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1º McDonald's da Rússia é símbolo da abertura do país ao capitalismo

Loja da rede de fast-food americana foi inaugurada em 1990, ainda sob regime comunista, e atrai milhares de clientes

8 jul 2018 - 05h12
(atualizado às 05h12)
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As fotos em branco e preto, exibidas com destaque logo na entrada, atestam que o restaurante do McDonald's da Praça Pushkin, em Moscou, tem o sabor da história em seus lanches. Ele foi o primeiro da rede americana em território russo e um dos símbolos mais importantes da abertura do país ao capitalismo. As imagens mostram filas de russos que dobravam o quarteirão à espera de um lanche, novidade que representava o estilo ocidental de alimentação fast-food.

A loja foi aberta no dia 31 de janeiro de 1990, um ano após a queda do Muro de Berlim e um ano antes do fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Ainda vigorava o regime comunista. Quando foi inaugurada, a loja era a maior do mundo, com 700 assentos nos salões e mais 200 na parte externa. Debaixo de um céu de inverno, quase 5 mil soviéticos se acotovelavam por mais de oito horas atrás de dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão com gergelim.

Os lanches são padronizados mundialmente e não há sabores locais. O comunismo se rendia ao Big Mac.

Os russos fizeram concessões ao capitalismo, mas se mantiveram fiéis à sua cultura. A fachada e o cardápio estão escritos no alfabeto local, o cirílico, e não se vê uma palavra em inglês no recinto. Para pedir um lanche, os estrangeiros que não dominam o russo precisam fazer a mudança do idioma nos painéis de autoatendimento. Só a gerente fala inglês. O Big Mac, o lanche mais popular, custa 114 rublos ou R$ 10. No Brasil, custa cerca de R$ 19.

O gerente Efim Voronov escolheu esta loja para trabalhar por seu pioneirismo. Não foi fácil. Ele começou em 2014 em sua cidade natal, Iaroslavl. Conseguiu uma promoção e ganhou uma transferência, em um cargo superior, para o Casaquistão. Na antiga república soviética, ele foi o responsável pela abertura do primeiro restaurante da rede. Sua carreira em ascensão foi interrompida pelo serviço militar obrigatório. Na volta à rede, teve que começar do zero.

"É importante trabalhar no primeiro restaurante da Rússia. É algo que traz orgulho pessoal e também uma motivação", diz o gerente, que destaca essa informação nos treinamentos dos novos funcionários.

A loja mudou muito ao longo de quase três décadas. Toda a decoração mudou. A presença da loja é tão simbólica que ela ficou no meio de disputas diplomáticas. Em 2014, ficou fechada por quase três meses por violações de saúde e segurança. Os problemas coincidiram com o estremecimento das relações entre a Rússia e os EUA em função da crise na Crimeia. A Rospotrebnadzor, agência de segurança alimentar, informou que as inspeções inesperadas não tinham relação com o impasse político.

Embora seja oficialmente capitalista, com a população integrada aos novos hábitos de consumo, a memória do socialismo está presente no dia a dia. As privatizações, a concorrência de mercado e o consumismo ainda convivem com uma forte presença do Estado. O governo federal dá um imóvel para as famílias numerosas, a partir do terceiro filho. Como a fila é grande, a ajuda pode ser financeira. São 400 mil rublos (R$ 24 mil) que podem ser usados em educação, moradia ou aposentadoria.

Outra herança se refere ao pensamento coletivo. É comum que as famílias aluguem um cômodo da sua casa, em geral um quarto. Isso foi incentivado no socialismo para compartilhar espaço. Hoje, ajuda no rendimento familiar.

Os frequentadores do restaurante pouco se importam com o pioneirismo da loja ou os dilemas entre socialismo e capitalismo. Os amigos Yuri e Andrey sabiam que aquele havia sido o primeiro, mas eles comem no restaurante que está mais perto. A dona de casa Andrina Yliova está mais preocupada com o refrigerante que sua filha acabou de derrubar. "O socialismo deixou algumas lições importantes, mas agora estamos mais abertos para o mundo. A Copa está ajudando a mostrar que a Rússia está integrada e não quer mais ficar separada. Nós éramos um país fechado", afirmou.

Estadão
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