"Muita conversa não funciona": veja frases de Muricy na volta ao São Paulo
Muricy Ramalho foi apresentado nesta terça-feira no São Paulo com a missão de impedir o rebaixamento da equipe para a Série B do Campeonato Brasileiro. Tricampeão nacional pelo clube do Morumbi entre 2006 e 2008, o treinador - que substituiu Paulo Autuori no cargo - concedeu uma longa entrevista aos jornalistas no CCT da Barra Funda.
Confira:
Ressentimento por não ter sido contratado antes?
É simples, não sou o tipo de pessoa que tem mágoa de nada. Às vezes me irrito com um ou outro, posso discutir, mas não tem mágoa. Não tem essa de que na época não fui escolhido e agora iria ficar dodói e pensar que era minha vez de falar não. Isso para mim não existe. Se naquele momento houve o consenso de que era o Paulo, grande treinador, campeão da Libertadores e do mundo... quer mais currículo que esse? Sempre conversei com o Juvenal porque sou amigo dele, mas nunca sem nenhum tipo de mágoa. Naquele momento não era eu o cara, eu entendo isso. Eu me dou bem com as pessoas, não posso ficar toda hora em contato porque sou treinador, é um negócio chato, mas a amizade e a camaradagem sempre aconteciam para perguntar deste ou daquele jogador. O Paulo desenvolveu um trabalho duro e deu sua contribuição.
Trabalho na base da conversa?
A conversa é importante. Ainda não falei com o Paulo Autuori, mas com certeza ele deve ter conversado muito, porque não teve muito tempo de treinamento. Esse trabalho ele fez com os jogadores. Claro que vou conversar com os atletas, mas acho que muita conversa e reunião não funcionam. O jogador de futebol, por incrível que pareça gosta de ser cobrado, e a gente tem que ser cobrado porque está aqui e é pago para isso, com estrutura. Parceiro tudo bem, mas amigo não tem: é cobrança, é profissional. Todo mundo vai ter que abrir mão de alguma coisa, e eu vou ser o cara que cobra. E não é maldade, é uma cobrança profissional que a gente tem que fazer. Não estamos nesse momento de fazer reunião e dizer que está uma maravilha, aqui não está tudo bem. Tem que ganhar jogo, e todo mundo tem que dar um pouco mais.
A gente não pode confundir cobrança com loucura, com coisa radical, que eu não sou. É uma coisa normal, o grupo tem um líder, que é o técnico, e ele tem que cobrar e os jogadores gostam disso. Não sou nenhum maluco, as pessoas pensam que sou assim, mas vou cobrar dentro de uma normalidade.
Rogério Ceni continuará responsável pelas bolas paradas?
Uma coisa muito importante no futebol é o treinamento. O Rogério é esse batedor de faltas que ele se tornou por causa dos treinamentos. Preciso ver os treinamentos, ver como ele está, se estiver bem ele bate sem problema nenhum. O que não existe é não saber quem bate, saiu um escanteio e diz ‘vamos lá’, isso não existe no futebol. Até barreira é treinado. Mas ele põe a cara. E falam dele batendo pênalti e falta, mas ninguém fala do que ele está agarrando, que está muito bem e é o que tem que fazer. Estamos cobrando o Rogério como se fosse um cara de frente, de linha, mas como goleiro ele está muito bem. É o que ele tem que fazer.
Carinho pelo São Paulo permanece?
Claro que existe a coisa do amor pelo clube, nasci aqui, é minha casa, hoje encontrei pessoas que estão aqui há mais de 20 anos, fazem parte do clube. Eu também fiz parte disso, a gente sente alguma coisa a mais, não é só profissional. Tanto que daquela vez durou 1 minuto para assinar contrato e desta vez durou 30 segundos. Porque não briguei por salário, não falei nada, por que na situação de agora eu também tenho que abrir mão de alguma coisa.
Saúde tranquila
A saúde está bem, fiquei esse tempo todo sem fazer nada, tomando cerveja, sem estresse. Como vou ficar doente em Ibiúna? Espero não ficar doente aqui. Quero ficar feliz, e o jeito de ficar feliz é ganhar jogos.
Como se manter no cargo?
Futebol não tem segredo, é resultado. Permaneci três anos e meio aqui porque eu ganhei. Às vezes a gente acha que não dá para trocar o técnico, mas até o próprio técnico se sente aliviado em sair. Eu sei porque as vezes quando me mandam embora eu não fico triste, não. No Brasil não é legal técnico pedir pra sair, mas às vezes acontece: o técnico não consegue resultado e ele mesmo pede para sair. Não existe um clube desses, um dos maiores do mundo, ficar sem ganhar título. Ninguém vai sobreviver aqui. Isso só existe na Inglaterra, aquelas loucuras lá, o cara está há 15 anos no time, há dez sem ganhar título e é um supertécnico.
Estou acostumado a ficar muito tempo nos clubes, o último trabalho foi de dois anos no Santos, onde foi uma passagem muito vitoriosa. Espero ficar no São Paulo também, porque é um clube que me dá condições. Claro que passa por um mau momento, mas a gente pode reverter e fazer um bom trabalho no próximo ano. Tem que saber escolher, e eu sempre escolho bem, embora o momento do São Paulo não seja bom.
Atual fase da equipe atrapalha?
É difícil, a gente percebe que o que mais preocupa é a insegurança de todos, principalmente dos atletas. O clube não está acostumado, ninguém tem esse tipo de experiência aqui dentro, o remédio para sair dessa situação. Não posso me preocupar com todos os problemas que há aqui, tenho que me preocupar é com quinta-feira. Tem que ser uma coisa rápida, e é isso que vamos fazer. Temos que sentir o dia-a-dia, mas acho que temos condições.
Carinho dos são-paulinos
No meu prédio hoje amanheceu um “bem-vindo Muricy”, bandeira do São Paulo, é essa loucura em todos os lugares aonde eu vou. Meus filhos são são-paulinos, um deles esteve na final da Sul-Americana, voltou cheio de faixa no peito, cheio de marra. É um negócio que mexe com a gente, o apoio é importante demais. Mas a torcida está apoiando, e a diretoria está ajudando nisso com o ingresso, foi muito legal. A torcida está dando resposta e nem está chiando muito, a verdade é essa, está suportando. Não dá hoje para ir apara o Morumbi para vaiar, nós precisamos de apoio, e a torcida está apoiando. E nós temos que fazer nossa parte, o jogador tem que sentir que tem esse apoio. É 30 mil, 40 mil na fase em que está, é brincadeira. Acho que com a minha chegada vou trazer bastante gente.
Isso (torcida gritando seu nome no Morumbi) acho que vai ser o mais difícil, vai ser uma emoção monstra, minha sogra vai voltar aos estádios. Ela não perdia nenhum jogo e com certeza vai estar lá, com meus filhos e minha família, que são torcedores do São Paulo.
Muricybol?
Não tem esse negócio, passei dois anos no Santos com o Borges e o Neymar que são desse tamanho, como eu ia levantar bola na área? No São Paulo eu tinha três gigantes na zaga e um cara que batia muito bem na bola que era o Jorge Wagner, então eu tinha que usar o que tinha de melhor. A ligação era quase direta, não tinha um grande meia, o time era aguerrido, marcava pressão... era diferente. Mas como o time foi muito vitorioso, as pessoas confundem. Não pode ser só isso, tem que treinar todos os tipos de fundamento que existem no jogo.
O futebol mudou?
O Tostão tem razão, hoje mudou. Hoje os grandes meias são os volantes, porque todos jogam com dois pontas e um cara enfiado, mais um que vem por trás. Quem arma os times não são os números 10 e 8. Hoje esses volantes marcadores estão acabando também, porque eles têm quem armar o time, que saber jogar. Tem horas que dá para jogar com os dois meias se o outro time não tiver dois laterais que vão muito ao ataque. No São Paulo, a velocidade é importante para o Ganso, para ele meter a bola. Não dá para cravar, mas mundialmente todo mundo joga da mesma maneira, 4-2-3-1, então é difícil jogar com dois meias.
Time de futebol é um todo, os três compartimentos têm que estar juntos, o grande segredo é recuperar a bola principalmente no campo adversário. Mas o mais importante é isso, as linhas estarem juntas. O futebol hoje não permite você não estar junto. Infelizmente não tem tempo, é jogo atrás de jogo.