. Temos de ser sensíveis aos problemas femininos ou gastrointestinais. Não vamos colocar ninguém numa posição desconfortável", acrescentou. A Associação dos Profissionais do Tênis, que controla os jogos masculinos, segue um protocolo similar, embora os homens possam ir ao banheiro duas vezes durante um jogo de cinco sets. O US Open e outros torneios de Grand Slam, que têm regras próprias, seguem as diretrizes da WTA e da ATP no tocante a esse assunto.

Em um torneio em Lexington, Kentucky este verão, Yuxuan Zhang, que está pouco abaixo dos 200 do ranking, perdeu o primeiro set do seu jogo de quartas de final por 6-1, em apenas 24 minutos. Em vez de se recuperar na sua cadeira na quadra durante a pausa de dois minutos, ela se dirigiu ao banheiro. Retornou 10 minutos depois, dizendo que a toalete era muito distante da quadra. Ela perdeu o segundo set, que durou 33 minutos, por 6-0.

Verena Meliss fez a mesma coisa depois de perder seu primeiro set. E também a britânica Emily Webley Smith. Em nenhuma dessas ocasiões a vencedora do primeiro set deixou a quadra. Claro, estava terrivelmente quente e úmido em Kentucky naquela semana. E algumas jogadoras fizeram pausas para trocar de roupa. Mas depois de menos de meia hora de Jogo?

"Digo a meus jogadores que se estão perdendo o primeiro set por 6-0 devem ir ao banheiro, lavar o rosto, sentar durante alguns minutos e voltar", disse Joseph Sirianni, ex-jogador da ATP que hoje treina vários tenistas australianos. "É uma boa maneira de se recompor e quebrar o ritmo do oponente".

Um oficial do torneio disse que costumava deixar a quadra durante um jogo a pretexto de ir ao banheiro, para ligar para sua mãe e pedir conselho. Outro jogador mencionou um amigo cujo pai levava para ele uma banana quando ele ia ao banheiro. Mas com a banana havia um pedaço de papel com algumas orientações de jogo.

Tais manobras são proibidas em todos os níveis do tênis profissional e Junior. Yanina Wickmayer, semifinalista do US Open em 2009, disse que é um truque comum usar o banheiro para outras finalidades.

Karolina Pliskova, que já foi primeira no ranking, disse que não gosta de "perder tempo" deixando a quadra no meio do jogo. "O que eu quero é jogar. Sei que algumas pessoas usam essa pausa para mudar o jogo ou algo parecido. Talvez se fizesse isto com mais freqüência, venceria mais jogos", disse ela.

Sloane Stephens, campeão do US Open 2017, lembrou de ter disputado um torneio há dois anos em que vários oponentes consecutivos fizeram pausa par ir ao banheiro ou sanar uma lesão."E nenhum deles estava doente ou tendo de ir ao banheiro o tempo todo. Não é assim que as coisas funcionam", disse ele.

Em eventos menores os banheiros mais distantes são um problema para os jogadores que realmente estão necessitados. Madison Brengle, número 78 do ranking, disse que as pausas devem ser permitidas. "Certa vez tive uma intoxicação por comida durante um jogo. E realmente tive de me sentar por cinco minutos porque se não o fizesse iria desmaiar e morrer. Neste caso a regra foi importante", disse ele.

"Nunca usei a pausa para ir ao banheiro", disse Hana Mandlikova, campeã do US Open em 1985. E ela acrescentou que nunca viu jogadoras de alto nível saírem para a toalete, também. "Não quer dizer que estão hoje jogando mais sets do que nós naquela época. Tem a ver com quebrar o ritmo da oponente", disse. "Hoje há muito dinheiro envolvido e todo mundo busca ter uma vantagem competitiva, por menor que seja"./TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Estadão
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