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Esquecido, ex-parceiro de Neymar lembra "ilusão inglesa" e quer volta

29 out 2012 - 08h01
(atualizado em 29/10/2012 às 12h28)
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Klaus Richmond
Direto de Santos

O garoto que dividia atenções com Neymar nas categorias de base do Santos hoje vive esquecido dentro do próprio clube. Aos 20 anos, sem nunca ter subido aos profissionais, Geovane, ex-parceiro do principal astro santista, admite que "perdeu muito tempo". O meia ainda remói a curta ilusão que acabou como uma decepção na Inglaterra e mesmo sem a força do nome que lhe garantiu o maior salário da base - cerca de R$ 25 mil mensais até novembro de 2014 - promete voltar.

"Perdi muito tempo e, a partir do próximo ano, independente de ser no Santos, ou não, preciso jogar. Quero ajudar o clube, mas se não tiver chances vou sair", afirma. "Tenho convicção que ainda vou virar (jogador profissional)", completa.

A transformação na carreira passou por um "sim". Dois anos antes de o parceiro Neymar negar o gigante Real Madrid, Geovane aceitou o desafio de jogar no Arsenal, com apenas 16 anos. A projeção nunca mais foi a mesma.

"Não posso dizer que fui enganado, mas me iludi pelo fato de ser o Arsenal. As coisas lá me deixavam de boca aberta", confessa. "Não estava preparado (para uma ação judicial), não desejava. Não queria brigar com o Santos", conta.

A ação referida foi o fator-chave para o desvirtuamento. O jovem começou a batalha na Justiça e rumou para Londres. Conheceu o técnico francês Arsène Wenger, de quem diz ter ouvido ter "potencial para ser um dos melhores do mundo", mas precisou ser escondido.

Geovane foi para o Colorado Rapids, clube americano que disputa a Major League Soccer, pelo temor inglês de acusação de aliciamento - na época o Chelsea havia sido punido pela Fifa de transacionar por conduta similar com Gael Kakuta, do Lens. Cansado e isolado, resolveu voltar.

Com o intermédio da DIS, braço esportivo do Grupo Sonda, o pupilo retornou para casa no fim de 2009. Desde então, são três anos na base. "Me perguntam: não é possível que você ainda esteja no Sub-20. Não estou desanimado, mas cansei", confessa, que ainda lamenta uma série de "contusões em horas erradas" e rechaça que influências políticas o atrapalharam no Santos.

Sem o convívio, Geovane confessa já não ter mais a mesma intimidade com Neymar. "Trocamos mensagens, nos falamos, mas não vivemos mais no mesmo mundo". Ele diz ter ouvido do próprio craque que o quer no elenco profissional. Para jogar, entretanto, o antigo parceiro precisará superar o estigma promessa esquecida.

Veja a entrevista com o meia Geovane, ex-parceiro de Neymar na base:

Terra - Quando você precisa explicar a amigos pessoais ou jogadores o que aconteceu com o Geovane, principal promessa do Santos ao lado do Neymar, o que alega?

Geovane - Hoje posso contar que o Geovane está na luta, ainda nas categorias de base do Santos, pelo Sub-20, que tem um contrato longo (até novembro de 2014) e no momento trabalha por uma oportunidade, pois a partir de janeiro não poderá jogar mais nas categorias de base. Estou preocupado em mostrar o meu futebol que de uns tempos para cá está escondido. Ninguém sabe onde eu estou.

Terra - A ida para o Arsenal, em 2008, foi grande divisor de águas na sua carreira, certo?

Geovane - É uma coisa que me deixa chateado. Antes de eu ir para o Arsenal era tudo as mil maravilhas no Santos. Eu jogava, era querido, ia para a Seleção Brasileira. A minha ida prejudicou bastante. Parei de ser convocado para a Seleção, não dei certo lá e ainda briguei com o Santos. É um caso para ser esquecido, mas ainda sofro muito com isso. Hoje vejo que poderia estar no elenco profissional, caminhando, seguindo os passos do Neymar. Ele é um exemplo, por tudo o que vivemos, desde a Seleção juntos, graças a Deus deu tudo certo para ele. Por isso estou pensando 2013, já perdi muito tempo.

Terra - Mas nessa tentativa do Arsenal dá para dizer que você foi iludido ou enganado? Errou mais em ter voltado ou ter ido para lá?

Geovane - Não dá para dizer que fui enganado, mas me iludi um pouco pelo fato de ser o Arsenal e de um clube europeu atrás de mim. As coisas lá me deixaram de boca aberta. A primeira vez que fui (em 2007, para testes) vi um CT maravilhoso e ainda tive contato com um dos melhores treinadores (Arsène Wenger) dizendo que eu tinha potencial para ser um dos melhores do mundo, que gostaria de contar comigo. É um cara ainda que tinha um perfil de criar jogadores, fez isso com o Fàbregas, Van Persie, Wilshere, Walcott e que não se preocupa só em ganhar títulos. Acho que fiquei iludido com várias coisas, a cidade, o país. Fui com o meu pai e os meus antigos procuradores.

Terra - E errou mais em que nessa história?

Geovane - O que mais atrapalhou tanto no Arsenal, quanto no Santos, foi a ação judicial. Não estava preparado, não desejava. Não queria brigar com o Santos na Justiça porque foi o segundo clube que passei após os dois anos no Cruzeiro, me acolheram bem aqui. Tem a questão da outra gestão, com o Marcelo (Teixeira, ex-presidente), com que eu me dava muito bem, mas acredito que a ação judicial me atrapalhou bastante. Claro que quando voltei para o Santos todos esqueceram, mas tem todo o contexto lá trás, que pode pesar. Me atrapalhou muito a questão da ilusão, de ver coisas que nunca havia visto na minha vida. São coisas que quero deixar para trás, esquecer. Preciso focar no Santos, quero aparecer.

Terra - Acha que teve azar? Em seu histórico, você ainda teve uma indisposição na estreia da Copa São Paulo, após marcar um gol relâmpago, e sofreu lesão na única chance em que treinou no profissional, com o Dorival.

Geovane - Ninguém brinca com isso, mas as pessoas me perguntam: "não é possível você ainda estar no Sub-20 do Santos". Não sei dizer o que acontece, sinceramente. Não posso julgar ninguém, falar de ninguém, mas fato é que estou esperando faz tempo.

Terra - E está cansado?

Geovane - Estou me cansando dessa oportunidade até porque o meu tempo está acabando. Por isso eu digo, jogar no Santos, eu quero, mas se não fora a vontade do Santos quero sair. Que me liberem, facilitem para eu jogar.

Terra - O Crystian, por exemplo, é outro da sua geração bastante valorizado e que sofre para se firmar. Acha que o problema é político? Se sente menos do que mais um hoje no clube?

Geovane - Não necessariamente político, mas acontece pelas pessoas que hoje estão no clube. São pessoas totalmente diferentes, que trabalham diferente. Não me sinto menos do que mais um porque tenho o meu valor dentro do Santos. Para um ou para outro posso não ter, mas até pelo contrato que tenho. Muitas coisas mudaram na mudança de gestão. O Crystian está no profissional, chegou a atuar, mas sofreu três lesões musculares. É um jogador extraordinário, mas que teve lesões que o atrapalharam.

Terra - Você acha que deu motivos para desconfiarem de você? Se acomodou?

Geovane - Se eu falar que eu não me dedico vou estar mentindo porque eu me dedico e me considero um bom profissional. Claro que há tempos atrás devem ter ocorrido alguns problemas, atrasos, mas isso há muito tempo atrás, não recentemente. Hoje sou casado, minha mulher está grávida (de oito meses) e tenho bastante responsabilidade. Chego no treino cedo, saio e vou para casa.

Terra - Nesse tempo, você chegou a sair do Santos pela segunda vez, emprestado ao América de Teófilo Otoni, sua cidade. Como foi lá? Jogou? E a volta?

Geovane - Foi bom, era a minha cidade. Foi bom, principalmente, porque fizemos ótima campanha. Nosso time não foi rebaixado e perdemos para o Cruzeiro na semifinal. Fomos bem além das expectativas. Joguei seis jogos, não fui titular, mas tive oportunidades. Me deu um gosto do que é ser profissional. Voltar para o Sub-20 depois me deixou abatido, são departamentos diferentes, pegadas diferentes. Para completar ainda tive as lesões no ombro e na parte anterior da coxa.

Terra - Mas por que sofre tantas lesões?

Geovane - Não sei. Lesões mais sérias eu nunca sofri, mas as minhas contusões quebram qualquer continuidade. Não posso explicar porque são coisas que acontecem, infelizmente comigo aconteceram em horas erradas, que não poderiam ocorrer. São coisas que quero esquecer. Estou recuperado, só quero trabalhar para poder voltar a jogar.

Terra - Quando foi o seu último contato com o Neymar? Se recorda o que conversaram?

Geovane - Foi esse ano, ainda. Vamos constantemente treinar contra o profissional e a gente se encontra. Conversamos muito, damos risada juntos, mas as coisas são diferentes. O Neymar está lá, é o melhor do Brasil, está na Seleção principal, e o Geovane brigando por um espaço, querendo atingir o objetivo de ser profissional. Só sou profissional no contrato.

Terra - A intimidade ainda é a mesma dos 15 anos?

Geovane - Não. A intimidade mudou, com certeza. Existe alguma, às vezes converso com ele por mensagem pelo celular, mas não é a mesma coisa de antes. Não convivemos mais, não temos o mesmo mundo.

Terra - E sente falta dele?

Geovane - Sinto, claro, porque era um amigo meu. Não crescemos juntos, não foi uma amizade de infância, mas o pouco tempo que pude estar com ele no Santos e na Seleção fizemos amizade. Sinto falta também porque penso que hoje poderíamos estar juntos, como teve Neymar, Ganso, André, Robinho, poderia ter o Geovane. Seguimos caminhos diferentes, infelizmente eu fui para um que não deu certo, não fui feliz. Ele seguiu um que está bem até hoje. Por isso quero poder atuar, ter a chance de buscar o meu espaço.

Geovane posa para o Terra, meia espera ter chances na equipe profissional na próxima temporada
Geovane posa para o Terra, meia espera ter chances na equipe profissional na próxima temporada
Foto: Klaus Richmond / K.R.C. DE MELO & CIA. LTDA - ME
Fonte: Terra
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