Histórias da São Silvestre
Corrida já foi disputada à noite e é dominada atualmente pelos africanos
O olhar se dividia entre o relógio e a tela da TV. Já era quase meia-noite, já era quase hora de acreditar que no próximo ano tudo seria diferente. Na TV, no último dia de 1980, as passadas largas do garçom José João da Silva invadiam a avenida Paulista para garantir a primeira vitória brasileira desde que a São Silvestre havia se tornado uma prova internacional, em 1947.
Um garçom era campeão e as frestas da democracia se anunciavam, de forma lenta e gradual. Parecia não haver vitória impossível. Desesperar, jamais!
O tempo passou, outras vitórias vieram como a de João da Mata, em 83, e do próprio José João da Silva, em 85. A São Silvestre deixou de ser disputada à noite e houve um novo período de seca brasileira. Até que Ronaldinho da Costa coroou o ano do tetra com uma vitória nas ruas de São Paulo, em 94.
A São Silvestre continua uma festa democrática e bate recorde de inscrições a cada ano. A prova é dominada pelos corredores africanos. Vez ou outra um brasileiro quebra a tradição. O último foi Marílson Gomes da Silva, em 2010.
As últimas sete edições foram disputadas pela manhã e confesso que mal me lembrei de ver a maioria delas. O horário é melhor para os corredores, talvez seja bom para as emissoras de televisão, mas tenho a sensação de que a São Silvestre ficou distante do ano que vai nascer e mais próxima da ressaca do ano que ainda não acabou.