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ATP

Sueco, Lindell critica "radical" CBT e diz que decisão é definitiva

15 jun 2012 - 18h44
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Felipe de Queiroz
Henrique Moretti

Christian Lindell admite que ao anunciar em fevereiro que passaria a jogar pelo Brasil no circuito da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), não imaginaria que quatro meses depois trocaria de nacionalidade, voltando a atuar pela Suécia. O carioca, filho de pai sueco e alvo de uma disputa entre as federações dos países, agora decreta que a última decisão é definitiva: nunca mais defenderá as cores verde e amarela.

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Lindell, 20 anos, é o atual número 433 do ranking e teve como melhor posicionamento o 288º posto em julho de 2011. Considerado uma das principais promessas da modalidade entre as nascidas no País, ele foi repatriado pela Confederação Brasileira de Tênis (CBT) em fevereiro.

Porém, o atleta acabou cortado do Projeto Olímpico Rio 2016, coordenado por Larri Passos com o apoio de Gustavo Kuerten, por não cumprir a determinação de passar a treinar em tempo integral no Tênis do Itamirim Clube de Campo, em Itajaí, onde trabalharia com os ex-tenistas Patrício Arnold e Marcos Daniel.

Conforme explicou ao Terra o gerente de alto rendimento da CBT, Paulo Moriguti, essa era a condição imposta para fazer um bom trabalho e melhorar o rendimento dele.

Em contato telefônico com a reportagem nesta sexta, Lindell afirmou que não existia essa exigência no momento do acordo para integrar o projeto. Nesta quinta, a Federação Sueca de Tênis anunciou que o atleta voltaria a defender o país do pai. A decisão, agora é definitiva.

Dizendo que a entidade da Suécia é bem mais "liberal" e não é "radical" como a CBT, o jovem continuará morando no Rio de Janeiro e espera aumentar o contato com o sueco Julius Demburg, com quem treina há cinco anos - mas a maioria do tempo apenas nos períodos em que viaja para disputar torneios na Europa.

Confira a entrevista exclusiva do Terra com Christian Lindell:

Terra: A CBT diz que treinar em Itajaí era uma condição para ter o apoio do projeto e, como você não queria, acabou excluso. Foi realmente isso que aconteceu?

Christian Lindell: Foi isso mesmo, mas nunca teria mudado para brasileiro se a condição fosse essa antes de assinar contrato. O Guga (Kuerten) e o Bocão (Marcos Vinícius Barbosa, técnico da academia de Larri Passos, em Camboriú) deixaram bem claro que eu podia continuar treinando onde queria, no Rio, e poderia participar do projeto. Quando mudei, o Jorge (Lacerda, presidente da CBT) mudou, o Paulo (Moriguti, gerente de alto rendimento da CBT) mudou. Eu decidi que isso não seria o melhor para mim.

Terra: O Paulo nos disse que a estrutura oferecida em Itajaí era muito boa, com residência, refeição, acompanhamento técnico e físico, fisioterapeuta...

Christian Lindell: Não estou falando que não é bom, não cheguei a conhecer. O motivo é que mesmo jogando como brasileiro eu queria continuar treinando com o Julius, viajando com ele. Se fosse em Itajaí da maneira como trabalha o Patrício (Arnold, coordenador técnico do Itamirim Clube de Campo), não poderia ter contato nenhum com o Julius, não poderia jogar giras na Europa. Estou com ele desde 2007, quando vou para a Europa. Assim eu simplesmente não queria e no Rio eu poderia continuar com ele.

Terra: O Paulo nos disse que você pediu passagens aéreas à CBT para disputar dois futures na Turquia, em março, sem acompanhamento técnico do projeto, o que gerou uma discussão. O que aconteceu?

Christian Lindell: Foi porque não fiz a programação que eles queriam. Isso não era o combinado antes de mudar o combinado. Eu ia treinar onde eu quisesse, se calhar de estar na mesma semana do técnico do projeto (Marcos Daniel ou Patrício Arnold) eu ficaria com ele. Falaram que não iam pagar (a passagem) e eu falei: "vou igual". Paguei, treinei bem para caramba, fiz minha programação com o Julius.

Terra: O Marcos Daniel nos disse que você "teve a chance com que muitos sonham, mas ficou em cima do muro". O que você pode falar sobre a oportunidade oferecida em Itajaí?

Christian Lindell: Acho que posso ter a mesma estrutura de Itajaí, que com certeza é boa - treinei com o Daniel por três semanas, respeito, com certeza deu para ver que é um bom treinador, gostei da experiência. Mas não é o único lugar do mundo. Estou gostando bastante do Tennis Route (academia onde treina no Rio de Janeiro há dois meses), ótima estrutura, preparador físico. Acho que é tão boa quanto (Itajaí) ou melhor. Me sinto mais feliz aqui, não é que desperdicei uma chance.

Terra: O Paulo nos disse que você rejeitou a mudança para Itajaí porque não queria morar longe da família. Ele disse que conversou com você e pediu um "esforço" para pelo menos experimentar o treino em Itajaí, trabalhando por "três, quatro ou seis meses". O que você pode dizer sobre isso?

Christian Lindell: Eu nem cheguei a treinar lá. Viajei três semanas com o Marcos Daniel porque calhou com o Future de Itajaí e o de Florianópolis. Isso de ficar próximo da família pesa, mas o motivo maior foi o Julius.

Terra: E agora você vai continuar morando no Rio de Janeiro ou vai se mudar para a Suécia?

Christian Lindell: Vou continuar no Rio, treinando na mesma academia. Eles (Federação Sueca de Tênis) são mais liberais, sabendo que a relação com o Julius continua em pé, não são tão radicais quanto a CBT. Agora estou indo para a Europa passar cinco semanas com ele, depois venho para cá, fico, depois volto para a Europa com ele.

Terra: O site da Federação Sueca publicou que o recebeu de braços abertos nesse retorno. Como foi a reaproximação com a Suécia e quando ela aconteceu? Eles exigiram alguma segurança maior de que agora você realmente não pensará em voltar a defender o Brasil?

Christian Lindell: Faz mais ou menos um mês. A atitude deles me surpreendeu muito. Eles poderiam ter pensado: 'po, sou sueco, mudo para brasileiro'. Poderiam ter ficado p..., dizerem: 'fica por lá mesmo, não estou nem aí'. Mas ficaram sabendo o que a CBT fez e falaram: 'vamos tentar trazer de volta'. Mantive contato com o (Thomas) Enqvist (capitão sueco da Copa Davis), continuo tendo agora. Entendo o Enqvist ter ficado decepcionado (antes), agora está feliz. Eles foram bastante profissionais e sabem que a decisão agora é definitiva. Não tem mais volta atrás.

Terra: O Marcos Daniel também nos disse que seu pai sueco, Lars, não é uma pessoa do ramo do tênis, quer ser seu manager e está atrapalhando a sua carreira. O que você pode falar sobre isso?

Christian Lindell: Ele pode falar o que quiser, tem a opinião dele, não vou entrar em conflito. Meu pai só me ajuda. Tenho certeza que meu pai só me ajudou.

Terra: Olhando para trás, você acha que tomou uma atitude precipitada ao anunciar, em fevereiro, que se sentia 'muito mais brasileiro' e que a decisão de jogar pelo Brasil era a melhor? Isso gerou muitas expectativas porque você era visto como uma grande promessa.

Christian Lindell: Não foi precipitado porque a decisão se fosse como estava combinado seria muito boa, do jeito que ia ser não ia dar certo. De maneira alguma eu ia entrar no projeto se falassem o seguinte: 'para participar você vai ter que morar em Itajaí, seguir a nossa programação, o nosso calendário'. Se fosse assim eu nunca iria mudar para brasileiro, por isso que mudei. Quando os caras mudam isso não existe, depois de um mês não recebi mais nada (em termos de apoio). Estou jogando pelo Brasil desde fevereiro, em março, abril e maio não me ajudaram nada. Infelizmente quando voltei para brasileiro de maneira alguma cheguei a pensar que ia jogar como sueco. Agora achei que mudando pra sueco ia me ajudar bastante de novo, ter o apoio da federação.

Terra: Como funciona exatamente o apoio da federação sueca?

Christian Lindell: Eles têm uma empresa que ajuda a bancar os custos. A federação paga dinheiro para quem está entre os 500 (do ranking) mais ou menos, tem a Copa Davis que é uma meta para mim, experiência que todo jogador quer.

Terra: A Suécia tem muita tradição no tênis, mas vive um período de vacas magras. No site da federação eles ressaltam que você já é o quarto sueco mais bem ranqueado, parecem apostar bastante em você.

Christian Lindell: É, eles não têm muitos jogadores, então já sou o quarto melhor. Se jogar um pouquinho melhor vou pra segundo ou terceiro e ter a oportunidade de jogar a Davis. Acho que agora estou jogando muito bem de novo. Com certeza a ida para a Turquia me fez trabalhar muito mais na parte física, o trabalho no Rio também tem a ver. Tive uma boa gira agora (acompanhado de Julius no Brasil, Lindell venceu recentemente o Future de Goiânia e foi semifinalista no de Manaus e no de Teresina; desde maio, ele subiu da 509ª para 433ª posição do ranking).

Christian Lindell passou cerca de quatro meses como brasileiro
Christian Lindell passou cerca de quatro meses como brasileiro
Foto: AFP
Fonte: Terra
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